Como eu já disse no primeiro post dessa série, apenas sete livros de Lovecraft foram lançados pela Iluminuras. Um deles, O Horror Sobrenatural em Literatura (sobre o qual eu não falarei hoje, mas decidi colocar a figura aqui assim mesmo, para manter o padrão dos demais posts da série) é um livro de não-ficção, no qual Lovecraft discute a literatura de horror. Os outros seis trazem 56 histórias escritas por ele em sua curta porém muito produtiva carreira. Como eu também já disse umas duas vezes na série, essas 56 histórias, entretanto, não constituem todo o corpo literário de Lovecraft, ainda existindo diversas histórias que eu poderia abordar em posts futuros.
Hoje, portanto, eu decidi selecionar oito delas, e comentar como fiz nos demais posts dessa série. Essa escolha não foi feita aleatoriamente: em primeiro lugar, eu já li todas as oito - existem ainda umas vinte que eu nunca tive oportunidade de ler. Em segundo lugar, todas elas Lovecraft escreveu "como ele mesmo" - nenhuma como ghostwriter, ou seja, para serem publicadas como se tivessem sido escritas por outra pessoa. Em terceiro, todas são histórias completas, escritas quando Lovecraft já era adulto - algumas das que ainda vão ficar faltando são apenas fragmentos, ou foram escritas durante a infância e adolescência do autor.
Assim, vamos hoje ver essas oito histórias, em uma ordem qualquer escolhida por mim mesmo, e sob o título que eu achei mais legal. Volto a frisar que, com elas, não se completam todas as histórias escritas por Lovecraft. Mas confesso que não tenho tanto interesse assim para escrever sobre os ghostwritings ou sobre as poesias, de forma que, se eu farei ou não um novo post para falar do que ficou faltando, só o tempo dirá.
Um Sussurro nas Trevas (The Whisperer in Darkness) - Escrita entre fevereiro e setembro de 1930 e publicada originalmente na edição de agosto de 1931 da revista Weird Tales, essa história marca um ponto importante na carreira de Lovecraft, quando ele começou a investir mais na ficção científica, após um primeiro experimento com A Cor que Caiu do Cèu, escrita três anos antes. A mistura de horror e ciência seria a partir de então refinada, até culminar em A Sombra Fora do Tempo, para muitos o maior exemplar do estilo.
O narrador e protagonista da história é Albert N. Wilmarth, folclorista e professor de literatura na Miskatonic University. Quando relatos de corpos de estranhas criaturas trazidos pela água após intensas chuvas em Vermont começam a surgir, Wilmarth se envolve em uma acalorada discussão com colegas, através de artigos científicos. Alguns colegas acreditam que os monstros podem ser reais, enquanto outros, liderados por Wilmarth, argumentam que tudo não passa de superstição local, e que os corpos seriam de animais comuns, ou até de pessoas deformadas pela imersão prolongada, tomados por monstros pelos ignorantes moradores da região, influenciados pelas lendas de seu folclore.
Um dia, Wilmarth recebe uma carta de Henry W. Akeley, um cientista que reside bem próximo ao local onde os corpos foram encontrados. Segundo Akeley, os monstros não somente eram reais como o estavam ameaçando, por ele estar muito perto de descobrir a verdade sobre eles. Wilmarth começa sua correspondência com Akeley tão cético quanto em seus artigos científicos, mas cada novo relato de seu correspondente vai fazendo com que ele acredite cada vez mais em suas palavras. Quando Wilmarth decidir ir até Vermont e visitar Akeley, presenciará uma cena que mudará sua vida para sempre.
A principal influência literária para Um Sussurro nas Trevas é uma história de Arthur Machen, The Novel of the Black Seal; há quem argumente, inclusive, que Lovecraft teria tentado criar uma nova versão da história, já que em ambas há um professor que começa cético mas decide se aventurar em uma região montanhosa para investigar um fato tomado como superstição, e em ambas há uma pedra negra que dataria de uma época anterior à humanidade - artefato encontrado por Akeley em Um Sussurro nas Trevas, e que desperta a ira dos monstros. Outra fonte de inspiração, segundo as cartas de Lovecraft, seria a história The King in Yellow, de Robert W. Chamber.
