Enquanto eu escrevia este post, notei que ele estava ficando exageradamente enorme. Pois bem, para não sobrecarregar o pobre átomo, o dividi em duas partes. Hoje começarei falando da série como um todo, e tecerei comentários sobre os primeiros jogos da série. Os interessados podem voltar semana que vem para o resto.
O primeiro Mortal Kombat que chamou minha atenção foi o 2. Meu primo costumava jogar o 1 em um lugar perto da casa dele, e sempre dizia que era muito legal, melhor que Street Fighter, essas coisas, mas eu achava os gráficos ruinzinhos demais, e o jogo em si meio tosco. Na época do lançamento de MK2 houve um grande estardalhaço, todas as revistas especializadas só falavam nisso, e eu acabei me interessando. Na época havia um fliperama aqui perto de casa, onde MK2 estava disponível, e eu comecei a jogar. Confesso que gostei muito. Joguei também as versões do 1 e do 2 para o Super Nintendo, e mais tarde comprei as versões de MK, MK2 e MK3, quando saiu, para PC. Jogar com o teclado era mais complicado, mas elas eram quase idênticas às dos Arcades, diferentemente das versões SNES, com gráficos "piorados", e que nem sangue tinham. Cheguei a jogar Ultimate Mortal Kombat 3 nos arcades, e MK Trilogy e MK4 no Playstation, mas depois minha saga de Mortal Kombat acabou. Hoje, só acompanho as modificações que a série vem sofrendo, e, embora ache os últimos títulos bem interessantes, não disponho de meio$ para experimentá-los. Talvez um dia.
O Mortal Kombat original, atualmente conhecido como "Mortal Kombat 1" [Nota do Guil: Uma coisa que eu acho interessante, e que muita gente já deve ter reparado: a gente só coloca o "1" depois de um nome depois que é lançado o "2". Assim, existe Mortal Kombat 1, Megaman 1, De Volta para o Futuro 1, e por aí vai; mas ninguém nunca vai se referir a um Blade Runner 1 ou Chrono Trigger 1, por que não existe o 2. Tem lógica, mas é estranho] foi lançado em 1992, para tentar fazer frente ao fenômeno Street Fighter, lançado pela Capcom. Sua produtora, a Midway, buscou inserir mais elementos do que os presentes nos jogos de porrada da época, criar atrativos tanto para os novos jogadores quanto para os que já estavam acostumados com o tipo de jogo, e devem ter pensado "oh, não, mais um torneio em que todo mundo vai se massacrar por um motivo qualquer".
Diga-se de passagem, tais atrativos foram muito bem escolhidos. Mortal Kombat podia ter gráficos toscos, mas para a época eram uma coisa incrível: ao invés de se utilizarem sprites (os famosos "gráficos de videogame"), atores reais digitalizados davam vida aos personagens (embora o mesmo ator fizesse os papéis de Johnny Cage, Raiden, Sub-Zero, Scorpion, Reptile e Shang Tsung - contenção de despesas talvez - e Goro, um dos personagens não-selecionáveis, fosse um monstro de massa de modelar animado em stop motion - coisa que não piora o jogo, muito pelo contrário). E não era só isso. Não somente o sangue jorrava a cada golpe mais forte (bem diferente dos demais jogos deste estilo da época, onde nem hematomas os personagens ganhavam) como existia um golpe especial final, o famoso Fatality, que acabava com a vida de seu oponente de uma vez por todas, mas só poderia ser utilizado quando o narrador da luta declarasse a hoje célebre frase Finish Him (ou Finish Her, se a oponente fosse Sonya, a única mulher do jogo). Outro diferencial era o botão de bloqueio, que permitia maior mobilidade, já que nos demais jogos deveria se apertar o botão de andar para trás para bloquear. Em MK era possível andar para trás mesmo quando o outro personagem lançava uma magia, por exemplo. Além disso, ao invés de cada personagem ter seu próprio cenário, os cenários seguiam uma ordem pré-determinada, se alternando no decorrer da batalha. Um deles, The Pit, possuía seu próprio Fatality, que jogava o adversário da ponte onde a luta se desenrolava direto em um poço cheio de espinhos, onde a morte por transfixação o aguardava. Tal cenário também era palco para mais um elemento até então inédito: um personagem secreto! Aquele que terminasse a luta sem receber golpes do oponente ganharia o direito a enfrentar Reptile (que não era grande coisa, apenas um Scorpion verde ao invés de laranja), e o cenário era o tal poço de espinhos do Fatality do cenário. Por toda esta violência, não é de se espantar que Mortal Kombat tenha conseguido a ira de muitos pais da época, e taxado dos piores adjetivos possíveis para um game. Ainda assim, foi um sucesso espantoso, e muitos dos jogos de porrada lançados a partir de então copiaram pelo menos um de seus aspectos.
