segunda-feira, 25 de abril de 2011

Escrito por em 25.4.11 com 0 comentários

O Mágico de Oz

Outro dia eu me assustei com a notícia de que haviam refilmado Amanhecer Violento, um filme não-tão-famoso-assim dos anos 1980. Depois, vieram as notícias das refilmagens de Highlander e Robocop. Estava eu pensando que devo estar ficando velho, já que um bando de filmes que eram roteiros originais quando eu era criança agora serão refilmados - porteira aberta pelo Karate Kid do Jackie Chan - quando uma amiga me informou que estavam refilmando Os Três Mosqueteiros. Aí me pus a pensar sobre aquela velha reclamação de que não existem mais roteiros originais hoje em dia em Hollywood.

Enquanto refletia, pensei como era engraçado que, no meio dessas refilmagens todas, ninguém tivesse pensado em refilmar O Mágico de Oz. Afinal, é um filme velho, baseado em uma história que já é de domínio público, e, tirando aquele The Wiz com a Diana Ross e o Michael Jackson e uma versão estrelada pelos Muppets, jamais teve uma refilmagem, só um monte de continuações. Uma rápida pesquisa, porém, me informou que, embora ainda não seja dessa vez que o filme de 1939 ganhará uma refilmagem, a seca de roteiros em Hollywood deve ser maior do que se imagina: nada menos do que sete novas versões de O Mágico de Oz estão programadas para um futuro próximo, incluindo uma dirigida por Sam Raimi que deve estrear em 2013.

Como eu sou saudosista, entretanto, o filme de 1939, para mim, continuará sendo o único e verdadeiro. Portanto, antes que essas novas versões todas estreiem e ninguém mais se lembre dele, vamos a um post. Basta seguir a Estrada dos Tijolos Amarelos! Ou continuar lendo depois da figura.



A protagonista de O Mágico de Oz é Dorothy Gale (Judy Garland), menina órfã que vive em uma fazenda no interior do Kansas com seus tios, Henry (Charles Grapewin) e Em (Clara Blandick), seu cachorro Totó e três empregados (Ray Bolger, Jack Haley e Bert Lahr). Totó é meio sem educação, e tem o hábito de invadir a fazenda vizinha, que pertence à detestável Srta. Gulch (Margaret Hamilton). Durante uma dessas incursões, Totó morde a Srta. Gulch, que, tomada pelo ódio, vai até o prefeito e consegue uma autorização para transformar o cachorrinho em sabão. Querendo preservar a vida de seu melhor amigo, Dorothy faz uma pequena trouxa e foge. No caminho, ela conhece o mágico viajante Professor Marvel (Frank Morgan), que a convence a voltar para casa, dizendo-a que viu em sua bola de cristal que sua tia ficou muito doente de saudades. Infelizmente para Dorothy, bem na hora que ela volta para casa está passando um tornado. Todos os moradores da fazenda se abrigaram, mas Dorothy, chegando depois, fica dentro da casa.

O tornado é tão forte que levanta a casa e a arremessa para Oz, um mundo mágico e colorido. Logo em sua chegada ao estranho lugar, Dorothy já arruma confusão, já que, em uma das cenas mais antológicas do cinema, a casa cai diretamente sobre a Bruxa Malvada do Leste, matando-a. Os habitantes do lugar, os anõezinhos Munchkins, ficam muito felizes por terem se livrado da bruxa opressora, e fazem uma grande festa para celebrar o fato. A festa é interrompida com a chegada da irmã da falecida, a Bruxa Malvada do Oeste (Margaret Hamilton), que quer vingar-se de Dorothy pela desfeita. Felizmente, Dorothy tem a seu lado Glinda, a Bruxa Boa do Norte (Billie Burke), que a protege.

Tudo o que Dorothy quer, porém, é voltar para o Kansas e para a sua família. Glinda, então, a instrui a seguir a Estrada dos Tijolos Amarelos até a Cidade Esmeralda, onde encontrará o Mágico de Oz (que no original em inglês é o Bruxo de Oz, o que até faz mais sentido), único com poderes para levá-la de volta para casa.

No caminho, Dorothy fará três amigos, o Espantalho (Ray Bolger), que deseja um cérebro; o Homem de Lata (Jack Haley), que deseja um coração; e o Leão Covarde (Bert Lahr), que deseja coragem. Acreditando que o Mágico de Oz (Frank Morgan) poderá lhes dar tudo isso, eles seguem juntos. Após conhecer o Mágico e travar uma batalha contra a Bruxa Malvada do Oeste e seus macacos voadores, entretanto, o que todos acabam conseguindo são valiosas lições de moral, amizade e companheirismo.

