domingo, 18 de dezembro de 2022

Escrito por em 18.12.22 com 0 comentários

Shantae

Faz muito tempo que eu não falo aqui no átomo sobre um jogo de videogame - mais de um ano, para ser mais exato. A razão para isso é que eu acho que já falei sobre todos dos quais eu gostava, e, por sua vez, a razão dessa lista dos games dos quais eu gosto não continuar aumentando é que eu parei de jogar faz tempo - o último videogame que eu comprei foi o Playstation 3, e não me sinto animado a comprar um novo para jogar os games de hoje em dia, que me parecem desnecessariamente longos e complicados. Inclusive, isso me lembra uma história: quando eu era criança, lá na década de 1980, estava com minha família no shopping, e meu pai decidiu entrar numa loja pra comprar um computador MSX. Acabou que naquele dia ele não comprou, não sei por qual motivo (devia estar caro), embora tenha comprado em outra loja mais tarde; o que interessa pra essa história é que, naquele dia, eu sonhei que eu tinha ido com ele comprar um videogame (eu não sabia muito bem o que era um computador, mas sabia que o MSX rodava jogos), e, na loja do meu sonho, tinha um com gráficos tão perfeitos que pareciam um filme. No sonho, meu pai queria comprar esse, mas eu me recusava, dizendo que jogos que pareciam filme não tinham graça. Até hoje, quando vejo alguns jogos do Playstation 5, me lembro desse sonho profético, pois os gráficos estão cada vez melhores, e eu cada vez estou achando menos graça.

Enfim, talvez seja velhice, mas a triste verdade é que os games de hoje em dia não me atraem mais, então faz tempo que eu não experimento um novo. Essa semana, porém, eu me lembrei de um dos últimos jogos que joguei quando tinha um desktop (desde 2019, só tenho um notebook, e nunca tentei jogar nele), e, pesquisando, descobri que ele faz parte de uma série. Achei que seria legal fazer mais um post sobre games antes de o milésimo chegar, e saiu esse aqui. Hoje é dia de Shantae no átomo!

Shantae é uma geniazinha (na verdade uma meio-geniazinha, já que seu pai é humano), que, em jogos ao estilo plataforma, ataca oponentes com seus longos cabelos e usa movimentos de dança do ventre para se transformar em diversos animais, usando esses dois pitorescos poderes para derrotar seus inimigos, a principal deles sendo a pirata Risky Boots, e defender a terra de Sequin, onde suas histórias são ambientadas. Seus jogos foram lançados pela WayForward (e fizeram tanto sucesso que Shantae se tornou a mascote da empresa, do mesmo jeito que o Sonic se tornou a mascote da Sega) e criados por Matt Bozon; a personagem Shantae, porém, foi criada pela esposa de Bozon, Erin Bell.

Em 1994, Bell trabalhava como monitora em uma colônia de férias para pré-adolescentes, e uma dessas pré-adolescentes era uma menina chamada Shantae, que estava aprendendo dança do ventre. Bell decidiria criar uma personagem baseada nessa menina e usá-la em uma história em quadrinhos, mas, pouco depois, Bozon, que na época era seu noivo, disse que estava tentando criar um personagem para ser protagonista de um jogo de videogame. Bell mostrou sua criação a Bozon e deu várias ideias para o jogo, dentre elas a de que a geniazinha poderia usar os movimentos da dança do ventre para conjurar ou hipnotizar animais. Bozon adorou a ideia, e criou o cenário e a história do jogo em torno de Shantae, com Bell ajudando-o a criar os demais personagens. Somente o modo de ataque de Shantae que não tem uma explicação clara: em entrevistas após o lançamento do primeiro jogo, Bozon diria ter se inspirado no cabelo de Bell, que na época era muito comprido, mas, em entrevistas mais recentes, disse que os rascunhos originais de Bell para a personagem já mostravam-na usando o cabelo para aplicar golpes em oponentes.