Mas, fora a violência exacerbada, Mortal Kombat tinha um elemento que em Street Fighter era meio pobre: enredo. Em outras palavras, o jogo tinha uma história, não era simplesmente um bando de lutadores que resolveu se encher de porrada porque precisavam provar que eram os melhores do mundo, ou porque queriam vingar a morte de alguém. Na verdade, depois do sucesso dos três primeiros jogos a Midway decidiu fechar as pontas soltas da história, e hoje MK tem um prelúdio enorme e muito interessante. Mas na época do lançamento de MK1, o que interessava era o seguinte: há muito tempo, o feiticeiro Shao Kahn usurpou o trono de Edenia, um mundo de outra dimensão. Governando com mão de ferro, ele transformou o reino em um local de caos e sofrimento, e mudou seu nome para Outworld. Shao Kahn não estava satisfeito, e decidiu invadir também a Terra. Os monges Shaolin, porém, estavam de posse de um amuleto mágico que proibia a passagem de Shao Kahn para a nossa dimensão. Após séculos de luta, Shao Kahn e os monges fizeram uma barganha: foi criado o torneio Mortal Kombat (aparentemente, no Outworld não se sabia que Combat se escreve com C), que colocaria frente a frente os maiores campeões da Terra e do Outworld. Se a Terra vencesse dez torneios seguidos, Shao Kahn desistiria para sempre, mas se o Outworld conseguisse essa proeza, Shao Kahn estaria livre para passar para o lado de cá. Séculos se passaram sem nenhum dos lados conseguir dez vitórias seguidas, até que surgiu o feiticeiro Shang Tsung, representando o Outworld. Tsung não somente vencia todos os seus oponentes, como absorvia suas almas após as batalhas, ficando mais e mais poderoso. O efeito colateral era que, quanto mais poderoso ele se tornava, mais seu corpo físico envelhecia. Após vencer nove torneios seguidos, Tsung estava com a aparência de um velho de mil anos, e, apesar de todo o seu poder mágico, perdeu o que seria sua décima vitória para o monge Kung Lao. Irritado, Shao Kahn decidiu trapacear, e enviou para o torneio Goro, o príncipe dragão, membro da raça Shokan, nativa do Outworld (pelo que dá a entender, antes disso só humanos poderiam participar). Goro derrotou Kung Lao, e também venceu nove torneios seguidos. O torneio de Mortal Kombat 1 é o décimo, e se Goro ou Shang Tsung vencerem, a Terra estará condenada. Para evitar esta sina, Raiden, o deus do trovão, guardião da Terra, reuniu valorosos guerreiros do mundo inteiro (aparentemente devolvendo a trapaça, já que dá a entender que, antes disso, somente monges Shaolin poderiam participar). Os seis guerreiros reunidos por Raiden, e mais o próprio Raiden, serão a esperança da humanidade no torneio. Se perderem, Shao Kahn invadirá a Terra, e a transformará em um novo Outworld [Nota do Guil: pessoalmente, eu não acho que Kano ou Scorpion sejam "valorosos guerreiros", mas sabe-se lá qual foi o critério de Raiden...]. A lista completa de personagens de MK1 é a seguinte: Johnny Cage, Kano, Liu Kang, Raiden, Scorpion, Sonya e Sub-Zero como selecionáveis; Reptile como secreto; e Goro e Shang Tsung como chefes.
