sábado, 12 de abril de 2025

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Pantanal

Em 2020, eu fiz aqui uma série de posts falando sobre novelas. Não era minha intenção fazer uma série, apenas falar sobre Que Rei Sou Eu?, de forma que foi tudo resolvido meio no improviso, comigo escolhendo as novelas sobre as quais iria falar conforme decidia escrever os posts. Também não era minha intenção nunca mais falar sobre novelas depois disso, até planejava fazer um ou outro posts de vez em quando, mas a verdade é que eu não me animei a escrever mais nenhum.

Recentemente, entretanto, minha esposa começou a assistir Pantanal, a nova versão, de 2022, no Globoplay. Eu nunca assisti à Pantanal original, principalmente porque, quando ela foi exibida, em 1990, apesar de ela ter estreado depois de minha mãe já ter liberado eu e minha irmã para assistirmos novelas das 8 - antes disso, só podíamos assistir das 6 e das 7 - ela passava na Manchete, começava mais tarde que a novela das 8 da Globo (que, na época, era Rainha da Sucata, primeira novela das 8 que eu assisti) e era "cheia de mulher pelada", então minha mãe manteve seu veto para essa novela específica, e não deixou a gente assistir. Eu me lembro, porém, do hype, como se diz hoje, e sei da importância de Pantanal para a história da televisão e das novelas brasileiras, de forma que ela me parece um excelente assunto para um post. Portanto, hoje é dia de Pantanal no átomo!

Pantanal é uma novela de Benedito Ruy Barbosa, que, após uma bem sucedida carreira escrevendo novelas das 8 entre 1966 e 1970 para as TVs Excelsior, Tupi e Record, seria contratado pela Globo, estreando na emissora em 1971 com a novela das 6 Meu Pedacinho de Chão. Apesar de sempre pedir para retornar à faixa das 8, a Globo, que na época tinha escrevendo para o horário nobre medalhões como Janete Clair, Lauro César Muniz e Gilberto Braga, só encomendava a ele mais novelas das 6, tendo sido também de sua autoria para essa faixa de horário O Feijão e o Sonho (1976), À Sombra dos Laranjais (1977) e Cabocla (1979). Insatisfeito por não ter seu desejo atendido, ele trocaria a Globo pela Bandeirantes, onde escreveria Pé de Vento e o gigantesco sucesso Os Imigrantes, que motivaria a Globo a recontratá-lo com a promessa de que ele teria a chance de escrever uma novela das 8 - que a emissora acabaria não cumprindo, com suas duas novelas seguintes, Paraíso (1982) e Voltei pra Você (1983) também sendo novelas das 6.

Quando foi recontratado pela Globo, entretanto, Benedito começaria a escrever Amor Pantaneiro, um drama familiar repleto de realismo fantástico ambientado no Pantanal matogrossense, que ele planejava ser sua primeira novela das 8. Ele a ofereceria à Globo em 1984, quando, na faixa das 6, era exibida a novela Livre Para Voar, de Walther Negrão. A Globo ficaria receosa em aprovar a produção, e acabaria convencendo Benedito a adaptar a história para que ela se tornasse mais uma novela das 6, o que ele, relutantemente, aceitou. Fortes chuvas levariam a uma cheia histórica que impossibilitariam as gravações no Pantanal, porém, e Amor Pantaneiro acabaria engavetada, com Livre Para Voar sendo substituída por A Gata Comeu, de Ivani Ribeiro, e Benedito escrevendo em seguida Sinhá Moça (1986) e Vida Nova (1988), ambas, também, novelas das 6.

A partir da metade da década de 1980, a Rede Manchete também passaria a investir na produção de novelas, começando por Antônio Maria, de 1985, seguida por Dona Beija, Novo Amor, Tudo ou Nada, Mania de Querer, Corpo Santo, Helena, Carmem, Olho por Olho e Kananga do Japão. Nenhuma delas sequer arranharia a audiência da Globo, com até mesmo a mais bem sucedida dessa lista, Dona Beija, protagonizada pela lindíssima Maitê Proença praticamente pelada em todos os episódios, tendo média nacional de 12 pontos de audiência, enquanto sua concorrente na Globo, o remake de Selva de Pedra, marcava em média 40 pontos. Enquanto Kananga do Japão estava no ar, o produtor Alexandre Ishikawa descobriria que Benedito tentava há tempos escrever uma novela das 8 e não conseguia, e, como todas as novelas da Manchete iam ao ar às 9, sugeriria que o canal tentasse sua contratação. Benedito, ao ver a chance de finalmente realizar seu sonho, aceitaria e ainda levaria com ele vários atores do primeiro time da Globo, como Cláudio Marzo, Nathália Timberg e Cássia Kiss, que tinham interesse em participar de sua novela.

