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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Duro de Matar

Semana passada, eu fiz um post sobre a série A Gata e o Rato, no qual mencionei que Bruce Willis perdera o interesse em fazer a série após alcançar o sucesso com o filme Duro de Matar. Duro de Matar é um dos meus filmes de ação preferidos, e sua lembrança, evidentemente, me deixou com vontade de escrever um post sobre ele. Então, sem mais delongas, vamos lá!

Diferentemente do que muita gente acredita, Duro de Matar (cujo título original é Die Hard, "duro de morrer") não foi o primeiro filme de Willis (esse foi O Primeiro Pecado Mortal) nem o primeiro protagonizado por ele (que foi Encontro às Escuras). Foi, porém, o filme que lhe lançou ao estrelato, e provou que, além de ator de comédia, ele podia ser um astro de filmes de ação.

No filme, Willis interpreta o detetive John McClane, que faz parte da força policial de Nova Iorque, e é casado com uma executiva, Holly Gennaro (Bonnie Bedelia), que trabalha na sede da multinacional japonesa Nakatomi Corporation em Los Angeles, o Nakatomi Plaza. Na véspera de Natal, McClane decide viajar até a Cidade dos Anjos para tentar se reconciliar com sua esposa e salvar seu casamento, abalado não somente pela distância, mas por divergências de comportamento. Chegando no aeroporto, McClane é levado por uma limusine da corporação até o Nakatomi Plaza, onde ocorre a festa de fim de ano da empresa.

Durante a festa, e enquanto McClane está no banheiro, o Nakatomi Plaza é invadido por um grupo de terroristas, comandados por Hans Gruber (Alan Rickman). Os terroristas fazem todos os convidados da festa de reféns, exceto McClane, que eles não sabem que está no prédio. Cabe então ao policial, sozinho, frustrar os planos dos vilões, contando com a ajuda apenas do policial local Al Powell (Reginald VelJohnson), que não pode entrar no prédio, e se comunica com McClane através de um walkie-talkie. E os terroristas não são o único problema de McClane: o repórter sensacionalista Richard Thornburg (William Atherton) fará de tudo para cobrir a história, dificultando ainda mais a já complicada tarefa do policial.

yippie ki-ayApesar de ser um filme natalino, Duro de Matar foi lançado em 15 de julho de 1988. Dirigido por John McTiernan, se tornou um imenso sucesso, custando 28 milhões de dólares e rendendo mais de 83 milhões somente nos Estados Unidos. O filme foi aclamado pela crítica, considerado um dos melhores filmes de ação de todos os tempos, e se tornou referência no assunto, com vários filmes posteriores sendo considerados um "novo Duro de Matar" - Velocidade Máxima, por exemplo, foi anunciado pela própria Fox como "Duro de Matar sobre rodas". Curiosamente, à época de seu lançamento, ninguém levava muita fé, tanto que o filme só estreou em 21 salas em todos os Estados Unidos, pulando para 1.276 no fim de semana seguinte graças à imensa procura.

Uma curiosidade a respeito do filme é que seu roteiro não é original, mas baseado no livro Nada é para Sempre, lançado em 1979 e escrito por Roderick Thorp, que por sua vez é a sequência de outro livro de Thorp, O Detetive, lançado em 1966 e adaptado para um filme de 1968 com Frank Sinatra no papel principal. A ideia original da Fox era fazer uma sequência 20 anos depois, mas Sinatra não aceitou. Então, eles resolveram mudar umas coisinhas aqui e ali e transformá-lo em uma continuação de Comando para Matar, mas aí foi Schwarzenegger que não aceitou. A solução foi fazer um filme separado, sem nenhuma relação com O Detetive ou qualquer outro. Vale citar como curiosidade que o próprio Thorp escreveu Nada é para Sempre pensando em adaptá-lo para o cinema, o que fez com que a adaptação fosse relativamente fácil. E também é válido dizer que, graças ao sucesso do filme no Brasil, o livro acabou rebatizado, e hoje pode ser encontrado por aí com o título de Duro de Matar.