Assim, todo o torneio se passa em uma ilha, onde o destino do mundo está em jogo. No fundo, é apenas mais um "vou lutar por um motivo qualquer", mascarado por uma história complexa e intrincada. Este método teve um efeito colateral inesperado: como, em um jogo de porrada, cada personagem tem seu próprio final, ficou meio difícil saber qual deles era o "oficial" (se bem que em todos a Terra é salva mesmo, então tanto faz). Na época do lançamento de Mortal Kombat 2, se convencionou que o final "oficial" era o de Liu Kang, onde ele vencia Goro e Shang Tsung, e interrompia a série de vitórias do Outworld (se bem que todos os outros teoricamente também faziam isso ao vencer, mas parece que o pessoal da Midway gosta mais do Liu Kang).
Um ano depois do lançamento de Mortal Kombat, em 1993, surgiu a inevitável continuação. Mortal Kombat 2 é considerado por muitos dos fãs (inclusive por mim) como o melhor da série. Shao Kahn, irritado por não ter conseguido vencer seus 10 torneios seguidos, enganou Raiden e os defensores da Terra para que estes fossem até o Outworld, local onde se passa o torneio deste segundo jogo. Novos lutadores foram adicionados, agora era possível jogar com Reptile, e o monstro da vez, Kintaro, era uma versão mais nítida de Goro. Shao Kahn substituiu Shang Tsung, rejuvenescido e adicionado à lista dos personagens "selecionáveis", como último chefe. Aliás, alguns golpes de Tsung o transformavam por alguns momentos nos demais lutadores do jogo. Aos Fatalities foram adicionados Friendships, movimentos para serem feitos ao final da luta que faziam com que o personagem executasse uma ação "engraçadinha" (como oferecer um buquê de flores ao oponente, por exemplo) e os Babalities, que ao invés de matar o oponente o transformavam em um bebê. Agora dois cenários tinham Fatalities próprios, The Pit II e Dead Pool, onde era possível jogar o oponente em um tanque de ácido. MK2 também tinha muitos segredos, incluindo três personagens secretos, Jade, Smoke (um Scorpion cinza) e Noob Saibot (um Scorpion preto). A lista completa de personagens de MK2 é: Johnny Cage, Liu Kang, Raiden, Reptile, Scorpion, Shang Tsung, Sub-Zero, Baraka, Jax, Kitana, Mileena e Kung Lao como selecionáveis; Jade, Smoke e Noob Saibot como secretos; Kintaro e Shao Kahn como chefes.
