domingo, 11 de dezembro de 2022

Escrito por em 11.12.22 com 0 comentários

El Hombre Lobo

Eu sou fã de filmes de terror antigos, o que faz com que eu conheça um monte de pérolas. Algumas no sentido literal, filmes muito bons mesmo, que eu fico me perguntando como não são mais conhecidos; outros no sentido figurado, filmes tão ruins que acabam sendo mais de comédia (involuntária) do que de terror. E tem aqueles que ficam no meio do caminho ou transitando entre os dois tipos; desses, os melhores são os filmes de lobisomem do ator espanhol Paul Naschy, que não são uma série no sentido estrito da palavra, mas ficaram conhecidos coletivamente como a série de El Hombre Lobo.


Naschy nasceu Jacinto Molina Álvarez, em 6 de setembro de 1934, em Madri, Espanha. Seu pai era um peleiro, profissional que prepara e vende peles de animais, e ganhava muito dinheiro, permitindo a sua família morar numa enorme mansão numa parte afastada da cidade, sem ser afetada pela Guerra Civil Espanhola, que ocorreu entre 1936 e 1939. Ao terminar o colégio, ele queria ser arquiteto, e, na adolescência, se destacou no esporte do levantamento de peso, com o qual tentou conseguir uma bolsa na universidade. Sem conseguir, ele arrumaria vários empregos temporários que envolviam arte, como escrever romances pulp de faroeste e desenhar quadrinhos e capas de álbuns de música, sempre sem muito sucesso, até ser convidado para atuar em uma peça de teatro. Se apaixonando pelo palco, e extremamente interessado em aprender sobre direção, ele passaria sua juventude dividido entre a atuação teatral e concursos de levantamento de peso. Além de atuar em peças de teatro, ele participaria de várias produções de cinema, sempre sem ser creditado e em pequenos papéis.

O primeiro papel internacional de Naschy seria no filme épico bíblico norte-americano O Rei dos Reis, de 1961, produzido pela MGM e filmado em Sevilha e Madri. Mais uma vez seria um pequeno papel não creditado, mas que o colocaria no banco de currículos da MGM, o que lhe renderia vários convites para outras produções norte-americanas, em especial um episódio da série Sou Espião gravado em Madrid em 1966, durante o qual ele conheceria nos bastidores ninguém menos que Boris Karloff. Após o encontro, Naschy decidiria arriscar e produzir seu próprio filme de terror.

Desde criança, o monstro preferido de Naschy sempre fora o lobisomem, que ele viu pela primeira vez no filme Frankenstein encontra o Lobisomem, de 1943. Assim, em 1968, já aos 34 anos, ele escreveria um roteiro de um filme de lobisomem, no qual o Conde polonês Waldemar Daninsky sofre a maldição de se transformar em um homem-lobo, e, com a ajuda do diretor Enrique López Eguiluz, que o havia dirigido no filme policial Agonizando en el Crimen, de 1967, convenceria a Maxper Producciones Cinematograficas a produzi-lo. A princípio, a Maxper convidaria o famoso ator de terror norte-americano Lon Chaney, Jr. para o papel do lobisomem, mas, aos 62 anos e doente, Chaney recusaria o convite alegando não ter como viajar para a Espanha; quem também recusaria um convite, alegando já estar envolvido com outros projetos, seria o diretor Armando de Ossorio, famoso por seus filmes de terror. Sem a dupla, o filme correria o risco de ser cancelado, mas Eguiluz e Naschy convenceriam a Maxper a deixá-los dirigir e atuar no filme, respectivamente, o que ela aceitaria na expectativa de poupar dinheiro.

Seria graças a essa escalação que Naschy criaria o nome artístico que o acompanharia por toda a sua carreira: o dinheiro que a Maxper usaria para produzir o filme viria da alemã D.C. Films, que planejava lançá-lo em toda a Europa. Até então, no cinema, Naschy só havia atuado sem créditos, mas, no teatro, usava seu nome real, Jacinto Molina. Os executivos da D.C. não gostaram desse nome, que, segundo eles, era "muito espanhol" e poderia prejudicar a bilheteria do filme em outros países, pedindo para que ele usasse um nome artístico. Naschy, então, escolheria Paul Nagy, em homenagem ao Papa Paulo VI e a seu ídolo no levantamento de peso, o húngaro Imre Nagy, mudando mais tarde para Paul Naschy para que a grafia ficasse "mais alemã", o que imaginou que iria agradar aos executivos. Naschy planejava usar esse nome apenas nesse filme, mas o grande sucesso da produção faria com que ele decidisse mantê-lo até o fim da vida. Vale dizer que Naschy só usava seu nome artístico para seus créditos como ator, mantendo seu nome de batismo para os créditos como diretor ou roteirista - o que, de vez em quando, criava a curiosa situação "dirigido por Jacinto Molina, estrelado por Paul Naschy", sendo que ambos eram a mesma pessoa.