No final do filme, Dorothy volta para casa, todos ficam felizes e ela promete jamais fugir novamente. Mas ninguém explica como eles fizeram para evitar que Totó virasse sabão.

O Mágico de Oz é baseado em um livro, escrito por L. Frank Baum e publicado em 1900, cujo título original é The Wonderful Wizard of Oz ("o maravilhoso bruxo de Oz"), mas que, depois do filme, acabou sendo republicado também com o título O Mágico de Oz (The Wizard of Oz). Não foi a primeira adaptação do livro - outros filmes, peças de teatro e até uma novela de rádio já haviam sido feitos - mas foi a que ficou mais famosa. A MGM decidiu comprar os direitos do livro e adaptá-lo para o cinema motivada pelo enorme sucesso do desenho Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney. Até então, filmes infantis ou de fantasia eram considerados extremamente arriscados e de pouco retorno de bilheteria, mas o desenho da Disney provou que eles podiam ser rentáveis, o que levou a uma verdadeira explosão de filmes do gênero.

Como sempre acontece nessas ocasiões, porém, o mercado, saturado, não deu conta, e quase todos os filmes de fantasia lançados em 1937 e 1938 (ano de estreia de Branca de Neve e ano no qual a MGM comprou os direitos de O Mágico de Oz, respectivamente) acabaram sendo fracassos de bilheteria. A preocupação com isso levou a um fato curioso: no primeiro rascunho de O Mágico de Oz, todos os elementos de fantasia foram abolidos. Nele, o Espantalho era um homem tão burro que só conseguiu emprego se fantasiando de espantalho para tomar conta de uma plantação, e o Homem de Lata era um criminoso tão sem coração que foi condenado a vestir uma roupa de lata, que restringia seus movimentos, pelo resto da vida. Felizmente, esse roteiro logo foi descartado.

O roteiro de O Mágico de Oz, aliás, é uma verdadeira colcha de retalhos. Após descartar o roteiro não-fantástico, Mervyn LeRoy, o produtor do filme, contratou nada menos que três roteiristas, Herman J. Mankiewicz, Noel Langley e o poeta Ogden Nash. Cada um deles foi contratado para escrever o roteiro inteiro, e não sabia que os outros dois haviam sido contratados para a mesma coisa - o que pode parecer esquisito hoje em dia, mas era uma prática até bem comum na época. Depois que os três roteiros estavam concluídos, Florence Ryerson e Edgar Allan Woolf foram contratados para revisar tudo e garantir que a história estava fiel ao livro de Baum. Antes de começarem as filmagens, Victor Fleming e John Lee Mahin revisaram tudo mais uma vez, cortando algumas cenas. Estima-se que quase 20 pessoas tenham contribuído para o roteiro - inclusive Jack Haley e Bert Lahr, que escreveram algumas de suas próprias falas na sequência da fazenda - mas os créditos finais ficariam apenas com Langley, Ryerson e Woolf.

O roteiro final possui várias diferenças em relação ao livro, sendo as principais o fato de que três personagens do livro - a Bruxa Boa do Norte, a Bruxa Boa do Sul e a Rainha dos Ratos - foram mescladas em uma única personagem do filme, Glinda; a Bruxa Malvada do Oeste é bem mais presente no filme, do qual é a vilã principal, do que no livro, no qual só aparece em um único capítulo; e uma sequência que mostra os três amigos indo salvar Dorothy de um perigo é ao inverso no livro - Dorothy é quem os salva. Mas a maior diferença entre o livro e o filme é que, no livro, Oz é um lugar real, para onde Dorothy retorna em vários livros subsequentes e onde o Tio Henry e a Tia Em vão morar depois que sua casa é destruída no tornado, enquanto no filme tudo não passou de um sonho de Dorothy. Essas alterações foram feitas não somente para cortar custos e diminuir a duração do filme, mas também para que tanto adultos quanto crianças se interessassem por ele, e para tentar fazer com que ele não fosse mais um filme de fantasia a fracassar nas bilheterias.