Os "monstros" da história são na verdade seres alienígenas, vindos do planeta Yuggoth; curiosamente, quando começou a escrever Um Sussurro nas Trevas, Lovecraft havia acabado de finalizar o poema Fungi from Yuggoth, que a princípio trata das mesmas criaturas, mas no poema Yuggoth não é um planeta, apenas um local, possivelmente no mundo dos sonhos. A mudança de ideia pode ter sido ocasionada pela descoberta de Plutão, em fevereiro de 1930: em Um Sussurro nas Trevas, Yuggoth seria um "novo planeta além de Netuno", que só seria descoberto quando seus habitantes assim o desejassem.
Como de costume, Lovecraft nomeou um dos personagens da história em homenagem a alguém que conheceu da vida real, o fazendeiro Bert G. Akley, durante uma visita que fez a Vermont em companhia de um amigo, em 1928. Um Sussurro nas Trevas faz referência a diversas criações de Lovecraft, como Cthulhu, Nyarlathotep e Leng. No futuro, Wilmarth viria a ser citado duas vezes em Nas Montanhas da Loucura, durante as lembranças de William Dyer. Finalmente, vale citar que, embora não o tenha inventado, Lovecraft usa em Um Sussurro nas Trevas um elemento que na época era uma grande novidade, mas que, mais tarde, se tornaria praticamente clichê em histórias de horror: um cérebro humano removido e mantido vivo e ativo dentro de um recipiente com um estranho líquido.
Um Sussurro nas Trevas foi publicado no Brasil pelo menos duas vezes, ambas em livros também chamados Um Sussurro nas Trevas. O primeiro, de 1982, da Editora Francisco Alves, se encontra atualmente esgotado, mas o segundo, lançado ano passado pela Editora Hedra, pode ser encontrado facilmente.
A Música de Erich Zann (The Music of Erich Zann) - Escrita em dezembro de 1921 e publicada pela primeira vez no National Amateur de março de 1922, esta foi uma das histórias de Lovecraft mais republicadas enquanto ele era vivo, chegando a fazer parte de uma coletânea de contos de terror publicada em 1931, Creeps by Night, organizada pelo escritor Dashiell Hammett.
O narrador, mais uma vez sem nome, é um estudante universitário que aluga um quarto em uma estranha rua próxima à universidade. De seu quarto, ele consegue ouvir o morador do andar de cima, um idoso imigrante alemão de nome Erich Zann, tocando viola. A música é diferente de tudo o que o estudante já ouviu, o que leva o universitário a fazer amizade com o ancião, e pedir para ouvi-lo tocar. Zann, entretanto, reluta em tocar a estranha música para qualquer audiência, sempre tocando canções corriqueiras quando junto ao narrador. E, aparentemente, ele tem um bom motivo para isso.
Lovecraft considerava esta uma de suas melhores histórias, tendo se referido a ela em diversas correspondências com os amigos. Curiosamente, a qualidade que ele mais exaltava na história era que ela não era muito explícita, algo que o desagradava em contos de terror; muitos críticos, entretanto, reclamam de A Música de Erich Zann justamente por ela ser muito pouco explícita.
Outra curiosidade sobre a história é que ela não é ambientada na Nova Inglaterra, mas na França, provavelmente em Paris. A rua na qual o universitário aluga o quarto, chamada Rue d'Auseil, evidentemente não existe na cidade, mas, mais que isso, "auseil" nem é uma palavra da língua francesa; alguns estudiosos sugerem que Lovecraft teria inventado a palavra a partir da expressão au seuil, que significa "no limite", "no limiar" ou "na fronteira".
A Música de Erich Zann pode ser encontrada no Brasil como parte do livro O Chamado de Cthulhu e Outros Contos, da Editora Hedra.
O Caso de Charles Dexter Ward (The Case of Charles Dexter Ward) - Charles Dexter Ward é um jovem antiquário, membro de uma rica e respeitada família, que vive com seus pais na cidade de Providence, Rhode Island. Um dia, enquanto fazia pesquisas, Ward descobre que possuiu um ancestral do qual ninguém se lembrava, chamado Joseph Curwen. Vindo a Providence fugido de Salem, Curwen acabaria acusado de feitiçaria, perseguido e morto por seus acusadores, e completamente apagado da história local.
A história de Curwen, por algum motivo, seduz Ward, que passa a querer saber cada vez mais sobre ele. A sedução só aumenta quando o jovem descobre um antigo retrato de seu antepassado, que demonstra que ambos possuem uma semelhança física impressionante. Junto ao retrato, Ward descobre antigas anotações de Curwen, e começa a seguir seus passos, refazendo as mesmas experiências que levaram Curwen a ser acusado de bruxaria. Sua obsessão pelo antepassado se torna tão grande que Ward acaba internado como louco - mas, na verdade, algo muito pior que a loucura teria acontecido com ele, algo que somente seu médico, Dr. Willett, parece disposto a investigar.
