De uns tempos pra cá, a televisão brasileira vem sofrendo uma verdadeira "invasão anime": todos os canais que passam desenhos têm pelo menos um anime em sua programação. Muitos deles sequer são comprados do Japão, mas já vêm dublados em inglês dos Estados Unidos, para serem redublados aqui. Como a invasão anime chegou aos Estados Unidos ainda é motivo de debate; uns acham que foi culpa da Saban, outros dizem que foi do Pokémon. Mas o fato é que, quando essa invasão chegou aqui, nós já estávamos invadidos. E a culpa foi de um anime exibido nos anos 90: Os Cavaleiros do Zodíaco.
Sim, muitos anime foram exibidos no Brasil antes dos Cavaleiros, mas eu não me lembro de nenhum que tenha causado uma mobilização tão grande. Na época eu devia ter uns 16 anos, mas todo mundo dos 6 aos 60 só falava nos Cavaleiros - os mais novos porque gostavam de assisti-lo, os mais velhos porque reclamavam que era muito violento. Assim como Jaspion e Changeman abriram as comportas do tokusatsu, os Cavaleiros abriram as comportas do anime, trazendo muitos outros desenhos, alguns bons, outros de qualidade duvidosa, que tentaram pegar carona em sua esteira. E, durante muito tempo, eu pensei em fazer um post sobre eles, mas aquela motivação final jamais vinha. Pois hoje ela veio, então vai ser dia de Cavaleiros no átomo!
Assim como muitos outros anime, Os Cavaleiros do Zodíaco, cujo nome original é Saint Seiya, é a adaptação de um mangá, criado, escrito e ilustrado por Masami Kurumada, e publicado na famosa revista Shonen Jump entre janeiro de 1986 e dezembro de 1990. Percebendo que a história daria bom material para um anime, a Toei negociou com Kurumada ainda em 1986. Ao todo, foram produzidos 114 episódios, televisionados pela TV Asahi entre 11 de outubro de 1986 e 1o de abril de 1989.
A história dos Cavaleiros gira em torno de guerreiros lendários, conhecidos na versão original como "santos" (daí o nome Saint Seiya), mas por aqui como Cavaleiros (mesmo que não tenham cavalos). Através de intenso treinamento, os Cavaleiros aprendem a controlar o Cosmo, uma energia interior presente em todos os seres humanos, e que, uma vez compreendida, permite que o Cavaleiro consiga proezas sobre-humanas, como lançar raios pelas mãos, ler mentes, sobreviver após perder litros de sangue, e outras menos dramáticas. Cada pessoa tem seu próprio Cosmo individual, que revela poderes únicos quando liberado. Além disso, cada Cavaleiro é "protegido" por uma constelação - o que traz a conclusão lógica de que deve haver um número limitado de Cavaleiros - e, de acordo com seu poder, é ranqueado como Cavaleiro de Bronze, Prata ou Ouro, recebendo uma armadura correspondente à constelação que representa. Como era de se esperar, os cavaleiros mais poderosos são os de Ouro, doze ao todo, cada um representando uma das constelações do Zodíaco - de onde, aparentemente, o desenho tira seu nome na versão nacional, que por sua vez o traduziu da versão mexicana, que usou o mesmo da espanhola, que traduziu o da francesa, primeira exibida fora do Japão, de onde concluímos que a culpa pelo desenho não se chamar Saint Seiya no Brasil é dos franceses.
Seis anos antes do início da série, 100 órfãos de todo o Japão são selecionados e enviados para treinar em várias partes do mundo, buscando compreender o Cosmo e se tornar Cavaleiros. Um destes órfãos é Seiya, que foi enviado para treinar no Santuário, na Grécia, local onde vivem os Cavaleiros de Ouro. Após encerrar o treinamento e se tornar o Cavaleiro de Pégaso, um Cavaleiro de Bronze, Seiya retorna ao Japão para reencontrar sua irmã, e descobre que ela está desaparecida. Ele e os outros Cavaleiros de Bronze, então, são contatados pela milionária Saori Kido, reencarnação da deusa Atena, que os convida para participar de um torneio onde o prêmio será a Armadura de Sagitário, cujo Cavaleiro, Aiolos, foi morto em circunstâncias misteriosas.