O primeiro jogo de Shantae, chamado simplesmente Shantae, seria criado pela WayForward e lançado pela Capcom para o Game Boy Color, em 2002. Trata-se de um jogo de plataforma tradicional, no qual o jogador controla Shantae em vários cenários, destruindo inimigos, conversando com outros personagens e recolhendo itens. O jogo não possui uma divisão clara entre fases, sendo composto por 22 áreas sequenciais que pertencem a cinco cidades de Sequin; além de Shantae e Risky (que aparece várias vezes como chefe), o jogo conta com a presença de vários amigos de Shantae: Bolo, melhor amigo da geniazinha, que quer provar que pode ser um herói; Mimic, um velhinho caçador de tesouros que criou Shantae após seus pais desaparecerem; Sky, filha de um caçador de tesouros e treinadora de falcões, que tem um falcão de estimação chamado Wrench; e Rottytops, uma menina-zumbi que originalmente é um dos inimigos, mas depois se torna amiga de Shantae, embora não seja confiável. Nenhum deles pode ser controlado pelo jogador, mas todos aparecem em diversos momentos do jogo para ajudar a história a avançar.

Falando em história, Shantae é ambientada na já citada Sequin, uma terra de magia e tesouros, que no passado era protegida pelos gênios. Com o passar dos anos, os gênios foram se apaixonando pelos humanos, e vários meio-gênios foram nascendo, incluindo Shantae. Um dia, sem maiores explicações, todos os gênios sumiram, e os meio-gênios foram apontados como os novos protetores de Sequin. Risky, a autodeclarada "Rainha dos Sete Mares", chega a Sequin disposta a roubar tantos tesouros quanto possível, e começa roubando de Mimic um artefato que pode ser transformado em uma arma invencível se ela conseguir as quatro Pedras Elementais. Mimic, então, pede ajuda a Shantae, que deve encontrar as quatro pedras, cada uma escondida no centro de uma masmorra, antes que a pirata consiga colocar as mãos nelas.

O jogo usa quatro botões: A faz Shantae saltar; B ativa seu característico golpe com o cabelo, faz com que ela fale com outros personagens, e, se pressionado enquanto ela anda, faz ela correr; Start pausa o jogo, mostra o inventário e a lista de danças; e Select ativa a dança selecionada. Derrotando os inimigos, Shante consegue gemas que podem ser usadas para comprar itens em lojas presentes em locais pré-determinados do mundo de jogo; esse itens devem ser acionados no inventário, e incluem, dentre outros, poções que recuperam energia e itens que permitem que ela não morra quando cai em buracos, que aumentam a força da cabelada, ou que a tornam invencível por um curto período de tempo. Ao invés das gemas, alguns inimigos podem deixar pra trás quando derrotados corações que recuperam a energia de Shantae ou aumentam sua barra de energia, vidas extras, e vaga-lumes, que permitem que ela aprenda novas danças. As danças são a principal característica do jogo, e com elas Shantae pode se transformar em macaco, que escala paredes; elefante, que destrói objetos do cenário; aranha, que também escala paredes, mas salta muito mais longe; e harpia, que pode voar. Após selecionar a dança no menu e ativá-la, surge uma barra na parte de baixo da tela, e o jogador deve apertar os botões mostrados nos momentos corretos para que Shantae dance direito e execute a transformação.

Uma característica interessante, mas irritante, de Shantae é que o jogo é diferente se estiver sendo jogado durante o dia ou durante a noite. Alguns elementos, como a caravana de zumbis da qual Rottytops faz parte, só podem ser encontrados à noite, assim como os corações que aumentam a barra de energia e os vaga-lumes; o problema é que os inimigos são muito mais fortes e demoram muito mais a morrer durante a noite, o que resulta em estresse desnecessário para o jogador. Outra dificuldade é que as estátuas usadas para demarcar a última posição de Shantae - o lugar para onde ela volta quando perde uma vida - são raras e esparsas, o que faz com que o jogador possa ter de refazer pedaços enormes do jogo caso Shantae morra. Para tentar ajudar, Shantae pode encontrar nas fases bebês-lula e devolvê-los para suas mães nas cidades; através do inventário, Shantae pode se teletransportar instantaneamente para qualquer cidade na qual tenha entregado um bebê-lula para sua mãe. Finalmente, o jogo conta com diversos minigames, a maioria de apostas, nos quais Shantae pode ganhar mais gemas.