O Caso de Charles Dexter Ward possui um método narrativo interessante: é narrada em terceira pessoa, mas, ao invés de possuir um narrador onisciente, sabedor de tudo o que ocorre, seu um narrador se limita a descrever o que sabem os personagens ao redor de Ward, como seu pai e o Dr. Willett. Isso acaba contribuindo para o clima de mistério e suspense, já que a real natureza dos experimentos de Ward - sempre feitos por detrás de portas fechadas - jamais é explicada, devendo ser deduzida através do que os personagens imaginam.
Estudiosos da obra de Lovecraft apontam várias obras literárias como possíveis influências para essa história, sendo a principal delas O Retorno, de Walter de la Mare, que Lovecraft teria lido pouco antes de escrever O Caso de Charles Dexter Ward, e que trata da alma de uma figura do passado retornando à vida no presente. Um tema semelhante, a ressurreição de um homem do século XVII no século XX, está presente em Count Magnus, de M.R. James. Finalmente, o tema de um descendente que lembra fisicamente um antepassado também pode ser encontrado em uma das histórias preferidas de Lovecraft, A Casa dos Sete Telhados, de Nathaniel Hawthorne. Todas as três histórias foram citadas por Lovecraft em seu livro O Horror Sobrenatural em Literatura como bons exemplos da literatura de terror.
A inspiração para Charles Ward teria vindo de uma anedota que Lovecraft ouvira de uma de suas tias, sobre a possibilidade de uma antiga casa de Providence ser assombrada. De fato, essa casa, localizada na Rua Prospect 140, é descrita como a casa da família Ward, localizada, na história, na Rua Prospect 100. Nessa casa viveu William Lippitt Mauran, de quem Lovecraft "pegou emprestadas" várias características para compor seu Charles Dexter Ward - a família Mauran, inclusive, assim como Ward, era proprietária de uma fazenda na cidade de Pawtuxet. A ambientação da história seria fortemente inspirada em um livro de não-ficção, Providence in Colonial Times, de Gertrude Selwyn Kimball, o qual Lovecraft lera dois anos antes de escrever O Caso de Charles Dexter Ward.
A história faz referência a diversos autores reais de diversas épocas, como Paracelso, Roger Bacon, T.S. Elliot e, em especial, Borellus. Diversas outras obras de Lovecraft também são referenciadas, com menções ao Necronomicon, aos eventos de O Festival, e até mesmo uma passagem que diz que o Dr. Willett é amigo de Randolph Carter.
Escrita ao longo de 1927, O Caso de Charles Dexter Ward foi a história mais comprida de Lovecraft, com 51.098 palavras, quase dez mil a mais que a segunda colocada. Apesar de ter escrito tanto, Lovecraft não gostou do resultado final, que considerou "embaraçoso", e jamais fez qualquer esforço para que a história fosse publicada. Somente após sua morte, seus amigos August Derleth e Donald Wandrei a ofereceriam à Weird Tales, que a publicaria em versão resumida e em duas partes, nas edições de maio e junho de 1941. A história completa só seria publicada pela primeira vez dois anos depois em um livro da Arkham House, editora que Derleth e Wandrei criariam justamente com o principal propósito de publicar as histórias de Lovecraft.
O Caso de Charles Dexter Ward pode ser encontrado no Brasil como um livro de mesmo nome, publicado pela Editora L&PM.
A Transição de Juan Romero (The Transition of Juan Romero) - Desta vez o cenário é a Califórnia, na época da Corrida do Ouro. O narrador, um homem de origem inglesa viajado e conhecedor do misticismo, que já passou uma temporada na Índia, de onde trouxe um estranho anel, mas que, por razões pessoais, decide trabalhar em uma mina, logo faz amizade com um humilde mexicano, de nome Juan Romero. Um dia, enquanto dinamitam para tentar encontrar mais ouro, os homens acabam abrindo um poço aparentemente sem fundo. A história é o relato do que teria se passado com o narrador e com Romero após a abertura desse poço, em uma estranha noite de tempestade.