O filme seria lançado em 29 de julho de 1968 com o nome de A Marca do Lobisomem (La Marca del Hombre Lobo), e, com orçamento de 300 mil dólares, renderia pouco mais de um milhão considerando a bilheteria mundial. No filme, ambientado no Leste Europeu no século XVIII, após ser atacado pelo lobisomem Imre Wolfstein (Juan Medina), inadvertidamente trazido de volta à vida por um casal de ciganos, o Conde Waldemar Daninsky (Naschy) passa a se transformar também em lobisomem durante as noites de lua cheia, sem memória das atrocidades que cometeu quando o dia amanhece e ele volta à forma humana. Para tentar curar sua condição, ele procura o Dr. Janos de Mikhelov (Julian Ugarte), sem saber que ele e sua esposa, Wandesa (Aurora de Alba), são vampiros. Os vampiros atacam o melhor amigo e a prometida de Daninsky, Rudolph Weissmann (Manuel Manzaneque) e Janice von Aarenberg (Dyanik Zurakowska), e obrigam Daninsky a lutar até a morte contra Wolfstein; Daninsky vence, mas morre atingido por uma bala de prata disparada por Janice, que não sabe que o lobisomem e seu amado são a mesma pessoa.

Além de na Espanha, o filme seria lançado na Alemanha Ocidental, Reino Unido, Itália, Bélgica e Estados Unidos, em cada lugar com um título pior: na Alemanha, ele seria lançado em 1969 como Die Vampiren des Dr. Dracula ("os vampiros do Dr. Drácula"), elevando de Mikhelov ao papel principal, estragando uma das surpresas do filme e relegando Daninsky a um papel secundário; em 1976, ele seria relançado, mas com o nome de Hexen des Grauens ("bruxas do terror"), mesmo sem o filme não ter nenhuma bruxa. Em 1970, ele seria lançado no Reino Unido com o nome de Hell's Creatures ("criaturas do inferno"), na Itália como Le Notti di Satana ("as noites de Satã"), e na Bélgica como Les Fantomes de Dracula en de Weerwolf ("os fantasmas de Drácula e do lobisomem"). Mas o pior seria nos Estados Unidos, onde seria lançado em 1971, recebendo o nome de Frankenstein's Bloody Terror ("o terror sangrento de Frankenstein"), pois os distribuidores precisavam de um segundo filme de Frankenstein para fazer uma sessão dupla com Drácula vs. Frankenstein, e, sem conseguir nenhum, inventaram uma introdução para A Marca do Lobisomem que explicava que Imre Wolfstein era descendente do Dr. Frankenstein, tendo mudado seu sobrenome após se tornar um lobisomem.

E agora preparem-se para uma história digna de filme: graças ao grande sucesso de A Marca do Lobisomem, Naschy começaria a trabalhar, ainda em 1968, em uma continuação, chamada Las Noches del Hombre Lobo. Esse é considerado o segundo filme da série El Hombre Lobo, mas há um detalhe curioso: ninguém, nem mesmo o próprio Naschy, jamais o assistiu. Segundo Naschy, após escrever o roteiro, ele foi filmar na França, em companhia dos atores Peter Beaumont e Monique Brainville. Uma semana após o fim das gravações, porém, o diretor, René Govar, morreu em um acidente de carro, e o laboratório que processaria o filme confiscaria os negativos porque, após a morte do diretor, ninguém quis pagar a conta. O problema com essa história é que não há registros de Beaumont, Brainville ou Govar em lugar nenhum - ninguém os conhece, nem nunca trabalhou com eles, e não há registro de nenhum outro filme do qual eles tenham participado. Se algum dia houve um negativo, o laboratório o destruiu, porque jamais nenhuma cena desse filme apareceu em lugar nenhum. O mais provável é que Naschy realmente escreveu o roteiro, mas o filme jamais conseguiu sinal verde nem jamais foi filmado, com o roteiro sendo reaproveitado mais tarde para outro filme da série, provavelmente A Fúria do Lobisomem; Naschy jura que ele existiu, e que apenas mais de dez anos após as filmagens ele ficou sabendo que o filme jamais foi lançado em lugar algum e da história da morte de Govar - há quem diga que ele inventou essa história toda apenas para poder colocar mais um filme no currículo no início da carreira. Seja qual for a verdade, Las Noches del Hombre Lobo é hoje oficialmente considerado um "filme perdido", e conta para a lista de 12 filmes estrelados por Waldemar Daninsky.

