domingo, 19 de março de 2006

Escrito por em 19.3.06 com 0 comentários

Sade

Meu gosto musical foi formado em três etapas. Quando criança, eu só ouvia Xuxa, Fofão e Balão Mágico, quando descobri um programa de clipes na Rede Bandeirantes que passava Smiths, Housemartins e Marillion. Ali eu descobri que gostava de rock, mas ainda não tinha ânimo para comprar discos nem eleger bandas preferidas. Quando a Mtv estreou no Brasil, em 1990, fui apresentado a INXS e Mariah Carey, que acabei elegendo como meus favoritos. Esta foi a segunda etapa, quando eu comecei a comprar fitas K7 - não existiam CDs, e LPs eu achava pouco práticos - e tentar decorar as letras. A terceira e decisiva fase veio dos 15 anos - quando descobri Tori Amos, na verdade com 14 anos e 9 meses - até os 20 - quando parei de escolher novos preferidos, só a Melissa auf der Maur entrou na lista desde então. Neste período eu descobri Tori Amos, Garbage, Cardigans, Cake e Weezer; redescobri Smiths, Jesus and Mary Chains, Duran Duran e Queen; gonguei quase tudo do que eu gostava dos 10 aos 15 anos, e defini meu gosto musical.

Minhas listas de preferidos, porém, sempre ficam meio capengas. Se você me pedir um "Top 5", é fácil; um "Top 10" sai com alguma dificuldade, mas "uma lista de seus artistas/bandas preferidos", aí sempre vai ficar algum de fora. Não sei bem por que, mas tudo do que eu gostava entre 1993 e 1998 eu continuo gostando até hoje - e vice-versa em 99% dos casos. O post de hoje é sobre uma cantora assim. Eu a adorava entre os 16 e 18 anos, depois ela ficou meio esquecida, mas há algumas semanas eu voltei a ouvir suas músicas com bastante freqüência, parcialmente por culpa da JB FM. O nome da moça é Sade.

Aliás, Sade (se pronuncia "shadê"), nem é o nome de uma cantora, mas de uma banda inteira, cuja vocalista se chama Sade Adu, mais ou menos o que acontece com Bon Jovi ou Van Halen. Muita gente acha que Sade é uma cantora solo porque somente ela aparece nas capas dos discos. Eu mesmo sempre achei que ela "cantasse sozinha", até comprar um CD e ler o encarte.

Sade, a cantora, nasceu Helen Folasade Adu, em Ibadan, Nigéria, em 16 de janeiro de 1959. Seu pai era um economista nigeriano, e sua mãe uma enfermeira inglesa. Quando ainda era criança, seus pais se separaram, e ela foi morar com a mãe em Clacton-on-Sea, Inglaterra. Ao chegar à adolescência, Sade estudou moda em Londres, e trabalhou durante um tempo como estilista e eventualmente modelo, até entrar para o mundo da música, no início dos anos 80.

Seu primeiro trabalho na música foi como backing vocal da banda de funk - não este funk carioca, mas aquele do James Brown - Arriva, trabalho que conciliava com sua carreira de modelo. Mais tarde ela largou o mundo da moda para se tornar co-vocalista de uma banda de jazz e Rhythm and Blues chamada Pride, onde conheceria o guitarrista e saxofonista Stewart Matthewman. Antes das apresentações da Pride, ela e Matthewman costumavam fazer pequenos "ensaios", no qual Sade cantava acompanhada do músico, e algumas vezes de um ritmista da banda. O visual exótico e elegante da cantora, aliado ao jazz lo-fi que a dupla apresentava começou a chamar a atenção não somente dos donos de clubes, mas também dos fãs, que passavam a chegar mais cedo apenas para ver Sade Adu cantar. No final de 1983, Sade e Matthewman tomaram uma decisão: saíram do Pride, levando com eles o tecladista Andrew Hale e o baixista Paul Denman. Assim nascia Sade, a banda.