Por algum motivo, Lovecraft detestava a história, que escreveu em um único dia, em setembro de 1919. Jamais quis enviá-la para publicação em nenhuma revista, e, segundo relatos, jamais a havia mostrado a ninguém até ser convencido por seu amigo Robert H. Barlow a entregar-lhe o manuscrito para que ele o datilografasse, algo que vinha fazendo com várias histórias de Lovecraft, em 1931. O resultado é que muitas listas das obras completas de Lovecraft não a incluem, e ela só seria publicada pela primeira vez bem depois de sua morte, em 1944, na coletânea Marginalia, da Arkham House.
Ainda assim, A Transição de Juan Romero pode ser encontrada facilmente no Brasil, como parte do livro A Tumba e Outras Histórias, da Editora L&PM.
Poesia e os Deuses (Poetry and the Gods) - Escrita em meados de 1920 e publicada pela primeira vez na edição de setembro do mesmo ano de The United Amateur, o períodico oficial da UAPA, Poesia e os Deuses foi a segunda história escrita a quatro mãos por Lovecraft, que a dividiu com Anna Helen Crofts. A autoria do conto é dedicada a Crofts e a Henry Paget-Lowe, um pseudônimo de Lovecraft.
Curiosamente, nada se sabe sobre quem seria Anna Helen Crofts; seu nome aparece esporadicamente na produção literária amadora da época, mas depois desaparece por completo. Há quem diga que Crofts fora apresentada a Lovecraft por Winifred V. Jackson, poetisa, membro da UAPA e namorada de Lovecraft na época. Outros argumentam que Crofts seria um pseudônimo da própria Jackson, o que seria estranho, já que ela normalmente usava o pseudônimo Elizabeth Berkeley, inclusive quando escreveu um conto com Lovecraft dois anos antes. Registros da UAPA dão conta de que Crofts moraria em North Adams, Massachussetts, bastante longe de Lovecraft, e que não seria membro da associação, apenas uma colaboradora eventual.
De qualquer forma, não se pode precisar qual teria sido o tamanho da participação de Crofts na história, já que Lovecraft jamais a citou em seus escritos ou em suas correspondências. Poesia e os Deuses é uma das histórias da "fase grega" de Lovecraft: entediada com o mundo, uma mulher, de nome Marcia, recebe a visita do deus grego Hermes, que a leva para um passeio no Olimpo, durante o qual ela aprende que os deuses não estão mortos, apenas dormindo, e que se comunicam com os homens através dos poetas e suas poesias.
Poesia e os Deuses também pode ser encontrada no Brasil como parte do livro A Tumba e Outras Histórias, da Editora L&PM.
O Terrível Ancião (The Terrible Old Man) - Escrito em janeiro de 1920 e publicado pela primeira vez no periódico Tryout, edição de julho de 1921, este conto é o primeiro a trazer uma localidade da Nova Inglaterra fictícia mais tarde criada por Lovecraft: a cidade de Kingsport.
Nela, reside um estranho ancião, tão velho que ninguém mais se lembra da época em que ele era jovem, e temido por todos devido a seu comportamento bizarro. Exceto por três imigrantes, que chegam à cidade dispostos a roubar o tesouro que o velho supostamente esconde em sua casa. Isso seria um erro, como eles aprenderiam da pior maneira.
O Terrível Ancião voltaria a aparecer como personagem, mas menos terrível, em A Estranha Casa entre as Brumas, também ambientada em Kingsport. Lovecraft também aproveitaria algumas de suas características em personagens de histórias futuras, como o Joseph Curwen de O Caso de Charles Dexter Ward e o Velho Whateley de O Horror de Dunwich. A cidade de Kingsport também seria o palco de O Festival, e seria citada em O Caso de Charles Dexter Ward, À Procura de Kadath, A Chave de Prata e em A Coisa na Soleira da Porta.
O Terrível Ancião não costuma ser considerada uma boa história, e há quem veja nela o lado xenófobo de Lovecraft, que usaria o vilão para extravasar sua raiva de imigrantes e forasteiros. No Brasil, ela foi publicada no livro Um Sussurro nas Trevas da Editora Francisco Alves, lançado em 1982 e atualmente esgotado.
O Prado Verdejante (The Green Meadow) - Essa foi a primeiríssima história que Lovecraft escreveu a quatro mãos na vida, auxiliado por sua namorada da época, Winifred V. Jackson. Por sugestão de Lovecraft, Jackson a assinou com um pseudônimo que usava constantemente, Elizabeth Berkeley, e ele como Lewis Theobald Junior. Escrita entre 1918 e 1919 com o intuito de ser publicada no The United Cooperative, periódico da UAPA dedicado a contos escritos por mais de um autor, foi publicada pela primeira vez apenas na edição de abril de 1927 do periódico The Vagrant, de propriedade de Paul W. Cook, grande amigo de Lovecraft.
