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domingo, 15 de março de 2020

Acabou, mas, se apertar, ainda tem

Hoje damos prosseguimento ao Mês da Mulher no átomo, com um lindo texto da fantástica Deise Duarte, autora do livro Do Quinto Andar, que se define da seguinte forma: "Deise Duarte é uma carente emocional em recuperação. Nasceu em Criciúma-SC nos anos 80 e cresceu com olhos grudados na Coleção Vagalume. É apaixonada pela vida, por sua playlist e acredita nas pessoas. Escreve diário, blog, lista de supermercado e cartas de amor". E escreveu esse belíssimo texto especialmente para o átomo:





Acabou, mas, se apertar, ainda tem

Às vezes eu olho pra gente e penso que acabou, mas lembro do creme dental que você queria jogar fora e eu apertei mais um pouco, fazendo durar por duas semanas, e acredito que, se apertar o amor da gente, ainda tem!

Lógico que não é pra apertar tanto que se rompa a embalagem, é só apertar com jeitinho pra aproveitar tudo o que presta, porque não se deve desperdiçar o que é bom. Se está em perfeita condição de uso, deixar de aproveitar por desleixo é inaceitável pra mim. O creme dental está ali e é só olhar com atenção pra ver: parece que acabou, mas, se apertar, ainda tem.

Assim é a nossa relação.

Parece que ela acabou quando brigamos pelas roupas que ficaram pra dobrar em cima do sofá, ou pela água que eu não comprei, ou pela bronca que eu te dei no trânsito, e só consigo pensar que acabou quando nos enxergo como um casal medíocre que briga porque não consegue orquestrar a rotina da casa, mas, no meio da rua, sua mão segura na minha e você me pede pra não desistir da gente, e eu penso que, se apertar, ainda tem.

No meio de uma discussão porque você não vem logo pra cama eu tenho quase certeza que acabou, mas quando acordo com sua mão na minha cintura e seu nariz mergulhado no meu cabelo numa manhã qualquer eu acho que, se apertar, ainda tem.

Enquanto eu grito que acabou e você em um tom baixo, me pede calma e com olhos carinhosos diz para eu te escutar, sinto que está apertando com todo o cuidado e com toda a força, porque sabe que, se apertar, ainda tem.

Quando sentamos dispostos a conversar sobre a nossa relação é porque acreditamos que ela ainda existe. Ela é nossa. Ela não acabou.

Ninguém compra nada novo porque acredita que, se apertar, ainda tem.

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