Shantae começaria a ser desenvolvido em 1997, para Playstation e PC, com personagens modelados em 3D sobre cenários também em 3D, mas perspectiva 2D como um jogo de plataforma tradicional - mais ou menos como Megaman 8. O desenvolvimento se mostraria muito mais caro que o esperado, porém, e a WayForward decidiria abandonar o projeto ainda em suas fases iniciais. Bozon, então, recorreria a Jimmy Huey, programador que estava trabalhando em um jogo da WayForward para o Game Boy Color, Xtreme Sports, chegando até a colocar a própria Bell em contato com ele para convencê-lo do potencial da personagem. Huey se encantaria pelas ideias de Bozon e Bell, e convenceria Voldi Way, o dono da WayForward, a retomar o projeto, mas com o jogo sendo desenvolvido para o Game Boy Color e usando o mesmo engine de Xtreme Sports, para cortar custos - o que acabaria se revelando uma grande vantagem, pois Shantae teria elementos como transparências e paralaxes pouco vistos em jogos de plataforma para esse portátil.

Infelizmente, usar o mesmo engine de Xtreme Sports e ser desenvolvido para o Game Boy Color também resultaria em duas grandes desvantagens: primeiro, para que o portátil pudesse rodar o jogo corretamente, o cartucho deveria ter 32 megabits de memória e uma bateria extra (exatamente como o de Xtreme Sports), o que faria com que sua fabricação fosse muito cara, e com que a WayForward precisasse de um parceiro - Xtreme Sports seria lançado pela Infogrames, que não se interessaria por Shantae, por achar que não valeria a pena investir em um jogo protagonizado por um personagem totalmente novo, sem ter certeza de que suas vendas cobririam seus custos. O jogo ficaria pronto em 1999, mas a WayForward levaria quase dois anos para conseguir um parceiro, e, quando a Capcom finalmente aceitasse, ainda atrasaria seu lançamento em quase oito meses. Isso faria com que, quando Shantae fosse finalmente lançado, em junho de 2002, o Game Boy Color já estivesse no final de sua vida útil, e o Game Boy Advance, seu sucessor, já estivesse plenamente estabelecido no mercado. Para tentar aumentar a vida útil do jogo, a WayForward incluiria de última hora uma dança nova, com a qual Shantae podia se transformar em um dos piratas que acompanham Risky, mas que só estava disponível caso o cartucho fosse usado em um Game Boy Advance.

A Capcom lançaria uma tiragem pequena, entre 20 e 25 mil cópias, que se esgotaria, mas, com o Game Boy Color já saindo do mercado, ela decidiria não lançar uma segunda tiragem. Isso faria com que o jogo ficasse pouco conhecido pelo público, embora conquistasse os críticos, recebendo notas altas e sendo incluído em várias listas de melhores jogos do Game Boy Color. Com o tempo e o lançamento das sequências, o jogo receberia status de cult, e acabaria lançado, também, para o Nintendo 3DS, em 2013, e para o Nintendo Switch, em 2021 - também estão previstas, para lançamento em breve, versões para Playstation 4, Playstation 5 e PC (Steam); nenhuma dessas novas versões inclui a dança exclusiva do GBA.

Curiosamente, uma das principais críticas que os jogos de Shantae receberiam, desde o início, é a de que eles possuem um "viés feminista", já que todas as personagens principais são mulheres, e os homens costumam ser bobos e submissos, especialmente Bolo e os piratas que acompanham Risky. Mais curiosamente ainda, as feministas também reclamam dos jogos, dizendo que todas as mulheres são magras e usam roupas sexy, com até mesmo Shantae, que deveria ser uma adolescente, correndo por aí de bustiê, com os ombros e a barriga de fora. Bozon sempre disse que nunca pensou em nada disso enquanto criava os jogos, e que foi apenas uma coincidência, não havendo nenhuma razão em particular paras as mulheres serem sexies e poderosas e os homens fracos e submissos - quando questionado sobre a indumentária de Shantae, ele lembra que quem inventou a personagem foi Bell, inspirada na roupa de Jeanne é um Gênio, sem qualquer malícia ou vontade de usar a aparência da personagem como chamariz.