A história é apresentada como "uma tradução feita por Elizabeth Neville Berkeley e Lewis Theobald, Jun." - com direito a introdução dos "tradutores" - de um texto encontrado em um estranho livro, feito de material desconhecido, por sua vez encontrado dentro de um meteorito que teria caído em 1913 nos arredores da cidade de Potowonket, Maine. Nele, um homem solitário, aprisionado em uma pequena ilha flutuante, descobre um prado verdejante no qual pessoas cantam, sem que ele consiga identificar a linguagem.
O Prado Verdejante é interessante por dois motivos: primeiro, a "introdução" faz referência a artefatos alienígenas de materiais bizarros, justamente como as últimas histórias que Lovecraft escreveu na vida fariam; já a "tradução" relata eventos que poderiam muito bem ter se passado no mundo dos sonhos do Dream Cycle - uma das cidades citadas, Stethelos, voltaria a sê-lo em A Procura de Iranon. Não se sabe o quanto da história teria sido criado por Jackson, mas, aparentemente, ou ela teria influenciado profundamente o estilo de Lovecraft ou servido para que ele experimentasse coisas que planejava utilizar em suas histórias vindouras.
Que eu saiba, infelizmente, O Prado Verdejante jamais foi publicado no Brasil. Lembro-me que o li em português de Portugal, na adolescência, em um livro emprestado por um amigo, do qual infelizmente já não recordo o nome. Apesar de não ter ficado entre as minhas favoritas, a história me marcou por causa do "verdejante" do título, o qual achei, confesso, bastante "português". Confesso também que fiquei um pouco decepcionado quando descobri que, em inglês, era simplesmente green.
Fechado na Catacumba (In the Vault) - Dentre as várias revistas e periódicos nos quais Lovecraft publicou suas obras, estava o periódico Tryout, dedicado a histórias de escritores amadores. Em 1925, Lovecraft já era um profissional, mas, mesmo assim, Charles W. Smith, editor do Tryout, decidiu sugerir um enredo a Lovecraft, prometendo que publicaria a história caso ele a escrevesse. Lovecraft aceitou a sugestão pela oportunidade de escrever uma história de terror mais tradicional, e assim surgiu Fechado na Catacumba, que ele escreveria cerca de um mês após receber a sugestão, e que Smith publicaria na edição de novembro do mesmo ano do Tryout. Lovecraft dedicaria a história a Smith.
A "sugestão" de Smith era praticamente a história completa: "um coveiro aprisionado na catacumba de uma pequena cidade enquanto pegava os caixões acumulados durante o inverno para os enterros da primavera e sua escapada através do alargamento do travessão da porta alcançado pelo empilhamento desses caixões". Lovecraft escreveu exatamente isso, dando ao coveiro o nome de George Birch, fazendo-a um relato de Birch ao seu médico, Dr. Davis, que narra a história, e acrescentando um final bastante tenebroso.
Após a publicação no Tryout, Lovecraft decidiu oferecer a história para ser publicada na Weird Tales, mas o editor da revista, Farnsworth Wright, a recusou, alegando que ela seria "macabra demais para passar pelo crivo da censura". Essa decisão pode ter sido motivada pela censura sofrida pela Weird Tales no início de 1925, quando tentou publicar a história The Loved Dead, de C.M. Eddy, Jr. Em 1926, Lovecraft ainda ofereceria a história à Ghost Stories, uma revista de menor qualidade, que publicava histórias de fantasmas que alegava serem reais, mas que também a rejeitou. Fechado na Catacumba acabaria sendo publicada na Weird Tales em abril de 1932, após August Derleth praticamente obrigar Lovecraft a oferecê-la novamente, e convencer Wright a aceitá-la.
Fechado na Catacumba foi a primeira história de Lovecraft que eu li no original em inglês antes de ler traduzida para o português. Aliás, eu nunca li essa história em português, até porque, que eu saiba, ela jamais foi publicada no Brasil. Enquanto eu pesquisava para tentar descobrir o nome do livro no qual eu li O Prado Verdejante, porém, acabei dsecobrindo que ela foi publicada em Portugal, com esse título até bem legal, como parte do segundo volume da série Os Melhores Contos de Howard Phillips Lovecraft, da editora Saída de Emergência.
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