As filmagens começariam em dezembro de 1989, e ocorreriam no Pantanal, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A maioria das cenas internas seria gravada nos estúdios da Manchete, em Vista Alegre, no Rio de Janeiro, com exceção das ambientadas no interior das casas de Zé Leôncio e Tenório, gravadas no Complexo de Água Grande, no bairro do Irajá. As cenas gravadas no Pantanal trariam muitas imagens inéditas na televisão brasileira, e ajudariam a popularizar vários animais da fauna local - um animal bastante comentado seria a piranha, usada na trama para matar alguns personagens com a justificativa de que não deixavam rastros, já que consumiam toda a carne enquanto os ossos iam para o fundo do rio. Um membro ilustre do elenco seria a sucuri Rafaela: com 6 metros de comprimento e pesando 90 quilos, domesticada e extremamente dócil, foi mascote do Instituto Vital Brasil, onde morou durante mais de 30 anos, e era inclusive "maquiada" para cenas nas quais a cobra que precisava ser retratada era outra, como uma jararaca, jiboia ou surucucu.

A única onça-pintada usada nas filmagens também não seria natural do local: na época, os fazendeiros matavam o animal indiscriminadamente, alegando que eles matavam seu gado e traziam prejuízos financeiros, o que levava todas as onças a se retraírem à floresta e fez com que a equipe de filmagens não encontrasse nenhuma. Como não foi possível encontrar uma onça domesticada, todas as imagens do bicho seriam filmadas no zoológico do Rio de Janeiro, e suas imagens seriam editadas para parecer que ela estava no Pantanal. De lá pra cá, a caça à onça seria proibida, e hoje o animal já pode ser facilmente encontrado no Pantanal, sendo um dos principais motivos para a visita de turistas, mas, ainda assim, se encontra na lista dos animais ameaçados de extinção. Além de não ser moradora local, a onça da novela ainda miava (não ela, mas um efeito adicionado na pós-produção dos capítulos), algo que, na natureza, é impossível, devido às características das cordas vocais do animal.

A novela também seria creditada por acender o interesse na exploração e conservação dos jacarés: em diversos diálogos, Zé Leôncio e Tenório conversam sobre a viabilidade da criação de jacarés para comercializar sua carne e couro e devolver parte dos animais à natureza; enquanto a novela estava no ar seria feito um estudo de viabilidade, e hoje a criação já é uma realidade, com o jacaré-do-pantanal tendo saído da lista dos ameaçados de extinção graças às fazendas que investem no animal. Os jacarés também seriam responsáveis por um momento tenso das gravações, quando seis jacarés do papo amarelo invadiriam as gravações de uma cena com a atriz Cristiana Oliveira, se esgueirando sem que ninguém percebesse até que ela se visse cercada, tendo de contar com a ajuda do cantor Sérgio Reis para escapar antes de ser atacada.

Sérgio Reis, aliás, faria sua estreia como ator nessa novela, interpretando Tibério, peão que era o braço-direito de Zé Leôncio. A novela também marcaria a estreia na televisão de Almir Sater, Andréa Richa, Ângelo Antônio, Giovanna Gold, Ingra Lyberato, Leandra Leal, Luciene Adami e Carolina Ferraz, que na época era jornalista e apresentadora do Programa de Domingo, não tinha interesse em fazer novela, e acabou coagida a interpretar Irma sob ameaça de demissão. Cristiana Oliveira, que muitos imaginavam também ser uma estreante, na verdade havia começado sua carreira televisiva em Kananga do Japão, e ganhado o papel de Juma Marruá após Glória Pires, convidada por telefone por Benedito Ruy Barbosa, recusá-lo; Juma lançaria Cristiana, que superaria Adriana Esteves e Deborah Bloch nos testes, ao estrelato e a transformaria em símbolo sexual, sendo, até hoje, o maior sucesso de sua carreira. Vale citar também como curiosidade que o papel de Roberto, filho de Tenório, ficaria inicialmente com Livingstone Trobilo, afilhado da primeira-dama da Manchete, Ana Bentes Bloch, mas, como não conseguiria conciliar as gravações com os estudos, ele acabaria sendo substituído pelo colega de escola Eduardo Cardoso, que seria muito elogiado pela crítica.