O terceiro filme da série seria Os Monstros do Terror (Los Monstruos del Terror), filmado em 1969 e lançado em 24 de fevereiro de 1970. Com um roteiro que trazia um verdadeiro battle royale de monstros, o filme envolvia alienígenas que assumiam os corpos de cientistas humanos mortos e traziam de volta à vida um vampiro, um lobisomem, uma mulher-múmia e o Monstro de Frankenstein, para o propósito científico de estudar por que os humanos têm medo desses monstros. O lobisomem, que é Daninsky, se revolta, e não somente mata os outros três como também os alienígenas e destrói sua nave, sendo novamente morto depois de tudo isso por uma bala de prata disparada por uma mulher que se apaixona por ele. Além de Naschy, o filme trazia em seu elenco o famoso ator britânico Michael Rennie (o Klaatu de O Dia em que a Terra Parou), no último papel antes de sua morte, como o líder dos alienígenas, e a belíssima atriz alemã Karin Dor (a Helga Brandt de Com 007 Só Se Vive Duas Vezes) como a mulher que se apaixona por Daninsky. A produção começaria com o argentino Hugo Fregonese como diretor, mas ele desistiria após dois terços do filme estarem concluídos, e quem o terminaria, sem ser creditado, seria seu compatriota Tulio Demicheli. O roteiro seria mais uma vez escrito por Naschy, a quem foi prometido um orçamento gigantesco - na verdade, a Producciones Jaime Prades, responsável pelo filme, estava passando por sérias dificuldades financeiras, e várias partes do roteiro tiveram de ser adaptadas ou descartadas.

Os Monstros do Terror também sofreria do curioso caso de títulos bizarros em suas versões internacionais: na Alemanha, França, Reino Unido e Iugoslávia, o filme se chamaria Dracula vs. Frankenstein, mas, como nos Estados Unidos já havia um filme com esse nome (o que eu mesmo citei ainda há pouco), ele recebeu o nome de Assignment Terror ("missão terror"). Na Dinamarca, ele se chamaria Frankenstein og Blodsugerne ("Frankenstein contra o sugador de sangue"), e, na Suécia, seria Varulven jagar Frankenstein ("lobisomem contra Frankenstein"). Na Itália ele seria Operazione Terrore, no México, Operación Terror, e, no Japão, Monster Panic. Mais tarde, ele seria relançado na França como Reincarnator.

Dois filmes da série seriam gravados em 1970. O primeiro seria o já citado A Fúria do Lobisomem (La Furia del Hombre Lobo); como Daninsky já tinha morrido no primeiro filme, e ressuscitado e morrido de novo no mais recente, Naschy - que escreveria os roteiros de todos os 12 filmes da série - decidiria fazer desse uma espécie de reboot na época atual, transformando Waldemar Daninsky em um professor universitário que, durante uma viagem ao Tibete, é atacado por um yeti (o abominável homem das neves) e, por alguma razão, passa a se transformar em lobisomem a cada lua cheia. Ao retornar para casa, ele é capturado pela Dra. Ilona Ellmann (Perla Cristal), que planeja usar experimentos de controle da mente para controlá-lo. Como de costume, Daninsky morre no final, atingido por uma bala de prata disparada por Karin (Verónica Luján), uma assistente da Dra. Ellmann que se apaixona por ele.

Eguiluz começaria a dirigir o filme, mas, após gravar apenas uma sequência, desistiria alegando já estar envolvido em outros projetos; ele seria substituído por José María Zabalza, a quem Naschy acusaria de ser "bêbado e bagunceiro" - segundo a história, um dia ele apareceu tão bêbado que seu filho de 14 anos teve que dirigir as cenas em seu lugar - e de mexer desnecessariamente em seu roteiro, inclusive diminuindo a duração do filme. Para que o filme não ficasse curto demais, Zalbaza incluiria cenas de A Marca do Lobisomem, e filmaria novas cenas com um dublê usando a maquiagem de lobisomem de Daninsky, sem que Naschy tivesse conhecimento. O filme sofreria para arranjar uma distribuidora, e acabaria sendo vendido para a AVCO Embassy Pictures, que o exibiria em 1974 na televisão, nos Estados Unidos; somente em 1975 o filme estrearia nos cinemas, e apenas na Espanha e na Argentina. Bizarramente, no final da década de 1970 estrearia na Suécia uma versão do filme chamada Varulven Sover Aldrig ("o lobisomem nunca dorme"), cheia de cenas de sexo e nudez que seriam censuradas pela AVCO na versão original.