A princípio, Seiya só aceita participar do torneio porque Saori promete que, se ele vencer, usará sua fortuna e influência para ajudá-lo a encontrar sua irmã desaparecida. Ao longo do torneio, porém, Seiya faz amizade com três outros Cavaleiros de Bronze: Shiryu, o Cavaleiro do Dragão; Hyoga, o Cavaleiro do Cisne; e Shun, o Cavaleiro de Andrômeda. Os quatro e mais Ikki, Cavaleiro de Fênix, irmão mais velho e mais antipático de Shun, acabam envolvidos em uma trama orquestrada pelo Mestre Ares, guardião do Santuário na ausência de Atena, que planeja matar Saori e ficar no comando para sempre. Ares conseguiu convencer a maioria dos Cavaleiros de Prata e de Ouro de que Saori é uma impostora, e que os Cavaleiros que a seguem são traidores, portanto, se quiserem vencer, Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki terão de derrotar seus próprios colegas, alguns muito mais poderosos que eles.
No mangá, Saint Seiya teve três "sagas", equivalentes a três histórias completas: a Saga do Santuário, a Saga de Poseidon e a Saga de Hades. Inicialmente, o anime iria adaptar apenas a Saga do Santuário, em 52 episódios; ele estava fazendo tanto sucesso, porém, que a Toei decidiu esticá-lo para 73 episódios, e produzir mais uma saga após sua conclusão. Como a Saga de Poseidon ainda estava rolando no mangá, a Toei optou por criar alguns episódios originais, para dar tempo da saga se concluir nos quadrinhos antes da produção do desenho, e não existirem duas versões diferentes para a mesma história.
Assim nasceu a chamada Saga de Asgard, onde os Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki, com armaduras redesenhadas, têm de combater Hilda e seus Guerreiros Deuses. Originalmente uma sacerdotisa bondosa do deus Odin, Hilda tem sua mente dominada pelo Anel dos Nibelungos, entregado a ela por Poseidon, que planeja matar Atena para inundar o mundo e reinar soberano. Para livrá-la do controle do vilão e salvar Saori, os Cavaleiros têm de reunir as sete Safiras de Odin, uma em posse de cada guerreiro de Hilda, para despertar a Espada de Odin, a única arma capaz de destruir o Anel. A Saga de Asgard teve 26 episódios, depois dos quais foram exibidos 15 episódios da Saga de Poseidon. Nela, os cinco Cavaleiros têm de enfrentar Poseidon, o deus dos mares, e seus sete Generais Marinas, para impedir que o mundo seja inundado. Como a audiência nestas duas sagas não foi a mesma dos primeiros episódios, a Toei optou por cancelar a produção do anime após a derrota de Poseidon.
Além dos 114 episódios para a TV, os Cavaleiros do Zodíaco também ganharam quatro filmes. No primeiro deles, O Santo Guerreiro, de 1987, os Cavaleiros têm de salvar Saori da deusa Éris, que planeja roubar seus poderes. Em A Grande Batalha dos Deuses, de 1988, Saori é sequestrada por Durval, representante de Odin na Terra, e os Cavaleiros têm de ir até Asgard para salvá-la - aliás, foi o sucesso deste filme que levou a Toei a revisitar o tema nórdico na hora de produzir os episódios originais da série. Em A Lenda dos Defensores de Atena, também de 1988, o oponente é Abel, que tem a singela missão de destruir a Terra como castigo dos deuses pelas blasfêmias dos mortais, cabendo aos Cavaleiros derrotá-lo. E em Os Guerreiros do Armageddon, de 1989, Lúcifer retorna à Terra, e inicia uma série de desastres naturais para destruí-la, cabendo aos Cavaleiros, mais uma vez, confrontá-lo.