Assim como o roteiro, a escolha do elenco do filme também foi um tanto confusa. A preferida dos executivos da MGM para o papel de Dorothy era Shirley Temple, que tinha contrato com a Fox. Diz a lenda que a Fox só teria aceitado ceder Temple caso a MGM aceitasse ceder Clark Gable e Jean Harlow para um de seus futuros filmes, mas isso é apenas uma lenda, já que Harlow faleceu um ano antes de a MGM conseguir os direitos do livro. De qualquer forma, o produtor musical do filme, Roger Ebens, não achava a voz e o estilo de Temple apropriados para o papel, e preferia Deanna Durbin, que, assim como Temple, apesar da pouca idade, já tinha bastante experiência, uma grande quantidade de fãs, e um contrato com um estúdio rival, a Universal. Garland, que contracenara com Durbin no filme Every Sunday, acabou ficando com o papel não somente por não ter ainda contrato com ninguém, mas também devido a um episódio curioso: o roteiro original do filme previa uma cena na qual uma princesa mimada de Oz, que proibiu todos os estilos musicais exceto a música clássica e a ópera, trava um duelo de canções com Dorothy. Após Betty Jaynes ser contratada para o papel da princesa, Ebens achou que seu estilo e o de Durbin eram muito parecidos, e recomendou a LeRoy que Garland ficasse com o papel principal. A cena acabaria cortada e Jaynes dispensada, mas Garland seguiria como Dorothy, talvez o papel mais marcante de sua carreira.

Ray Bolger fora originalmente contratado para ser o Homem de Lata, enquanto Buddy Ebsen (que ficaria mais tarde conhecido como o Jed Clampett da série de TV dos anos 60 A Família Buscapé) seria o Espantalho. Bolger, entretanto, faria grande pressão para interpretar o Espantalho, principalmente porque fora esse o papel que seu ídolo, Fred Stone, interpretou na peça de teatro de 1902 - segundo Bolger, inclusive, foi essa atuação de Stone que o motivaria a seguir também a carreira de ator. Bolger acabaria convencendo LeRoy a trocar de papel com Ebsen, que não se opôs, participou de todos os ensaios e chegou até mesmo a gravar algumas cenas como Homem de Lata. Pouco após o início das filmagens, porém, Ebsen começou a reclamar de cãibras e dificuldade para respirar e foi hospitalizado. Descobriram, então, que ele era alérgico ao pó de alumínio presente na maquiagem, o que fez com que ele fosse substituído no papel por Jack Haley.

O papel da Bruxa Malvada do Oeste ficaria com Gale Sondergaard (de A Máscara do Zorro e Ana e o Rei), mas, alegando que fora contratada para interpretar uma bruxa glamourosa, no estilo da madrasta malvada de Branca de Neve, e não uma bruxa feia como a que foi revelada nas sessões de maquiagem, pediu para se desligar da produção. Margaret Hamilton, que era contratada da MGM e normalmente fazia papéis menores, a substituiu quando faltavam apenas três dias para o início das filmagens. Finalmente, o famoso ator da Broadway W.C. Fields ficaria com o papel do Mágico de Oz, mas esgotou a paciência de LeRoy de tenato negociar e renegociar seu salário, nunca se mostrando plenamente satisfeito com o que era oferecido pela MGM. Assim como Hamilton, Frank Morgan, que o substituiu, era contratado da MGM, e normalmente escalado para papéis menores.

As filmagens começaram ainda em 1938, com Norman Taurog como diretor. Após alguns testes de cena, ele decidiria ficar apenas como técnico, sendo substituído por Richard Thorpe, que filmaria um total de nove dias antes de Ebsen ter de ser hospitalizado. Enquanto procurava por um novo ator para o Homem de Lata, LeRoy decidiu assistir ao que Thorpe já havia filmado, e achou que seu estilo estava em desacordo com a atmosfera do filme - a Dorothy de Thorpe, por exemplo, usava maquiagem pesada e uma peruca loura que a deixavam com cara de boneca. LeRoy demitiu Thorpe e o substituiu por George Cukor, que teve de refilmar quase todas as cenas já feitas por Thorpe. Cukor, entretanto, já havia assinado com a Warner para dirigir ...E o Vento Levou, e, quando as filmagens deste começaram, ainda no final de 1938, ele teve de deixar o cargo. Victor Fleming então assumiu e levou as filmagens até bem perto do final, quando, coincidentemente, saiu para substituir Cukor como diretor de ...E o Vento Levou. King Vidor terminou as filmagens de O Mágico de Oz, mas Fleming é quem acabaria sendo creditado como único diretor - de ambos os filmes.