O segundo seria A Sombra do Lobisomem (La Noche de Walpurgis), dirigido por León Klimovsky e lançado em 17 de maio de 1971, no qual duas lindas estudantes, Elvira (interpretada por Gaby Fuchs; Elvira também era o nome da esposa de Naschy, com quem ele se casou em 1969) e Genevieve (Barbara Capell), estão procurando pelo túmulo da Condessa Wandesa D'Árvula de Nadasdy (Patty Shepard) para uma pesquisa, e, quando cai a noite, decidem se abrigar no castelo do Conde Waldemar Daninsky. Inadvertidamente, Genevieve traz a vampira de volta à vida ao sangrar acidentalmente sobre seu caixão, e cabe ao lobisomem derrotá-la. Curiosamente, esse filme é ambientado na época atual e uma continuação direta de A Fúria do Lobisomem: em sua sequência de abertura, médicos encontram o corpo de Daninsky, removem as balas de prata e ele retorna à vida, decidindo ir morar no castelo de sua família para ficar afastado da civilização e não matar mais ninguém. Mais curiosamente ainda, como A Fúria do Lobisomem ainda não havia sido lançado quando esse filme chegou aos cinemas, a maioria das versões exibidas era editada e não possuía essa sequência de abertura, o que faz com que não exista nenhuma explicação sobre por que Daninsky é um lobisomem. Outras curiosidades sobre esse filme são que o famoso diretor espanhol Carlos Aured, em início de carreira, atuou como assistente de direção de Klimovsky; a versão alemã credita o roteiro a Naschy e a Hans Munkel, sendo que essa pessoa não existe; e Daninsky tem uma irmã, Elizabeth (Yelena Samarina).

Nos Estados Unidos, o filme seria lançado com o nome de The Werewolf vs. The Vampire Woman pela Universal em 1972. Outros títulos internacionais incluem Shadow of the Werewolf (de onde o título brasileiro foi traduzido) no Reino Unido, Le Nuit des Loup Garous ("a noite dos lobisomens") na Bélgica, La Messe Nere della Contessa Dracula ("a missa negra da Condessa Drácula") na Itália, e Le Furie des Vampires ("a fúria dos vampiros") na França. Na Alemanha, ele seria originalmente lançado em 1971 como Die Nacht der Vampire ("a noite da vampira"), mas relançado em 1974 como Nacht der Blutigen Hexen ("noite das bruxas sangrentas"). O filme seria lançado em vídeo nos EUA em 1980 com o nome de Blood Moon ("lua de sangue").

A Sombra do Lobisomem seria um sucesso gigantesco - com orçamento de 120 mil dólares, renderia quase 2 milhões somando o mundo inteiro - alavancaria a carreira de Naschy, que se tornaria um dos principais nomes do cinema espanhol na década de 1970 - ele receberia tantos convites que somente em 1972 faria sete filmes - e seria considerado o principal responsável pelo boom de horror que dominou o cinema espanhol naquela década, sendo inclusive citado como influência por diretores como Armando de Ossorio, que se inspiraria em uma de suas cenas para filmar A Noite do Terror Cego, considerado um dos maiores filmes de horror de todos os tempos.

O filme seguinte seria talvez o mais curioso da série, Dr. Jekyll y el Hombre Lobo (sem título oficial em português), também dirigido por Kilmowsky e lançado em 13 de novembro de 1972, no qual Daninsky decide viajar a Londres em busca do Dr. Henry Jekyll (Jack Taylor), neto do Dr. Jekyll da história original de O Médico e o Monstro, porque, em teoria, se a fórmula do Dr. Jekyll for injetada em Daninsky, a personalidade do Sr. Hyde suplantará a do lobisomem, eliminando-a. Não somente isso não dá certo como Daninsky passa a se transformar em um Sr. Hyde lobisomem, que comete assassinatos brutais e sádicos. O filme seria lançado na Alemanha como Die Nacht der Blutigen Wölfe ("a noite dos lobos sangrentos"), além de no Reino Unido e Estados Unidos como Dr. Jekyll and the Wolfman; duas versões seriam produzidas, com a "internacional" tendo várias cenas de nudez cortadas da versão espanhola. Apesar de várias cenas de transformação fantásticas - como uma na qual Daninsky se transforma no meio de uma discoteca, sob luz estroboscópica - o filme não faria muito sucesso, e hoje é um dos menos conhecidos da série. Vale citar que esse é o único filme da história do cinema no qual o Dr. Jekyll/Sr. Hyde contracena com um lobisomem.

Em setembro de 1973 estrearia A Verdadeira História do Lobisomem (El Retorno de Walpurgis), único da série dirigido por Aured. Apesar de seu título original sugerir que ele era uma continuação de A Sombra do Lobisomem, Naschy decidiria fazer dele um novo reboot, começando o filme lá na Idade Média e dando uma nova explicação para a licantropia de Daninsky ao mostrar seu antepassado, Irineus Daninsky (também Naschy), sendo amaldiçoado a ter descendentes lobisomens pela bruxa Elizabeth Bathory (María Silva) após derrotar seu marido em um duelo até a morte. Centenas de anos depois, Waldemar Daninsky é o mais recente descendente de Irineus a sofrer com a maldição, e tem de esconder seu segredo de Kinga (Fabiola Falcón), jovem por quem ele se apaixona, filha de um colono que vai morar em suas terras, e do inspetor de polícia Roulga (Mariano Vidal Molina), que investiga uma série de mortes misteriosas na região - causadas, evidentemente, pelo lobisomem.