Após o lançamento, Bozon faria várias tentativas de produzir um segundo jogo, todas sem sucesso. Projetos seriam iniciados para um novo jogo de plataforma, para um jogo 3D ao estilo Mario 64, para Playstation 2, GameCube, PC e até para WiiWare, todos engavetados. O projeto que chegaria mais longe seria Shantae: Risky Revolution, para o Game Boy Advance, que chegaria a ter um demo produzido e screenshots divulgadas em sites especializados, mas acabaria, também, cancelado em meio ao desenvolvimento; muito de seu conteúdo seria reaproveitado em um projeto para o Nintendo DS chamado Shantae: Risky Waters, que jamais sairia das fases iniciais.

Somente em 2009, sete anos após o lançamento do primeiro jogo, é que a WayForward decidiria tentar novamente, anunciando Shantae: Risky's Revenge para o Nintendo DSi, disponível exclusivamente para download por DSiWare - inclusive, Bozon só conseguiria convencer a empresa a tentar novamente por causa das excelentes vendas de dois outros jogos da WayForward lançados como DSiWare, Mighty Flip Champs! e Mighty Milky Way!. Originalmente, Risky's Revenge estava previsto para ser lançado em três episódios, a partir do último trimestre de 2009, mas problemas na produção fizeram a WayForward mudar de ideia, e o jogo acabaria lançado completo em outubro de 2010.

A história do jogo é bem parecida com a do original: Mimic descobre um artefato que se parece com uma lâmpada mágica, que é roubado por Risky, que precisa de três selos mágicos para liberar o poder da lâmpada, cabendo a Shantae alcançar os selos antes da pirata - para complicar um pouco, os selos não estão em masmorras, e sim de posse de três Barões, que Shantae deverá derrotar: Ammo Baron, um ciclope de armadura, Hypno Baron, um mago com cabeça de caveira, e Squid Baron, um polvo gigante. O jogo possui quatro finais diferentes, e qual final o jogador vai ver depende de quanto tempo levou para completar o jogo e quantos itens conseguiu coletar.

Assim como o jogo anterior, Risky's Revenge não é dividido em fases, mas, dessa vez, tem um "mundo aberto" - mais ou menos no estilo de Castlevania 2 - com várias áreas que Shantae pode explorar. Embora os gráficos sejam mais modernos, e o Nintendo DSi tenha mais botões, a forma de jogar e os itens disponíveis são os mesmos, com os vaga-lumes tendo sido substituídos por itens-chave com vários propósitos. Uma das maiores novidades é a Geleia Mágica, cujos potes podem ser encontrados pelo cenário e trocados por vários upgrades para Shantae, incluindo magias, a maioria delas usada para atacar à distância. O jogo não faz diferenciação entre dia e noite, e as danças não requerem mais sequências de botões, bastando manter o botão de ativação pressionado durante um determinado período de tempo. Falando nisso, as transformações agora são só três: macaco, elefante e sereia, que permite a Shantae acessar áreas sob a água. Também vale dizer que, ao invés de minigames, o jogo tem sidequests, pequenas "missões" que valem recompensas e envolvem entregar um determinado item a um determinado personagem ou derrotar um determinado inimigo.

O sucesso de Risky's Revenge no DSi levaria ao lançamento de uma versão para iOS em 2011, que contava com dois modos de jogo, o normal e o Magic Mode, no qual Shantae tem uma roupa diferente e magias muito mais poderosas, mas recebe mais dano dos inimigos, o que torna o jogo mais difícil de ser concluído. Em 2014, seria lançada uma nova versão do jogo, com gráficos aprimorados e alguns ajustes aqui e ali, chamada Shantae: Risky's Revenge - Director's Cut, para PC (Steam); essa versão incluía o Magic Mode, e acabaria sendo lançada também para Playstation 4 em 2015, Wii U em 2016, Nintendo Switch e Xbox One em 2020, e Google Stadia e Playstation 5 em 2021, todas em formato exclusivamente digital.