Dois personagens acabariam tendo de sair da novela por motivos alheios à vontade do autor: Ítala Nandi, intérprete de Madeleine, mãe do filho de Zé Leôncio, havia pedido uma autorização para o governo da Índia para gravar o documentário Índia - O Caminho dos Deuses naquele país, antes de as gravações de Pantanal começarem; a autorização seria concedida, juntamente com um gordo patrocínio, justamente quando Ítala estava gravando a novela, e, com medo de perder a oportunidade, ela pediria para sair, o que desagradaria Benedito Ruy Barbosa - segundo a atriz, ela ficaria "queimada", e ele nunca mais a chamaria para uma novela sua. Já o cantor Almir Sater, que vivia o peão Trindade, seria escalado pela Manchete para protagonizar sua novela seguinte, A História de Ana Raio e Zé Trovão, e teria de deixar Pantanal antes do fim das filmagens, quando as da novela nova começassem; curiosamente, quem faria a Ana Raio, par do Zé Trovão de Sater, seria Ingra Lyberato, que em Pantanal interpretou a Madeleine jovem, na primeira fase.

A história começa quando Zé Leôncio (Paulo Gorgulho), um peão de boiadeiro que foi morar com seu pai no Pantanal matogrossense e fez fortuna criando gado, vem ao Rio de Janeiro para cobrar uma dívida, e conhece o taxista Chico (Oswaldo Loureiro), que o leva a vários pontos turísticos da cidade, pensando em dar um golpe e ficar com o dinheiro que ele cobrou do caloteiro, e alardeando pra todo mundo que seu passageiro era "o Rei do Gado". Chico leva Zé Leôncio para jantar em um restaurante chique da zona sul, onde o peão conhece Madeleine (Ingra Liberato, que, na época, escrevia seu nome com i), moça de uma tradicional família carioca, cujo pai, Antero (Sérgio Britto), é viciado em jogo e já perdeu praticamente todo o dinheiro da família. Homem simples e rude, Zé Leôncio se apaixona pela beleza e sofisticação de Madeleine, e, de olho em seu dinheiro, Antero permite que os dois se casem, apesar dos protestos da mãe da moça, Mariana (Nathália Timberg).

Após o casamento, Zé Leôncio leva Madeleine para viver em sua fazenda no Pantanal, mas, acostumada à vida na cidade grande, ela não se adapta, e nem mesmo sua gravidez, da qual resulta um filho que o peão decide chamar de Joventino, mesmo nome de seu pai, faz com que a moça se conforme com sua nova vida. Ao escrever uma carta declarando sua insatisfação a sua irmã, Irma (Carolina Ferraz), ela motiva um amigo que é apaixonado por ela, Gustavo (José de Abreu) a viajar até o Pantanal e convencê-la a voltar ao Rio de Janeiro, trazendo a criança. Enfurecido e achando que é corno, Zé Leôncio decide viajar ao Rio de Janeiro para matar Madeleine e Gustavo e retornar para o Pantanal com seu filho, mas é convencido a deixar a criança com a mãe por Antero. Ao retornar à fazenda, ele passa a ter um caso com sua empregada, Filó (Tânia Alves), que sempre fora apaixonada por ele e tem um filho de outro relacionamento, Tadeu, que Zé Leôncio passa a criar como se fosse seu próprio filho.

Paralelamente a isso, vivem nas terras de Zé Leôncio o casal Gil (José Dumont) e Maria Marruá (Cássia Kiss), que está grávida. Gil acaba morto em uma vingança de grileiros de terra que ele enfrentou antes de se mudar para o Pantanal, e Maria dá a luz no meio do rio a uma menina chamada Juma. Segundo a lenda, quando Juma era uma criança, uma sucuri iria atacá-la, mas Maria se transformou em onça e enfrentou a cobra, poder que teria sido herdado pela menina. Amargurada, Maria criaria Juma como selvagem, sem nenhum contato com a civilização e pouquíssimo com outras pessoas.