Em 1995 ficamos sabendo que o torneio de MK2 era apenas uma cilada. Mesmo derrotado (talvez até devido a isso), Shao Kahn encontrou uma forma de invadir a Terra, e começou a mesclá-la com o Outworld. Assim, o novo torneio se passaria na Terra, embora esta já não fosse mais como a conhecemos. Mortal Kombat 3 é considerado por muitos (inclusive por mim) como o pior da série. Novos personagens sem nenhum carisma, a ausência de muitos dos antigos, ninjas cibernéticos, um Sub-Zero sem máscara (ao invés de um Scorpion azul) e golpes muito complicados contribuíram para o seu fracasso. MK3 adicionou ao jogo o odiado sistema de "combos" (sequências usadas para massacrar o adversário sem que ele se dê conta de porque está apanhando), além do botão de corrida (com o qual o personagem se deslocava rapidamente para a frente) e dos estranhos Kombat Kodes, códigos secretos que poderiam ser acionados antes de cada luta através dos controles, e que alteravam algum aspecto da mesma, como tornar os golpes mais poderosos ou as barras de energia maiores. Pelo menos dois cenários possuem Fatalities próprios (em um deles, no metrô, o oponente é atropelado por um trem), e em outros dois um gancho bem dado joga o oponente através do teto, para outro cenário. Como forma de terminar a luta, foram incluídos os Animalities, golpe com o qual o lutador se transforma em um animal e de alguma forma aleija o oponente, e o Mercy, com o qual você pode "perdoar" o oponente e prosseguir com a luta. Shao Kahn ainda era o último chefe, mas agora seu comparsa era Motaro, um centauro. Um Shokan também está presente no jogo, Sheeva (boatos a chamam de "a mulher do Goro", embora isso não seja oficial) que, para ser selecionável, teve de ficar bem menos poderosa que Goro e Kintaro. O único secreto é Smoke, agora um ninja cibernético. A parte boa é que havia um código para selecioná-lo, o que transformou MK3 no primeiro jogo de porrada a contar com um personagem secreto selecionável. A lista completa de personagens de MK3 inclui Liu Kang, Kung Lao, Sonya, Sub-Zero, Jax, Kano, Shang Tsung, Cyrax, Sektor, Kabal, Nightwolf, Sheeva e Sindel como selecionáveis; Smoke como secreto selecionável; Noob Saibot como secreto; Motaro e Shao Kahn como chefes.
No mesmo ano de 1995, talvez para apagar a má impressão de MK3, a Midway lançou Ultimate Mortal Kombat 3. Era praticamente o mesmo jogo, mas com 4 novos lutadores (aliás, o retorno dos antigos Jade, Kitana, Scorpion e Reptile), cenários, Kombat Kodes e a adição do Brutality, que nada mais era do que terminar a luta com um combo. Smoke era selecionável desde o início, e para substituí-lo foram providenciados quatro novos lutadores secretos, Mileena (a Kitana roxa), Classic Sub Zero (de MK1), Ermac (um Scorpion vermelho) e Human Smoke (de MK2), todos selecionáveis através de códigos. Além do modo tradicional, os jogadores poderiam escolher um torneio de times, 4 contra 4 ou 8 contra 8 (apenas dois de cada vez na tela, infelizmente).
UMK3 foi consideravelmente bem sucedido nos Arcades, mas não nas versões caseiras. Para tentar corrigir isso, em 1996 foi lançado Mortal Kombat Trilogy, especialmente para Nintendo 64, Playstation, Saturn e PC. MKT tinha simplesmente todos os lutadores dos quatro títulos anteriores, inclusive os secretos, agora selecionáveis desde o início, um novo lutador selecionável, Rain (um Scorpion roxo) e um novo secreto, Khameleon (um Scorpion que mudava de cor). A versão para Playstation ainda trazia versões "originais" dos personagens presentes em mais de um jogo (por exemplo, ao escolher Raiden, você poderia jogar com sua versão MK1 ou MK2) e um código secreto para jogar com os chefes (Goro, Kintaro, Motaro e Shao Khan). MKT ainda trazia todos os cenários dos outros MK, e todos os Kombat Kodes de MK3 e UMK3 funcionavam normalmente. Como se tudo isso não bastasse, ainda havia um novo elemento: a barrar Agressor, que iria se enchendo conforme o lutador bloqueasse golpes. Quando a barra estava completamente cheia, o lutador se tornava mais rápido, e seus golpes mais poderosos. MKT poderia ser o jogo que MK3 não foi, mas a verdade é que na época todo mundo já estava mais ou menos de saco cheio de Mortal Kombat, e, embora tenha vendido bem, não foi tão bem sucedido quanto MK2.
Antes que vocês também fiquem cheios de Mortal Kombat, termina aqui a primeira parte deste post. Semana que vem veremos o que aconteceu com a série depois do lançamento de MKT, quando aparentemente não havia mais nada de novo a se acrescentar.
Mortal Kombat |
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Parte 1 |
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