Vários problemas ocorreram durante as filmagens, como durante a gravação da cena na cidade dos Munchkins na qual a Bruxa Malvada do Oeste sai de cena em meio a uma explosão, que resultou em queimaduras no rosto e nas mãos de Margaret Hamilton. Esse incidente fez com que ela se recusasse a gravar uma cena na qual a Bruxa voava em uma vassoura que expelia fumaça pela traseira; LeRoy pediu para que a dublê Betty Danko a fizesse, e um defeito no mecanismo acabou resultando em mais queimaduras, dessa vez nas coxas e costas da dublê. Hamilton era, talvez, a mais azarada, já que, além disso tudo, sua maquiagem era tão pesada que a impedia de comer, o que fez com que ela tivesse de se alimentar apenas de líquidos durante as filmagens; já a maquiagem de Jack Haley, embora não tenha lhe causado um problema tão sério quanto o de Ebsen, lhe deixou com uma infecção no olho. As sequências mais problemáticas foram a da cidade dos Munchkins - a produção teve de contratar mais de cem anões, produzir figurinos próprios para todos eles, e então catalogar quem estava vestindo o que, já que as filmagens tomariam mais de um dia - e a cena na qual os quatro amigos e Totó percorrem dançando a Estrada dos Tijolos Amarelos - que precisou de nada menos que doze tomadas até o cachorro finalmente aceitar percorrer a estrada ao lado dos atores.

O Mágico de Oz estrearia oficialmente em 25 de agosto de 1939, após várias pré-estreias que começaram treze dias antes. O filme foi até bem recebido pela crítica, sendo indicado a seis Oscars (incluindo Melhor Filme), dos quais ganhou dois (Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção - Over the Rainbow, que, curiosamente, quase ficou de fora da versão final, porque os executivos da MGM achavam que a sequência introdutória estava grande demais), mas o temor dos produtores se confirmou, com a bilheteria nem conseguindo cobrir os custos de produção e distribuição, o que levou a MGM a considerá-lo, oficialmente, um fracasso - especialmente porque ele havia sido o filme mais caro da história do estúdio, e grandes esperanças foram depositadas no retorno da bilheteria.

Depois da Segunda Guerra Mundial, entretanto, algo aconteceu. Talvez querendo recuperar um dinheirinho a mais, a MGM relançou o filme nos cinemas em 1949. A partir de então, ele se tornou um grande cult, com seu sucesso sendo impulsionado por inúmeras reprises na televisão, que fizeram com que se tornasse um dos maiores clássicos do cinema e um dos filmes mais conhecidos de todos os tempos - mais que isso, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos o cita como "o filme mais assistido de todos os tempos", embora eu não saiba como eles fizeram para medir essa audiência. Algumas de suas cenas - como a queda da casa sobre a bruxa - e falas - "Totó, acho que não estamos mais no Kansas"; "não há lugar como nosso lar" - se tornaram antológicas, sendo reproduzidas e parodiadas em diversas outras obras, e conhecidas até por quem nunca viu o filme.

A versão de 1949 possui uma curiosidade em relação à original: originalmente, as sequências no Kansas foram filmadas em preto e branco, mas receberam um filtro sépia na pós-produção, enquanto as sequências em Oz foram filmadas em Technicolor. A transição se dá na cena na qual Dorothy abre a porta após a casa cair em Oz - essa cena já foi filmada em Technicolor, mas usando uma versão especial da parede e da porta da casa pintadas em tons sépia, para criar uma ilusão de preto e branco e colorido na mesma cena. A versão de 1949, por algum motivo, usa as cenas originais em preto e branco, sem o filtro sépia, o que faz com que a transição do preto e branco para o colorido seja facilmente identificada e a ilusão se perca. Curiosamente, a versão de 1949 foi a vendida para a televisão - alguns argumentam que esse teria sido o motivo do filtro ter sido descartado - o que fez com que quem não assistiu o filme nos cinemas em 1939 imaginasse que essa fosse sua versão original. Somente em 1989, quando, por ocasião do aniversário de 50 anos do filme, ele foi relançado em VHS e laserdisc com as cenas em sépia, as emissoras de televisão passaram a exibi-lo também dessa forma - embora algumas, especialmente as menores, ainda o tenham exibido com as sequências em preto e branco até 1996.

Uma terceira versão do filme seria lançada nos cinemas em 1955. Desta vez, as sequências em Oz não somente seriam coloridas, mas em widescreen, enquanto as sequências no Kansas seriam em preto e branco e fullscreen. Como o filme foi todo filmado em fullscreen, as sequências em Oz foram editadas, removendo partes do topo e da parte de baixo da tela. Em 1996, os direitos do filme seriam adquiridos pela Warner, que, em 1998 o relançaria nos cinemas, em uma quarta versão, mais fiel à original de 1939 - todo em fullscreen e com Kansas em sépia - mas remasterizada e com o som remixado. Ambas essas versões podem ser encontradas em DVD e Blu-Ray; a de 1939 só existe em VHS e laserdisc, e a de 1949 nunca foi lançada em vídeo.

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