O tempo passa, e o filho de Zé Leôncio (Cláudio Marzo) e Madeleine (Ítala Nandi), a quem todos chamam de Jove (Marcos Winter), decide ir morar com o pai no Pantanal. O jeito do rapaz de família rica da cidade grande, entretanto, faz com que Zé Leôncio pense que o filho é homossexual, e logo ele vira chacota dentre os peões da fazenda. Desgostoso, ele decide retornar ao Rio de Janeiro, mas leva consigo Juma Marruá (Cristiana Oliveira), a quem conheceu acidentalmente e por quem se apaixonou. Juma, contudo, sofre um choque cultural, e, vendo que a única forma de ficar com ela é retornando à fazenda, Jove decide provar ao pai que pode ser um autêntico peão pantaneiro, o que irrita Filó (Jussara Freire) e Tadeu (Marcos Palmeira), já que, sem Jove na jogada, Tadeu seria o herdeiro de Zé Leôncio.

Paralelamente a isso, chega ao Pantanal Muda (Andréa Richa), moça que tem esse apelido porque não fala, que logo se torna grande amiga de Juma, vai morar na casa abandonada dos Marruá, e forma um triângulo amoroso com os peões Tibério (Sérgio Reis) e Levi (Rômulo Arantes), que é mau caráter e está disposto a tudo para derrotar o rival e ficar com a moça. Muda, na verdade, é a filha do homem assassinado por Gil Marruá antes de ele se mudar para o Pantanal, e vai até lá pensando em prejudicar Juma, mas logo se vê dividida em sua lealdade devido à amizade que forma com a mulher-onça e ao amor de Tibério.

Zé Leôncio também tem um rival, o fazendeiro vizinho, Tenório (Antônio Petrin), casado com a submissa Maria Bruaca (Ângela Leal) e pai de Guta (Luciene Adami), que adora desafiar o pai e é mais sexualmente liberada do que a população do Pantanal está acostumada, sendo considerada devassa e despudorada. Ninguém sabe, mas Tenório é o verdadeiro responsável pelo assassinato do pai de Muda, que levaria à morte do pai de Juma. Também é segredo que ele possui uma segunda família em São Paulo, com uma segunda esposa chamada Zuleika (Rosamaria Murtinho) e três filhos, Marcelo (Tarcísio Filho), Renato (Ernesto Piccolo) e Roberto (Eduardo Cardoso). Ao descobrir esse fato, Maria passa a desafiar o marido e, por vingança, começa um tórrido romance com o peão Alcides (Ângelo Antônio). Quem mais sofre com a revelação é Guta, que, antes de descobrir a verdade, teria um romance com seu próprio irmão, Marcelo. Outra personagem de destaque ligada a esse núcleo seria Zefa (Giovanna Gold), empregada contratada por Tenório após Maria se revoltar e parar de cuidar da casa, que teria um romance com Tadeu.

A rivalidade entre Jove e Tadeu e seus casos amorosos seriam um dos pontos altos da novela: antes de Jove se envolver com Juma e Tadeu com Zefa, ambos teriam casos com Guta, e, antes de ir morar com o pai, Jove tinha uma namorada chamada Nalvinha (Flávia Monteiro), que, irritada por ter sido preterida, espalharia para todo mundo que ele tirou sua virgindade em um motel, o que na época era um escândalo. Para piorar a situação, mais para o meio da novela Zé Leôncio descobre que tem um filho primogênito chamado José Lucas de Nada (Paulo Gorgulho), fruto de uma noite de amor com a prostituta Generosa (Kátia D'Angelo), num bordel onde seu pai o levou quando ele completou 15 anos para que ele virasse homem, o que faria com que sua futura herança fosse ainda mais disputada.

Além da suposta habilidade de Juma se transformar em onça, a história teria outros dois elementos sobrenaturais: o misterioso peão Trindade (Almir Sater), que alguns dizem ter um pacto com o diabo, enquanto outros acreditam ser o diabo em pessoa; e o mítico Velho do Rio (também Cláudio Marzo), a quem muitos consideram ser apenas uma lenda, curandeiro que mora no interior da floresta, protege os animais ameaçados pelo homem, resgata viajantes que se perdem na mata e cuida dos atacados pela temida jararaca boca de sapo, e que supostamente teria o poder de se transformar em sucuri. Há uma desconfiança de que o Velho do Rio é na verdade Joventino (também Cláudio Marzo), o pai de Zé Leôncio, desaparecido anos antes de o peão ir ao Rio de Janeiro, enquanto caçava marruás (bois selvagens do Pantanal).