As principais mudanças feitas no filme em relação à história do livro foram o rejuvenescimento do protagonista, a transformação de sua filha em sua esposa, e a mudança da corporação atacada da gigante norte-americana do petróleo American Klaxon Oil Corporation para a multinacional japonesa Nakatomi Corporation. O livro também tem um tom mais sério e pesado, com o protagonista (que se chama Joe Leland) sendo mais sisudo e os terroristas mais politizados; foi opção de McTiernan dar um clima mais leve ao filme, fazendo McClane mais brincalhão e utilizando menos referências políticas.

Ainda assim, a política quase foi um problema quando o filme foi lançado na Alemanha: originalmente, os terroristas do filme são alemães, mas, na época, o terrorismo na Alemanha era um tema sensível, e a Fox achou que isso iria contribuir negativamente para a imagem do filme. A solução foi transformar os terroristas em britânicos, mudando seus nomes de Hans, Karl e Heinrich para Jack, Charlie e Henry. Isso levou a uma cena curiosa, na qual McClane anota os nomes Hans e Karl (dos terroristas) enquanto os escuta. A solução adotada pela Fox foi inserir uma fala inexistente na versão original, na qual McClane fala para si mesmo "eu vou apelidá-los de Hans e Karl, como os dois gigantes malvados do conto de fadas".

Finalmente, vale registrar duas curiosidades envolvendo a atuação de Rickman: a cena na qual Gruber e McClane se encontram, e Gruber finge ser um dos reféns que escapou, não estava originalmente prevista no roteiro, e foi incluída de última hora depois que Rickman (que é inglês) mostrou aos produtores que sabia imitar com perfeição um sotaque de Los Angeles. E a cena da morte de Gruber foi filmada sem que Rickman soubesse que seu personagem iria morrer naquele momento, para que seu ar de surpresa fosse genuíno - uma opção do direitor que acabou desagradando, e muito, ao ator.

O grande sucesso do filme acabou dando à Fox a certeza de que lançá-lo como uma história em separado, e não como a continuação de outra, havia sido acertada, principalmente porque lhe permitiu fazer suas próprias continuações. A primeira, Duro de Matar 2 (Die Hard 2: Die Harder) foi lançada em 4 de julho de 1990, e dirigida por Renny Harlin.

Mais uma vez ambientado na véspera de Natal, dois anos após os eventos do primeiro filme, Duro de Matar 2 coloca McClane contra terroristas no aeroporto internacional de Washington Dulles, Virginia. Os terroristas planejam causar um caos aéreo que servirá de distração para libertarem o ditador de um país latino-americano, deposto e condenado por tráfico de drogas, e que está sendo levado aos Estados Unidos para julgamento. Para isso, eles interferem com os equipamentos da torre de controle, o que faz com que todos os aviões que estão indo para Dulles tenham de ficar sobrevoando o aeroporto sem poder pousar - e sem poderem ser desviados para outros aeroportos, por causa do mau tempo. McClane está no aeroporto por acaso, esperando Holly, que está em um dos voos em espera, e decide mais uma vez resolver sozinho a parada, já que a equipe do aeroporto toma decisões equivocadas, que colocam em risco a vida dos passageiros dos aviões. Para piorar ainda mais a situação, McClane tem um tempo limitado para deter os terroristas, já que os voos em espera ficarão sem combustível se não puderem pousar logo. A situação de Holly não é muito melhor: além de presa em um avião que pode ficar sem combustível, ela ainda está no mesmo voo que Thornburg, o repórter encrenqueiro do filme anterior.

Assim como o primeiro filme, o segundo foi inspirado em um livro, 58 Minutos, de Walter Wager, no qual um policial tem de enfrentar terroristas que sitiaram um aeroporto enquanto um voo com sua esposa a bordo o circula sem poder pousar, com apenas mais 58 minutos de combustível. Entretanto, diferentemente do que ocorria com Duro de Matar, que era uma adaptação bastante fiel do livro, Duro de Matar 2 usa apenas sua premissa, com a maior parte das situações sendo bastante diferentes.