O sucesso de Risky's Revenge também motivaria a WayForward a iniciar a produção de uma sequência logo após seu lançamento; após alguns atrasos, essa sequência seria lançada com o nome de Shantae and the Pirate's Curse para o Nintendo 3DS em outubro de 2014. Dessa vez, Shantae e Risky devem unir forças, pois Pirate Master, que enfrentou os gênios eras atrás e acabou preso em outra dimensão, encontrou uma forma de voltar, e roubou todo o equipamento de Risky como parte de um plano sinistro para dominar toda Sequin; além disso, Ammo Baron comprou Scuttle Town, a cidade onde Shantae mora, e está demolindo todos os prédios e lojas para transformá-la em uma fortaleza. O estilo do mapa de jogo mudou novamente, com Scuttle Town servindo como ponto central de onde Shantae pode visitar quatro ilhas e uma cidade no céu; inicialmente, ela só poderá visitar a primeira ilha, mas os demais caminhos vão se desbloqueando conforme o jogador avança no jogo, e é possível retornar a qualquer fase já visitada a qualquer momento.

No final de Risky's Revenge, Shantae perdeu todos os seus poderes, o que significa que Shantae and the Pirate's Curse não conta com itens mágicos, magias, nem mesmo com as danças, o que por um lado é estranho, mas, por outro, abre todo um novo leque de possibilidades. Para compensar a falta de magias, Shantae recupera ao longo do jogo vários dos itens piratas roubados de Risky, como uma pistola que permite ataques à distância, uma espada que serve para quebrar blocos e para dar pulos mais altos, botas que permitem que ela dê encontrões em inimigos e derrube partes do cenário, um canhão que permite que ela dê um pulo quádruplo, e um chapéu que atua como paraquedas caso ela caia de um lugar alto. Outro dos itens piratas é uma lâmpada que suga magia de um tipo de inimigo específico, e enchê-la 100% é requisito para ver o melhor final do jogo - mais uma vez, são quatro diferentes, dependendo de quanto tempo o jogador levou e quantos itens ele encontrou. O jogo não tem bebês-lula, mas tem sidequests, algumas bastante absurdas, como usar a baba de um dragão para encher uma piscina.

Originalmente, Shantae and the Pirate's Curse seria lançado apenas em formato digital; o lançamento em cartucho seria feito pela Rising Star Games, e incluía um minigame no qual Shantae, transformada em macaco, devia escalar colunas e recolher gemas. O jogo também seria lançado, exclusivamente em formato digital pela WayForward, para Wii U em 2014, PC (Steam) e Amazon Fire TV em 2015, e pela Limited Run Games para Xbox One e Playstation 4 em 2016 e Nintendo Switch em 2018.

Após três jogos produzidos originalmente para portáteis, a WayForward decidiria produzir um jogo de Shantae para consoles, e formaria uma parceria com a Inti Creates, que tinha mais experiência nesse ramo. O orçamento de ambas era limitado, porém, e elas decidiram recorrer a um financiamento coletivo no Kickstarter, com meta de 400 mil dólares. Esse financiamento se encerraria arrecadando pouco mais que o dobro da meta, mas, devido ao grande número de pedidos para que a campanha fosse prorrogada, a WayForward decidiria aceitar doações via PayPal durante mais um ano. Por um lado, isso fez com que o valor arrecadado passasse de 950 mil dólares, mas, por outro, devido ao grande número de metas estendidas, aquelas características extras incluídas conforme mais dinheiro é arrecado, o lançamento do jogo teve de ser adiado em mais de dois anos - previsto para outubro de 2014, o jogo só seria lançado em dezembro de 2016.