Saint Seiya é considerado um dos maiores fenômenos de entretenimento da década de 1980 no Japão. Suas histórias originalmente publicadas na Shonen Jump foram reuinidas em 28 volumes que venderam milhões de cópias, e seu anime teve excelente receptividade por parte de público e crítica, influenciando vários outros lançados posteriormente. Aqui no Brasil, onde foi originalmente exibido pela Rede Manchete entre 1994 e 1997, ele se tornou um verdadeiro fenômeno, vendendo toneladas de merchandising associado e abrindo as portas para a importação de vários outros anime por todos os canais.
Por alguma razão desconhecida, em 2002, mais de dez anos após o fim da série, Kurumada decidiu ressucitá-la, lançando um novo mangá, Saint Seiya Episode.G, ambientado sete anos antes dos eventos da série original, e seis anos após a morte de Aiolos. Nesta série, os cavaleiros de Ouro são os protagonistas, devendo proteger a Terra do ataque dos Titãs.
Para aproveitar o sucesso do novo mangá, a Toei decidiu adaptar também a Saga de Hades, última do mangá original. Inicialmente, foram produzidos 13 episódios, que ficaram conhecidos como Hades: A Saga do Santuário, e foram exibidos entre novembro de 2002 e abril de 2003. Nestes novos episódios, Hades, que havia sido derrotado pelos Cavaleiros no passado, consegue se libertar de sua prisão, invadindo a Terra com seus Espectros, e cabendo aos Cavaleiros derrotá-lo. Em 2004 foi lançado um novo filme, Prólogo do Céu, ambientado logo após estes novos episódios, onde os Cavaleiros devem combater Apolo e Ártemis, que tomaram o Santuário de Atena e planejam, nada originalmente, exterminar a humanidade. No planejamento de Kurumada, este filme será o início de uma nova Saga, tanto no anime quanto no mangá, por isso o título "Prólogo do Céu".
Mas a Saga de Hades ainda não estava terminada, e continuaria com mais doze episódios, lançados entre 2005 e 2006, e conhecidos como Hades: A Saga do Inferno. Como o nome sugere, os Cavaleiros devem ir até o inferno para enfrentar Hades. 2006 também foi o ano de lançamento de dois novos mangá dos Cavaleiros, Saint Seiya: Next Dimension e Saint Seiya: The Lost Canvas, ambos ambientados no Século XVIII, durante uma outra guerra entre Atena e Hades, e protagonizados pelo Cavaleiro de Pégaso da época, Tenma.
A Saga de Hades se concluiria com mais seis episódios lançados em 2008, chamados de Hades: A Saga dos Elíseos, onde os Cavaleiros invadem os Campos Elíseos, morada dos deuses, para derrotar Hades de uma vez por todas.
Atualmente, no Japão, Episode.G, Next Dimension e Last Canvas ainda estão sendo publicados; se eles serão adaptados para o anime ainda é incerto. O mais provável é que, a partir de agora, mangá e anime caminhem separados, com a nova Saga do Céu sendo produzida a partir desse ano.
Talvez eles não tenham o mesmo charme após mais de dez anos de inatividade, mas o fato é que os Cavaleiros do Zodíaco fazem parte da memória afetiva de milhares de brasileiros. Assim, nada melhor que deselhar-lhes uma vida longa de muitas outras aventuras, sejam elas no mangá ou no anime.
poderia fazer um post comparando a Fase Santuário da Saga de Hades de CDZ (quando eu assisti eu me impressionei, principalmente com a direção e impressionante dublagem da Álamo, que fez o desenho ficar com cara de filme, e deu um ar muito mais adulto à Série, em alguns momentos nota-se um toque de suspense cinematográfico na temporada lançada para DVD) com o estrago que acabaram por fazer com sua continuação (Fase Inferno e Elíseos) tão esperada pelo público que ficou decepcionado com a direção horrível e a dublagem da Dubrasil que fez o desenho perder o tom de filme. e voltar a mais um desenho infantil.
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