A Verdadeira História do Lobisomem seria lançado na Alemanha com o maravilhoso título Die Todeskralle des Grausamen Wolfes ("as garras mortais dos lobos cruéis"), na França com o inexplicável L'Empreinte de Dracula ("a marca de Drácula"; não somente não há Drácula como nenhum vampiro no filme), no México como La Noche del Asesino ("a noite do assassino"), e nos Estados Unidos como Curse of the Devil ("a maldição do diabo"). Após as filmagens, Aured e Naschy se desentenderiam - o diretor já havia trabalhado em vários filmes nos quais Naschy havia sido roteirista, mas, em sua opinião, Naschy estava ficando muito controlador, exigindo escolher todo o elenco de seus filmes - o que faria com que esse fosse o último no qual os dois trabalhariam juntos; Aured se afastaria de Naschy e deixaria de falar com ele, com os dois só fazendo as pazes em 2007, pouco antes da morte do diretor.

A série continuaria com A Maldição do Lobisomem (La Maldicion de la Bestia), dirigido por Miguel Iglesias Bonns e lançado em dezembro de 1975. Mais uma vez, o filme seria um reboot, com Waldemar Daninsky sendo o guia de uma expedição ao Tibete para provar a existência do abominável homem das neves; entretanto, diferentemente de em A Fúria do Lobisomem, não é o yeti quem passa a maldição do lobisomem a Daninsky, e sim duas mulheres-lobisomem selvagens que tentam devorá-lo. A equipe que Daninsky guiava, liderada pelo Professor Lacombe (Josep Castillo Escalona), é sequestrada por bandidos tibetanos liderados por Sekkar Khan (Luis Induni), e cabe ao lobisomem enfrentá-los e salvá-los. No fim, a filha do Professor Lacombe, Sylvia (Mercedes Molina), cura a licantropia de Daninsky com o extrato de uma rara flor tibetana, o que faz com que esse seja o único filme da série no qual ele não morre no final. Além dos piratas, em duas grandes cenas do filme o lobisomem enfrenta um yeti - talvez provando que eles existem, o que, afinal, era o propósito da expedição - e a vampira Wandessa (Silvia Solar), que eu não faço ideia do que estava fazendo no Tibete. O filme seria lançado em vários países com o título "o lobisomem e o yeti" (The Werewolf and the Yeti no Reino Unido, Der Werwolf und der Yeti na Alemanha, Il Licantropo e lo Yeti na Itália, Varulven och Snömannen na Suécia), na França como Dans Les Griffes du Loup Garou ("nas garras do lobisomem"), e nos Estados Unidos como Night of the Howling Beast ("noite da fera uivante") nos cinemas e Hall of the Mountain King ("o salão do rei da montanha") quando do lançamento em vídeo.

No início de 1980, Naschy receberia uma proposta de um grupo japonês para escrever e dirigir filmes que seriam lançados em ambos os países, e contariam com profissionais espanhóis e japoneses. Como isso significava mais dinheiro para seus filmes, ele aceitaria. O primeiro filmado com essa parceria seria O Retorno do Lobisomem (El Retorno del Hombre Lobo), primeiro da série escrito, dirigido e estrelado por Naschy, que estrearia em abril de 1981. Graças ao dinheiro dos japoneses, esse seria o filme de maior orçamento da série, e Naschy aproveitaria para fazer dele um remake de seu preferido da série, A Sombra do Lobisomem. O filme seria originalmente lançado nos Estados Unidos como The Craving (algo como "a fome"), e depois relançado como Night of the Werewolf ("a noite do lobisomem").

O Retorno do Lobisomem começa na Hungria do século XV; o lobisomem Waldemar Daninsky (Naschy) e a vampira Elizabeth Bathory (Julia Saly) são amantes e líderes de um secto de bruxas, e acabam condenados à morte. Como são imortais, são enterrados vivos, com precauções para que fiquem em animação suspensa - no caso do lobisomem, uma adaga de prata no coração. Nos dias atuais, dois ladrões de tumbas inadvertidamente removem a adaga e ressuscitam o lobisomem, que toma posse de seu castelo e permite que um grupo de estudantes viajando pelo país passem a noite lá, se apaixonando por uma delas, Karen (Azucena Hernández). As moças acidentalmente encontram o túmulo da vampira e a trazem de volta à vida, e ela comete uma série de assassinatos na cidadezinha próxima para recuperar seus poderes. Cabe ao lobisomem, cansado de sua vida de maldades, enfrentá-la para pôr fim à sua ameaça de uma vez por todas.