Também como o primeiro filme, Duro de Matar 2 foi um enorme sucesso de público e crítica, sendo considerado por muitos como o melhor filme de ação de 1990 - nada mal para um ano que teve A Caçada ao Outubro Vermelho e O Vingador do Futuro. O sucesso do primeiro garantiu a ele um orçamento bem maior, de 70 milhões de dólares, que renderam quase o dobro nas bilheterias, com 117 milhões e meio só nos Estados Unidos. Estava pavimentado o caminho para uma nova continuação.

A continuação seguinte, porém, não seria tão bem sucedida. Duro de Matar: A Vingança (Die Hard with a Vengeance), que estreou em 19 de maio de 1995, mais uma vez dirigido por McTiernan, trouxe McClane de volta para Nova Iorque, onde ele participa de um jogo sinistro de Simon Says (o equivalente em inglês para "seu mestre mandou"), onde deve seguir as ordens de Simon Gruber (Jeremy Irons), irmão de Hans, que planeja se vingar do detetive: a menos que McClane siga as instruções de Simon à risca, ele detonará várias bombas na cidade, em locais como o metrô e uma escola. Durante sua cruzada, McClane conhece o eletricista Zeus Carver (Samuel L. Jackson), que acaba o acompanhando no jogo. Os dois acabam descobrindo que a "vingança" é também uma distração, para que Simon e seus associados consigam roubar o Federal Reserve Bank sem chamar a atenção da polícia.

Duro de Matar: A Vingança não foi inspirado em um livro, mas seu roteiro também tem uma história curiosa: escrito por Jonathan Hensleigh e com o título original de Simon Says, ele teria Brandon Lee no papel do policial. Com a morte prematura de Lee, o roteiro foi oferecido para Richard Donner, para se tornar um filme da série Máquina Mortífera. Donner não gostou e o ofereceu a McTiernan, que fez algumas adaptações para transformá-lo no terceiro Duro de Matar. O roteiro original não previa o roubo, inserido para aproximar o enredo deste terceiro filme do do primeiro. O alvo da ação dos bandidos originalmente seria o Metropolitan Museum of Art; McTiernan acabou mudando para o Federal Reserve de última hora, mas depois aproveitou a ideia do assalto ao MoMA em seu filme Thomas Crown: A Arte do Crime.

Infelizmente, Duro de Matar: A Vingança não conseguiu manter o mesmo clima dos dois filmes anteriores, e não foi bem recebido pela crítica, nem se tornou um sucesso de público. Ele até se pagou - custou 90 milhões de dólares e rendeu 100 milhões nos Estados Unidos - mas, para muitos, seu desempenho fraco era a prova de que a fórmula estava esgotada, e a série, encerrada.

Apesar do fracasso do terceiro filme, a Fox estava disposta a investir em uma continuação, dessa vez com roteiro baseado em um artigo, chamado A Farewell to Arms ("adeus às armas"), escrito por John Carlin e publicado na revista Wired em 1997. Após sucessivos atrasos na produção, a Fox programou o lançamento do filme para 2002, mas os atentados de 11 de setembro de 2001 fizeram com que ele fosse adiado indefinidamente. O filme provavelmente nem teria saído do papel se não fosse o sucesso de Rocky Balboa em 2006, que motivou uma onda de "novas continuações para velhos sucessos", e fez com que os executivos do estúdio se lembrassem do projeto.