O primeiro jogo de Shantae para consoles se chamaria Shantae: Half-Genie Hero (escrito como Shantae: ½ Genie Hero no material promocional e na tela de abertura, segundo Bozon, em homenagem ao mangá Ranma ½, um de seus preferidos e uma de suas inspirações para o universo de Shantae) e seria lançado, em formato digital, simultaneamente para PC (Steam), PlayStation 4, PlayStation Vita, Wii U e Xbox One; em 2017, seria lançado para Nintendo Switch, e, em 2021, para Google Stadia e Playstation 5. A Marvelous USA lançaria versões físicas para PlayStation 4, PlayStation Vita e Wii U em 2017, e uma para Switch chamada Shantae: Half-Genie Hero - Ultimate Edition, contendo desde o início todo o downloadable content (DLC) disponível, em 2018.

Apesar dos gráficos de última geração, Half-Genie Hero é muito parecido com Shantae and the Pirate's Curse: a cidade de Mirage Town é o entroncamento central, de onde Shantae poderá explorar cinco outras áreas, que vão sendo liberadas conforme o jogador avança no jogo, e às quais ele terá de voltar constantemente para conseguir novos itens e avançar ainda mais. Uma diferença nesse jogo é que, da primeira vez em que um jogador visita uma área, ela tem elementos únicos que não se repetirão nas visitas posteriores, como a corrida de tapetes voadores na fortaleza de Hypno Baron. Shantae também recuperou seus poderes, o que significa que as magias e as danças voltaram, e ela e Risky voltaram a ser oponentes, com a pirata roubando um artefato que pode destruir toda a dimensão para onde foram os gênios, acabando com a magia do mundo para sempre.

Uma das maiores novidade de Half-Genie Hero é o grande número de danças. As danças agora estão divididas em três níveis, com o nível 1 tendo as transformações em morcego (uma versão menos poderosa da harpia), caranguejo (versão menos poderosa da sereia), macaco (considerado agora a versão menos poderosa da aranha) e elefante; o nível 2 tendo harpia, sereia, aranha e rato (com a qual Shantae pode acessar espaços apertados); e o nível 3 tendo uma dança que recupera energia, uma que serve para se teletransportar instantaneamente para cidades já visitadas (substituindo os bebês-lula), uma que destrói todos os inimigos da tela, danças que produzem frutas e gemas, e uma na qual Shantae se transforma em um baiacu, que não serve pra nada exceto para cumprir uma sidequest - a transformação em pirata, diretamente da versão GBA do primeiro jogo de Shantae, também está presente, mas só para quem apoiou a campanha no Kickstarter. Todas as danças agora gastam parte de uma "barra de magias", com as danças mais poderosas precisando de uma barra mais cheia para poderem ser usadas.

Half-Genie Hero possui cinco finais diferentes, quatro que dependem do tempo que o jogador levou para concluir o jogo e de quantos itens encontrou, e um "final secreto", obtido derrotando Risky com Shantae transformada em rato. Terminando o jogo pela primeira vez, o jogador libera o Hero Mode, o qual Shantae já começa com acesso às transformações em macaco, rato, caranguejo, elefante e harpia; como DLC, seriam adicionados outros cinco modos, com em cada um Shantae tendo diferentes habilidades, magias e ataques: o Ninja Mode, o Beach Mode (no qual ela usa um biquíni), o Jammies Mode (no qual ela está de pijama), e o Officer Mode (no qual ela usa o uniforme e as armas dos policiais do jogo Mighty Switch Force!, também da WayForward); também como DLC, seria adicionada uma dança na qual ela pode se transformar na personagem Sophia III, do jogo Blaster Master Zero, da Inti Creates.

Mas os dois DLC mais interessantes seriam Pirate Queen's Quest e Friends to the End. Em Pirate Queen's Quest o jogador finalmente pode controlar Risky, e a história do jogo é recontada sob seu ponto de vista, com ela querendo destruir a dimensão dos gênios para que um mal ancestral não consiga vir de lá para o mundo de Sequin; as fases são as mesmas, mas a disposição dos inimigos, as sidequests e os puzzles são diferentes, assim como o último chefe (já que não faz sentido Risky derrotar ela mesma). Já em Friends to the End, o jogador controla Bolo, Sky e Rottytops, cada um com habilidades diferentes e podendo alternar entre os três livremente. No jogo "normal", logo no início, Shantae é nocauteada após Risky roubar o artefato; Friends to the End conta a história de como seus amigos entraram em sua mente e derrotaram uma versão malvada da geniazinha, permitindo que ela acordasse e seguisse em perseguição à pirata.