Pouco após o final das filmagens de O Retorno do Lobisomem, Naschy convidaria Saly, o produtor Augusto Boue e o empresário japonês Masurao Takeda para serem seus sócios, e criaria sua própria companhia, a Aconito Films - sendo acônito aquela flor que na mitologia está fortemente associada aos lobisomens. Com dinheiro dos japoneses, a Aconito produziria uma dúzia de filmes, mas apenas um da série que estamos vendo hoje: O Lobisomem e a Espada Mágica (La Bestia y la Espada Magica), filmado no Japão e lançado em novembro de 1983, mais uma vez escrito, dirigido e estrelado por Naschy. O filme começa na Europa, na Idade Média, com Irineus Daninsky (Naschy) vencendo um rival mas sendo amaldiçoado pela viúva a ter descendentes lobisomens, tal como em A Verdadeira História do Lobisomem. Anos mais tarde, Waldemar Daninsky (Naschy), descendente de Irineus, descobre ser ele um portador da maldição, e, junto com sua esposa Kinga (Beatriz Escudero) procura a ajuda do rabino Salon Jehuda (Conrado San Martin), que conheceria uma cura. O rabino diz que Waldemar deve viajar até o Japão (sendo que o filme é ambientado na época dos samurais, no Japão feudal) e encontrar um homem chamado Kian (Shigeru Amachi), que possui uma espada mágica capaz de quebrar a maldição do lobisomem. Ao chegar ao Japão, porém, Waldemar é capturado pelo bruxa Satomi (Junko Asahina), que planeja controlar sua mente e transformá-lo em um assassino a seu comando. Apesar de ter sido uma co-produção entre Espanha e Japão, o filme seria lançado nos cinemas apenas na Espanha, embora tenha sido lançado em vídeo no Japão e em outros países, incluindo o Brasil - no Japão, seu título oficial seria Ohkami-Otoko to Samurai, "o lobisomem e o samurai". Uma curiosidade desse filme é uma luta entre o lobisomem e um tigre; em entrevistas, Naschy declararia ele mesmo ter lutado contra um tigre de verdade, sem efeitos especiais ou dublês - mas depois que o tigre tivesse comido 25 galinhas, para estar mais lento e sem vontade de devorá-lo.

Em junho de 1984, Enrique Molina, o pai de Naschy, faleceria ao ter um ataque cardíaco enquanto pescava sozinho em um lago na Espanha, com seu corpo sendo encontrado horas depois por algumas crianças que brincavam na margem. Na época, Naschy estava envolvido com as filmagens de Operation Mantis, filme de espionagem dirigido e estrelado por Naschy, co-estrelado por Saly, mas escrito por Joaquin Oristrell, que estrearia em fevereiro de 1985. O filme seria um gigantesco fracasso - atribuído por Naschy ao roteiro de Oristrell - e, poucos dias após sua estreia, Takeda faleceria de câncer, o que causaria o fim dos investimentos japoneses, e levaria Boue a vender sua parte na Aconito para Naschy. Essa combinação de eventos faria com que a Aconito tivesse de abrir falência, e com que Naschy se tornasse persona non grata no cinema espanhol - ninguém queria financiar seus projetos, e muitos diretores e atores que ele considerava seus amigos lhe viraram as costas; até mesmo Saly decidiria se aposentar da carreira de atriz após o fracasso de Operation Mantis. A perda do pai combinada com a falência da empresa e com a rejeição dos amigos fariam com que Naschy entrasse em profunda depressão, ficando mais de dois anos sem participar de nenhum projeto - em entrevistas posteriores, ele declararia que chegou a pensar em se matar.

Com a ajuda de amigos que trabalhavam na TV espanhola, Naschy conseguiria retornar em El Aullido del Diablo ("o uivo do diabo"), no qual contracenava com dois grandes ícones do cinema de horror, Caroline Munro e Howard Vernon, e com seu próprio filho, Sergio Molina. Naschy, que também escreveu e dirigiu o filme, interpretava um ator aposentado insano que se fantasia de vários monstros ao longo do filme, incluindo um lobisomem, em uma cena na qual o personagem de Sergio o chama de Waldemar (na única ocasião na qual alguém diz o nome de seu personagem no filme). O filme deveria ter sido o retorno triunfal de Naschy, mas não conseguiu encontrar uma distribuidora para o cinema, e acabou exibido apenas na TV espanhola em 1988, jamais sendo lançado em nenhum outro país - embora esteja disponível em Blu-ray desde 2001, mas apenas com áudio e legendas em espanhol.