Diversos outros atores famosos da Globo fariam participações especiais, como Elaine Cristina (que interpretava Irma na segunda fase), Ivan de Almeida, Gláucia Rodrigues, Júlio Levy, Marcos Caruso, Ewerton de Castro, Sérgio Mamberti, Regina Dourado, Antônio Pitanga, Buza Ferraz, Enrique Diaz, Rubens Corrêa, Valter Santos, Totia Meirelles, Jece Valadão, Giuseppe Oristânio, Luiz Armando Queiroz, Maurício do Valle e Jofre Soares - que parece sempre fazer papel de padre, interpretando mais um no último capítulo.

A novela teria trilha sonora de Marcus Viana, que depois se tornaria famoso compondo as trilhas das novelas de Glória Perez na Globo. Diferentemente do que fazia a Globo, a Manchete não colocou nenhuma música internacional na novela, lançando dois álbuns com trilhas sonoras nacionais: o primeiro pouco após a estreia da novela, trazia, além de Sérgio Reis e Almir Sater, canções de Ivan Lins, Simone e Sá & Guarabira, dentre outros; o segundo, lançado pouco após sua metade, se aproveitaria do sucesso da novela para incluir grandes nomes da música nacional, como Maria Bethânia e Caetano Veloso, mas em sua maioria as canções seriam de Viana. A música de abertura seria da banda Sagrado Coração da Terra, que também experimentaria um surto de popularidade devido ao sucesso da novela. A abertura, aliás, trazia, em meio a imagens da natureza, uma sucuri e uma onça, que, através de truques simples de edição, sem uso de computação gráfica, se transformava na modelo (e futura atriz e apresentadora) Nani Venâncio (capa da Playboy de janeiro de 1989), que, completamente nua, mergulhava no rio e abraçava um homem que estava lá por algum motivo.

Com direção de Carlos Magalhães, Roberto Naar e Marcelo de Barreto e direção geral de Jayme Monjardim, Pantanal estrearia em 27 de março de 1990. Com 210 capítulos, estreou com média de 7 pontos de audiência, mas rapidamente chegou aos 20, com picos de 30. A partir da quarta semana, todos os seus capítulos superariam a audiência da Globo, com o último registrando 31 pontos e a média final da novela ficando em 22 pontos de audiência, a maior da história da Rede Manchete. Em 2016, a revista Veja elegeria Pantanal a quarta melhor novela da história da televisão brasileira, atrás de Vale Tudo (1988), Avenida Brasil (2012) e Roque Santeiro (1985).

Pantanal entraria para a história como a única novela a conseguir superar a programação da Globo em audiência, mas também é dito que ela superava Rainha da Sucata, o que é incorreto, já que as duas não eram exibidas no mesmo horário, com cada episódio de Pantanal começando após o capítulo do dia de Rainha da Sucata já ter terminado. Para tentar reverter a situação, inclusive, a Globo começaria a esticar os capítulos de Rainha da Sucata, e, em 15 de outubro de 1990, suspenderia sua linha de programas que iam ao ar após a novela das 8, que incluíam TV Pirata e Linha Direta, para levar ao ar em seu lugar, no mesmo horário de Pantanal, a novela Araponga, escrita por Dias Gomes, Lauro César Muniz e Ferreira Gullar, com Tarcísio Meira e Christiane Torloni, prevista originalmente para substituir Rainha da Sucata. A ideia, evidentemente, era que Araponga roubasse audiência de Pantanal, mas isso não somente não deu certo como a audiência de Araponga seria tão baixa que a Globo decidiria encurtá-la e voltar com sua programação tradicional após seu final.