Logo após seu nascimento, Sade já era uma banda tão conhecida que não demorou para conseguir seu primeiro contrato, naquele mesmo ano, pela gravadora Epic. Em julho de 1984 seria lançado Diamond Life, disco de estréia da banda, que alcançaria o topo da parada britânica, vendendo mais de seis milhões de cópias no mundo inteiro, ganhando quatro discos de platina, e se tornando um dos mais bem-sucedidos discos de estréia de todos os tempos, e o mais bem-sucedido disco de estréia de cantora ou banda liderada por mulher da História. Mesmo com tanto sucesso, o disco só seria lançado nos EUA um ano depois, em 1985, onde alcançaria o quinto lugar na parada da Billboard, passando ao todo 80 semanas entre os dez primeiros. Suas músicas de trabalho incluíam os grandes sucessos Your Love is King, Hang on to your Love e Smooth Operator, uma das músicas mais tocadas dos anos 80. Diamond Life ainda rendeu à banda um Grammy de Artista Revelação.

A condição de uma das maiores bandas britânicas dos anos 80 foi confirmada com um show memorável no Live Aid de 1985, no estádio de Wembley. Aproveitando a crista da onda, a banda lançou naquele mesmo ano seu segundo álbum, Promise, mais uma vez lançado com um ano de atraso, em 1986, nos EUA. Trazendo faixas como The Sweetest Taboo, Never as Good as the First Time e Jezebel, o disco alcançou o primeiro lugar das paradas americana e britânica, rendendo mais quatro discos de platina, e sendo considerado o mais bem sucedido da carreira de Sade. Logo após o lançamento, a banda saiu em sua primeira turnê internacional, pelos EUA, Europa e Ásia. Após esta turnê, a banda se refugiou na Espanha para fugir da mídia e trabalhar em seu próximo álbum.

Devido à enorme turnê e ao auto-isolamento, o álbum seguinte de Sade só sairia em 1988. Stronger than Pride, porém, foi muito criticado. Na opinião dos críticos, Sade estava se repetindo e se tornando "emocionalmente distante", já não despertando mais o interesse do início da carreira, sem conseguir se renovar. Apesar das críticas negativas, o álbum foi disco de platina triplo, trouxe os sucessos Love is Stronger than Pride, Paradise e Nothing Can Come Between Us. A enorme turnê que seguiu ao lançamento pode não ter sido tão grandiosa quanto a anterior, mas teve excelente média de público em todas as apresentações. Mais uma vez a banda optou pelo auto-isolamento após a turnê, comprando uma casa em Londres, que transformou em estúdio.

Após quatro longos anos de processo criativo, Sade voltaria com força total em 1992, com o álbum Love Deluxe, disco de platina triplo, figurando na lista dos dez mais vendidos dos EUA por 90 semanas. Love Deluxe foi muito bem recebido pelos fãs e também pela crítica, e trouxe os sucesos Cherish the Day, Kiss of Life e I Couldn't Love You More, além do megasucesso No Ordinary Love, que apresentou Sade a toda uma legião de novos fãs. Desnecessário dizer, a turnê de Love Deluxe foi extremamente bem-sucedida.

No auge desta turnê, em 1994, a Epic aproveitou a grande procura dos novos fãs por títulos antigos, e lançou a coletânea The Best of Sade, uma das poucas coletâneas a alcançar o Top Ten britânico. Graças à voracidade dos fãs, The Best of Sade conseguiu mais quatro discos de platina.

Após a turnê de Love Deluxe, a banda entrou em um novo hiato. Durante este tempo, Sade Adu se dedicou a cuidar de sua filha Ila, e se envolveu em um acidente automobilístico na Jamaica. Como saiu de lá antes do julgamento, Sade está com a prisão decretada, e não pode pisar no país sem ir para a cadeia. Este período tão conturbado fez com que a pausa da banda fosse a maior de todas até então, com um novo trabalho só saindo em 2000. Lovers Rock é de longe o menos famoso trabalho da banda, embora tenha ganho disco de platina triplo (já são 21!), e rendido um Grammy de Melhor Álbum Pop em 2002. Suas principais músicas de trabalho foram King of Sorrow e By Your Side. Ao invés de uma imensa turnê mundial, a banda desta vez optou por uma turnê apenas pelos EUA.

Esta turnê acabou virando um álbum ao vivo, Lovers Live, lançado em 2002. Desde então, Sade não deu mais as caras. Sade Adu está na Inglaterra, vivendo com sua família e trabalhando em projetos sociais. Ela e os demais membros da banda trabalham em um novo álbum, ainda sem data para ser lançado. Se considerarmos que entre Love Deluxe e Lovers Rock foram 8 anos, e de lá pra cá só tem seis, devem estar na metade do trabalho.

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