Naschy passaria os anos seguintes fazendo filmes para a TV e para serem lançados diretamente em vídeo, alguns até alcançando um relativo sucesso, até agosto de 1991, quando ele teve um ataque cardíaco quase fatal enquanto praticava levantamento de peso em uma academia, aos 56 anos. Ele teve de ficar hospitalizado e passar por uma demorada cirurgia, e passaram-se tantos dias sem que ninguém tivesse notícias dele que algumas publicações chegaram a noticiar sua morte - o próprio Naschy teria de entrar em contato com as publicações e desmentir a notícia. Ele conseguiria voltar a atuar já em 1992, mas apenas fazendo pequenas participações em filmes estrangeiros para o cinema, ou participando de curtas, filmes para a TV e lançados diretamente em vídeo. Seu retorno pleno ao cinema se daria apenas em 1996, com mais um filme da série de el hombre lobo, chamado Licántropo: El Asesino de la Luna Llena ("licantropo: o assassino da lua cheia"; sem título oficial em português), escrito e estrelado por Naschy, mas dirigido por Francisco Rodríguez Gordillo. Naschy escreveria o roteiro para manter a mente ocupada enquanto se recuperava do infarto, e ficou mais do que satisfeito em oferecê-lo quando o produtor Primitivo Rodriguez, que trabalhou com ele em curtas, perguntou se ele tinha alguma ideia para um novo filme de Daninsky.

A história começa na Europa em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, quando uma cigana engravida de um nazista, tem trigêmeos, e o mais novo, chamado Waldemar, é amaldiçoado a se tornar um lobisomem; para que ele não ameace a comunidade onde ela vive, é entregue para adoção à família Daninsky. Cinquenta anos depois, Waldemar Daninsky é um bem sucedido escritor, casado e com filhos, que começa a sentir estranhas dores durante cada lua cheia. Pouco depois, misteriosos assassinatos começam a ocorrer em sua cidade, mas nem todos são causados pelo lobisomem, já que outro dos personagens é um padre insano que decide matar a todos os que considera pecadores. O combate final do filme é entre o lobisomem e o padre, com Daninsky mais uma vez vencendo mas morrendo por uma bala de prata disparada por uma mulher que decide acabar com seu sofrimento. Além de Naschy como Daninsky, o filme traz Amparo Muñnoz como a médica Dra. Mina Westenra, Antonio Pica como o Comissário de Polícia Lacombe e Luis Maluenda como Jonathan Leroux, o padre insano.

Licántropo deveria, mais uma vez, ser o retorno triunfal de Naschy ao cinema, mas sofreu com problemas de distribuição, e acabou sendo exibido apenas na Espanha, ficando inédito no resto do mundo até ser lançado em DVD nos Estados Unidos com o nome de Lycanthropus: The Full Moon Killer. Esse seria o último filme da série de el hombre lobo a ser lançado no cinema, e o último a ser filmado na Espanha - mas não seria o último de todos, como quem está contando pode atestar, já que é o número 11.

Depois do lançamento de Licántropo, Naschy continuaria fazendo majoritariamente TV, mas receberia alguns convites para atuar em filmes de cinema de baixo orçamento. Em 2001, ele seria escoilhido pelo Rei Juan Carlos I para receber a Medalha de Ouro de Belas Artes, mais alta honraria concedida ao governo espanhol para um artista; isso faria com que o interesse em seus filmes antigos fosse despertado, e com que ele recebesse um convite para filmar nos Estados Unidos em 2003 com dois diretores que eram grandes fãs de seus filmes, Don Glut e Fred Olen Ray, que o trataram como se ele fosse da realeza. Ele faria os dois filmes um após o outro e retornaria à Espanha, e, apesar do tratamento VIP, não teria boas lembranças da experiência, já que viajaria com a esposa e o filho, e ela ficaria doente no dia seguinte à sua chegada, o que faria com que ele ficasse muito preocupado no set. Além disso, Naschy nunca havia aprendido inglês; Glut permitiria que ele dissesse todas as suas falas em espanhol, mas Ray o orientaria como dizer as falas em inglês, o que fez com que elas soassem mecânicas e sem emoção. Pelo menos Naschy aproveitaria a viagem para realizar um antigo sonho, visitar os estúdios da Universal e o museu de Forrest J. Ackerman, dedicado aos grandes monstros da história do cinema.