Pantanal seria reprisada duas vezes pela Manchete, a primeira às 19h30, em uma versão editada e mais apropriada para o horário, entre 17 de junho de 1991 e 18 de janeiro de 1992. A segunda, sem cortes e na íntegra, seria exibida às 21h entre 26 de outubro de 1998 e 14 de julho de 1999, substituindo Brida, última novela produzida pela emissora - entre A História de Ana Raio e Zé Trovão e Brida, seriam produzidas Amazônia, Guerra sem Fim, 74.5: Uma Onda no Ar, Tocaia Grande, Xica da Silva e Mandacaru, se alguém quiser a lista completa. Segundo consta, Brida, adaptação do livro homônimo de Paulo Coelho, seria tão cara que levaria a Manchete, já mal das finanças, à falência, declarada em 17 de maio de 1999, o que faria com que a segunda reprise de Pantanal fosse concluída já pela Rede TV!, sua sucessora.

Após a falência da Manchete, os direitos sobre o texto de Pantanal voltariam para Benedito Ruy Barbosa, que os negociaria com a Globo. De início, a emissora não demonstraria interesse, mas, após dois remakes de novelas de Benedito, Cabocla (2004) e Sinhá Moça (2006), se tornarem grandes sucessos na faixa das 6, a Globo começaria a negociar com Benedito para que ele adaptasse o texto e Amor Pantaneiro finalmente fosse ao ar, em 2008. Enquanto esse projeto estava em desenvolvimento, entretanto, o SBT, na surdina, sem anunciar nada a ninguém, começaria a reprisar Pantanal, com cada capítulo começando quando a então novela das 8 da Globo, A Favorita, terminasse. Sílvio Santos faria questão de manter a estreia da reprise em segredo, com apenas os profissionais envolvidos em levá-la ao ar sabendo que ela aconteceria, mas dizendo aos demais funcionários da emissora que ele tinha uma "arma secreta" para tirar audiência da Globo.

A Globo, evidentemente, processaria o SBT, alegando que a reprise da novela era ilegal, mas a emissora paulista contra-argumentou dizendo que havia adquirido as fitas originais da Manchete, junto com as de Xica da Silva em um leilão da massa falida, e que a Globo teria direito apenas ao texto, mas não às imagens. Em primeira instância, a justiça daria razão à Globo, mandando o SBT tirar a reprise do ar e proibindo-o de reprisar a novela novamente, mas o SBT conseguiria uma liminar para manter a novela no ar e recorreria, com a decisão em segunda instância, que saiu apenas em 2014, dando ganho de causa ao SBT. Apesar de Benedito ter declarado em entrevistas que desistiria do processo, a Globo recorreria, e, em 2016, o STJ decidiria que o SBT estava errado, dando mais uma vez ganho de causa para a Globo. Só que aí o SBT já havia reprisado toda a novela há muito tempo, de forma que apenas o que restava era uma compensação financeira para Benedito, fixada em 250 mil reais, valor que o autor considerou "ínfimo e irrisório" diante do que o SBT lucrou com a exibição da novela. Benedito recorreria para tentar conseguir um valor maior, mas o STJ determinaria que, como o SBT comprou as fitas legalmente, caberia ao autor apenas indenização por danos morais, não participação nos lucros obtidos pela reprise.

O SBT exibiria a novela em 187 capítulos, entre 9 de junho de 2008 e 13 de janeiro de 2009 - apesar do número menor de capítulos, a novela seria reexibida na íntegra, já que, na primeira semana, o SBT exibiria três capítulos seguidos por dia, para que a primeira fase ficasse menos tempo no ar. A abertura da novela também seria alterada, para uma versão mais bem comportada, com cenas bucólicas do Pantanal. A novela conseguiria média de 15 pontos de audiência no SBT, com picos de 20, e frequentemente superaria a programação que a Globo estaria exibindo no mesmo horário.

Em julho de 2020, motivada por notícias de que queimadas assolavam o Pantanal matogrossense, a Globo negociaria mais uma vez com Benedito Ruy Barbosa a produção de uma obra baseada em seu texto; dessa vez, a ideia original era fazer uma minissérie que seria disponibilizada exclusivamente na plataforma de streaming Globoplay, mas, durante as conversas, ficaria decidido que seria feito um remake da novela para estreia na faixa das 21h logo após Um Lugar ao Sol, que, por sua vez, sucederia Amor de Mãe, que estava no ar quando começou a quarentena da pandemia, em março de 2020. A novela seria oficialmente anunciada no Fantástico em setembro de 2020, mas dificuldades na produção causadas pelas queimadas e pela pandemia levariam ao seu adiamento, com a estreia ocorrendo apenas em 2022.