O mais recente jogo da série é Shantae and the Seven Sirens, produzido através de uma parceria entre a WayForward e a Apple; por causa disso, ele seria lançado primeiro para Apple Arcade, iOS e MacOS, em setembro de 2019, sendo lançado também para PC (Steam), Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch em 2020, e Playstation 5 em 2022, todos em formato exclusivamente digital. Na história, as meio-gênios de Sequin são convidadas para um grande festival em sua homenagem em Paradise Island, mas acabam sendo todas sequestradas, exceto Shantae, que parte para resgatá-los, tendo como principais suspeitas as Sete Sereias que vivem em uma cidade submersa sob a ilha (quer dizer, a principal suspeita é Risky, mas ela alega só estar ali por coincidência, para roubar um artefato das Sereias). Cada meio-gênio que Shantae resgata passa para ela um pouco de seu poder, fazendo com que a geniazinha aprenda novas magias e ganhe novas habilidades.

Shantae and the Seven Sirens
é um jogo de mundo aberto ao estilo Metroid, com a cidade submersa das Sereias sendo um gigantesco labirinto de áreas interligadas, com algumas só sendo abertas após Shantae encontrar determinados itens ou derrotar determinados inimigos. O sistema de magias foi totalmente reformulado, com as danças agora sendo usadas para causar diferentes efeitos - há uma dança para recuperar energia, uma para revelar plataformas e passagens ocultas na tela, uma para causar dano a inimigos e uma para quebrar objetos do cenário - enquanto as transformações são fornecidas pelos poderes das demais meio-gênios, e ocorrem automaticamente - após conseguir o poder correspondente, por exemplo, sempre que pular na água Shantae se transformará em um sapo, voltando à forma humana quando sai da água; as demais transformações são em salamandra (escala paredes), tartaruga (quebra blocos), gastrópode (perfura terra fofa) e polvo (pulo triplo).

Outra novidade do jogo são as Monster Cards: derrotando alguns inimigos, Shantae recolhe cartas com as quais pode se equipar, ganhando novas habilidades, como pulos mais longos ou maior chance de os inimigos deixarem gemas para trás; o jogo possui um total de 50 cartas diferentes, incluindo algumas que só podem ser obtidas em sidequests, com até três podendo ser equipadas de cada vez. Ao terminar o jogo pela primeira vez, o jogador ganha acesso ao New Game Plus, que, assim como o Magic Mode de Risky's Revenge, faz com que Shantae já comece o jogo com todas as magias, mas menos energia e recebendo mais dano dos inimigos.

Shantae and the Seven Sirens seria bastante criticado; apesar de o estilo dos gráficos ser o mesmo de Half-Genie Hero, os cenários e paisagens parecem mais sem-graça, principalmente porque toda a ação ocorre em uma cidade submersa. Além disso, o jogo é absurdamente mais fácil do que todos os seus antecessores, o que provavelmente foi decisão da Apple, que queria direcioná-lo para jogadores casuais - há apenas um final, poucas sidequests, e até mesmo os chefes são derrotados facilmente com a ajuda das magias de Shantae. Diferentemente de Half-Genie Hero, Shantae and the Seven Sirens não tem nenhum DLC; para tentar compensar, a WayForward disponibilizaria, em novembro de 2021, um update com quatro novos modos de jogo: o Definitive Mode aumentava bastante a dificuldade do jogo, deixando-o mais desafiador; o Beginner Mode o deixava ainda mais fácil, sendo praticamente impossível Shantae perder uma vida; o Full Deck Mode faz com que Shantae já comece o jogo com todas as 50 cartas; e o Rule Breaker Mode permite que ela equipe quantas cartas quiser - até mesmo as 50 de uma vez só.

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