Os dois filmes que Naschy fez nos Estados Unidos seriam lançados diretamente em vídeo em 2004, e ambos seriam cheios de cenas de sexo e nudez. O de Glut seria Countess Dracula's Orgy of Blood ("a orgia de sangue da Condessa Drácula"), no qual Naschy interpretava o Padre Jacinto; o de Ray seria o décimo-segundo e último filme de el hombre lobo, Tomb of the Werewolf ("a tumba do lobisomem"; sem título oficial em português). No filme, Richard Daninsky (Jay Richardson) herda o castelo de sua família no Leste Europeu, sem saber que lá repousam os corpos da vampira Elizabeth Bathory (Michelle Bauer) e de seu ancestral, o lobisomem Waldemar Daninsky (Naschy), fazendo um contrato com uma empresa de TV para que um reality show seja filmado no local. Ao procurar por um suposto tesouro escondido, ele acidentalmente traz a vampira de volta à vida, e ela o convence a remover uma adaga de prata do peito do lobisomem, o que também o ressuscita - e faz com que o monstro, em um ataque de fúria, saia matando todos os participantes do reality show. O filme não seria lá muito bem recebido pelo público ou pela crítica - Ray diria em entrevistas que ele daria prejuízo - mas seria lançado na Espanha, com o nome de La Tumba del Hombre Lobo, e relançado nos Estados Unidos em Versão do Diretor, com cenas inéditas, em 2015, com o nome de The Unliving (algo como "os não-vivos").

Após voltar à Espanha, Naschy seguiria fazendo pequenas participações em filmes para o cinema e em curtas; seu último trabalho seria no curta Lagrimas de Papel, de 2008, dirigido por Ángel Gomez Hernandez. Ele faleceria de câncer no pâncreas, em 2009, aos 75 anos, em Madri, após lutar quase um ano contra a doença. Morreu pobre, mas declarou no fim da vida ter ficado satisfeito com o amor que recebeu dos fãs em convenções de horror para as quais foi convidado em seus últimos anos. Após sua morte, seria publicado o livro Muchas Gracias, Señor Lobo, repleto de fotos, pôsteres e outros materiais usados para promover os filmes de Naschy ao redor do planeta. Hoje, ele é considerado não somente um dos maiores ícones do cinema espanhol, mas do cinema de horror mundial.

Ao todo, sem contar os curtas, mas somando cinema e TV, Naschy atuaria em 118 filmes, escreveria 52 e dirigiria 23. Dentre os destaques fora da série de el hombre lobo podemos citar O Horror Surge da Tumba (El Espanto Surge de la Tumba, 1972), no qual Naschy interpreta Alaric de Marnac, feiticeiro medieval executado por seus crimes que retorna à vida nos dias atuais para se vingar, inspirado no assassino serial medieval Gilles de Rais, e que seria o único personagem além de Daninsky que Naschy interpretaria duas vezes, já que esse filme teria uma continuação, chamada Gritos de Pânico (Latidos de Pánico, 1983, produzido pela Aconito com dinheiro dos japoneses); O Corcunda do Necrotério (El Jorobado de la Morgue, 1972), curiosa mistura de horror e ficção científica, no qual Naschy interpreta um corcunda que, na Alemanha do século XIX, ajuda a conseguir corpos para que um cientista crie uma nova forma de vida (mas que não tem absolutamente nada a ver com Frankenstein, apesar da premissa semelhante), em troca da promessa do cientista de que irá ressuscitar uma mulher por quem o corcunda era apaixonado para que eles se casem; O Grande Amor do Conde Drácula (El Gran Amor del Conde Dracula, 1973), no qual quatro lindas mulheres pedem para passar a noite no castelo do Dr. Wendell Marlowe (Naschy), sem saber que ele é, na verdade, um vampiro em busca de uma noiva; O Mariscal do Inferno (El Mariscal del Infierno, 1974), no qual Naschy interpreta o Barão Gilles de Lancré, obcecado por magia negra; Os Olhos Azuis da Boneca Quebrada (Los Ojos Azules de la Muñeca Rota, 1974), suspense policial escrito por Naschy, que interpreta o faz-tudo em uma fazenda no interior da França, principal suspeito de uma série de crimes que assola a cidadezinha próxima, nos quais o assassino mata mulheres de olhos azuis e os remove; Uma Libélula para cada Morto (Una Libelula Para Cada Muerto, 1975), no qual Naschy interpreta um policial que investiga uma série de crimes nos quais o assassino sempre deixa uma libélula junto ao cadáver; Inquisição (Inquisición, 1978), estreia de Naschy na direção, no qual ele interpreta um caçador de bruxas; O Andarilho (El Caminante, 1979), escrito, dirigido e estrelado por Naschy, no qual ele interpreta o Diabo, que decide assumir forma humana e passar um dia viajando pela Espanha Medieval; Mistério na Ilha dos Monstros (Misterio en la Isla de los Monstruos, 1981), inspirado em uma história de Júlio Verne, no qual Naschy e Peter Cushing possuem um pequeno papel cada um, mas não contracenam um com o outro; e Um Lobisomem na Amazônia, filme brasileiro de 2005 dirigido por Ivan Cardoso e parcialmente inspirado em A Ilha do Dr. Moreau, no qual Naschy interpreta um cientista que se transforma em lobisomem após fazer experimentos científicos consigo mesmo.

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