Oficialmente, o remake seria uma obra de Bruno Luperi, neto de Benedito, que, na época, estava escrevendo, e teve de suspender, O Arroz de Palma, novela que estrearia na faixa das 6 baseada no livro homônimo de Francisco Azevedo. Luperi trabalharia sobre o texto do avô, mudando muito pouca coisa - alguns diálogos são idênticos aos da versão que foi ao ar em 1990. Benedito não se envolveria com o texto, mas pediria para ser consultado quanto ao elenco; ele desejava que atores que estiveram na primeira versão fossem convidados para papéis fixos ou participações especiais, mas apenas Paulo Gorgulho, Marcos Palmeira, Almir Sater e Gláucia Rodrigues estariam disponíveis e aceitariam o convite - Cristiana Oliveira, Ingra Lyberato, Giovanna Gold e Sérgio Reis fariam uma pequena participação no último episódio, assim como Luiz Henrique Sant'Agostinho, que não é ator profissional e, na primeira versão, interpretou o personagem Ari; Cláudio Marzo, falecido em 2015, apareceria de forma póstuma como o peão fantasma. Gabriel Sater, filho de Almir, se sairia bem nos testes e seria escolhido para interpretar Trindade.

Muitos atores tiveram de ser substituídos durante a pré-produção. Antônio Fagundes, inicialmente escalado para viver o Velho do Rio, teve seu contrato com a Globo encerrado antes do início das gravações, e preferiu, ao invés de renovar, se dedicar à sua própria produtora. Rafael Cardoso seria reservado para interpretar Jove, mas acabaria trocado por ajustes feitos de acordo com as idades dos personagens. Bruna Marquezine havia sido convidada para interpretar Juma, mas teria de recusar após se comprometer com a série Maldivas, da Netflix; a preferida para o papel seria Vanessa Giácomo, descartada pela direção da Globo devido à sua idade. Letícia Spiller, que havia sido convidada para interpretar Madeleine na segunda fase, também teve de recusar por questões de agenda, com a produção cogitando Vivianne Pasmanter e Maria Fernanda Cândido. Jackson Antunes, que viveria Tibério, também teve de recusar por ainda estar envolvido com as gravações de Nos Tempos do Imperador, exibida na faixa das 6 quando as gravações começaram. Lília Cabral e Denise Del Vecchio seriam convidadas para interpretar Mariana, e Marcos Caruso para interpretar Antero, mas decidiriam não aceitar.

As gravações ocorreriam nos estúdios da Globo no Projac, no Rio de Janeiro, e no Pantanal de Nhecolândia, no Mato Grosso do Sul; a fazenda de Zé Leôncio, localizada em Aquidauana, seria a mesma usada nas gravações da novela original em 1990. No elenco, dentre outros, estariam Marcos Palmeira como Zé Leôncio, Jesuíta Barbosa como Jove, Alanis Guillen como Juma, Dira Paes como Filó, José Loreto como Tadeu, Murilo Benício como Tenório, Isabel Teixeira como Maria Bruaca, Camila Morgado como Irma, Bella Campos como Muda, Guito como Tibério, Juliano Cazarré como Alcides, Leopoldo Pacheco como Antero, Selma Egrei como Mariana, Karine Teles como Madeleine, Paula Barbosa como Zefa, Julia Dalavia como Guta, Aline Borges como Zuleika, Irandhir Santos como José Lucas, e Osmar Prado como o Velho do Rio. Participações especiais incluem Juliana Paes como Maria Marruá, Enrique Diaz como Gil, Bruna Linzmeyer como Madeleine na primeira fase, Caco Ciocler como Gustavo e Giovana Cordeiro como Generosa.

Pantanal seria exibida entre 28 de março e 7 de outubro de 2022, em 167 capítulos. Seria o primeiro remake exibido na faixa das 21h, criada em 2011, e o primeiro a ser exibido em horário nobre desde Selva de Pedra, em 1986. No início, seria a novela de pior audiência da história da faixa das 21h, mas após três semanas se recuperaria, chegando a alcançar 33 pontos de audiência e fechando com média de 29, sendo até agora a novela mais assistida da década de 2020. A trama também é a mais assistida da história do Globoplay, e seria indicada ao Emmy Internacional de Melhor Telenovela, perdendo para a turca Yargi: Segredos de Família.

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