Dirigido por Len Wiseman, Duro de Matar 4.0 (Livre Free or Die Hard nos Estados Unidos, Die Hard 4.0 no resto do mundo - na verdade o título seria Die Hard 4.0 no mundo inteiro, mas a Fox decidiu mudá-lo de última hora; como o material de divulgação internacional já estava pronto, eles só conseguiram mudá-lo nos Estados Unidos, o que não agradou a Willis nem a Wiseman) chegou aos cinemas em 27 de junho de 2007. Por insistência de Wiseman - que alegava que estava filmando "um Duro de Matar" - o filme foi feito "à moda antiga", com o mínimo possível de efeitos especiais gerados por computação - a cena onde McClane se protege atrás de um carro de outro que vem voando e rodopiando em sua direção, por exemplo, foi feita com carros de verdade e a ajuda de guindastes e cabos de aço, o que a tornou mais cara porém mais impressionante. O filme usou nada menos que 250 dublês, sendo que o mais sofredor foi o de Willis, que quebrou três costelas, um osso da face, os dois pulsos, teve um pulmão perfurado e ficou inconsciente por vários minutos após cair de uma altura de sete metros e meio. Os ferimentos do dublê fizeram com que a produção do filme tivesse de ser interrompida durante algumas semanas. Durante esse tempo, Willis pagou de seu próprio bolso o tratamento do dublê e a hospedagem dos familiares que vieram ficar com ele, em agradecimento por ter se arriscado tanto em nome do filme - o próprio Willis, aliás, entendia do assunto, já que em uma cena foi chutado no rosto pela dublê de Maggie Q, que estava usando sapatos de salto alto, e o chute pegou tão bem que ele ficou com um osso da face à mostra e teve de tomar sete pontos ao lado de seu olho direito.

Ambientado doze anos após os eventos do primeiro filme (embora "no mundo real" tenham se passado 19), Duro de Matar 4.0 traz um McClane mais velho, divorciado e desiludido, que não tem uma boa relação com a filha, Julie (Mary Elizabeth Winstead; curiosamente, Taylor Fry, que a interpretou no primeiro filme, fez um teste para o papel mas não foi aprovada, e a filha de Bruce Willis, Rumer Willis, chegou a ser considerada, mas depois descartada), e aparentemente conseguiu se manter esse tempo todo longe de novas confusões. O dever o chama quando ele é enviado para prender um hacker, Matt Farrell (Justin Long), sem saber que ele foi usado como parte de um esquema sinistro: o vilão Thomas Gabriel (Timothy Olyphant) e sua namorada Mai Linh (Maggie Q) contrataram vários hackers, dentre eles Matt, para supostamente encontrar formas de invadir um sistema de segurança, com o pretexto de melhorá-lo - prática que também é adotada na vida real. Na verdade, porém, os programas escritos pelos hackers serão usados em uma "queima geral", um enorme ataque cibernético que trará o caos à sociedade norte-americana, já praticamente totalmente controlada por computadores. O plano de Gabriel e Linh era eliminar os hackers após eles prestarem seus serviços, para não deixar testemunhas, mas, graças à intervenção de McClane, Matt sobrevive, e passa a ser perseguido pelos vilões. Cabe a McClane lutar em uma nova cruzada de um homem só, detendo os vilões antes que eles consigam alcançar seus objetivos. Vale citar que o filme conta também com a participação de Kevin Smith, no papel do hacker Warlock.

Duro de Matar 4.0 foi aclamado pela crítica, e considerado por muitos - incluindo o próprio Willis - como o melhor da série. O público tambem o recebeu bem, transformando-o no filme da série de maior bilheteria, 134 milhões e meio de dólares somente nos Estados Unidos. O filme também foi o mais caro da série, tendo custado 110 milhões, a maior parte gasta com os efeitos especiais.

Todo esse sucesso deu um novo gás a uma franquia que parecia estar encerrada: em fevereiro desse ano, Willis confirmou, em entrevista, que um quinto Duro de Matar deve entrar em produção ainda esse ano. Até quando McClane, já além dos 50 anos, conseguirá salvar a pátria sozinho, não se sabe. Mas, depois de conseguir quatro vezes, ninguém mais duvida de que ele é capaz.

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