terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Escrito por em 2.12.08 com 0 comentários

Karate Kid

Assim como às vezes eu gostaria de entender o porquê de certos filmes que saíram direto em DVD lá fora passarem nos cinemas daqui e vice-versa, às vezes eu gostaria de entender por que alguns filmes mais antigos ainda não existem em DVD. Quer dizer, as bancas de promoção estão abarrotadas de filmes que ninguém nunca ouviu falar, enquanto clássicos como The Running Man - O Sobrevivente e Top Secret - Superconfidencial só existem em Área 1. Tudo bem, vocês podem argumentar que só eu e mais meia dúzia de gente acha esses filmes clássicos, mas meu próximo exemplo é bem mais contundente: Karate Kid. Esse sim é um clássico. Famosíssimo. Todo mundo já ouviu falar. E não tem em DVD. Nenhum dos três originais. O único que eu já vi vendendo foi o 4, que nem tem Daniel-San. E já faz um tempo.

Karate Kid é um dos filmes mais emblemáticos dos anos 80, foi um dos responsáveis por uma febre de caratê que assolou o Brasil, elevou Pat Morita ao estrelato, e fez um buraco de tanto passar na Sessão da Tarde. Ok, talvez eu esteja exagerando, mas ninguém pode negar que foi um filme de muito sucesso, e legal pra caramba. Se fosse lançado em DVD por aqui, certamente venderia bastante. Mas enquanto a Sony, que tem os direitos, não se resolve, eu faço a minha parte e preparo um post sobre ele.

Daniel-San e o Sr. MiyagiDirigido por John G. Avildsen (de Rocky) e lançado em 1984 com o nome original de The Karate Kid ("o garoto do caratê"), Karate Kid: A Hora de Verdade conta a história de Daniel LaRusso (Ralph Macchio), um adolescente que se muda com a mãe (Randee Heller) da Costa Leste para a Oeste dos Estados Unidos, em busca de um recomeço após a morte de seu pai. Logo em seus primeiros dias na cidade, Daniel arruma confusão: passeando na praia, ele conhece Ali Mills (Elizabeth Shue), e, como todo bom adolescente de filme, se apaixona por ela. Quando Ali é importunada pelo ex-namorado, Johnny Lawrence (William Zabka), Daniel parte em seu socorro, tentando fazer uso de alguns golpes de caratê que aprendera em Nova Jérsei, sua antiga cidade. Daniel não sabe, porém, que Johnny é um dos melhores lutadores do dojo Cobra Kai, e acaba não só apanhando que nem um boi ladrão como também fazendo um inimigo muito perigoso.

A partir de então, quem passa a ser molestado é Daniel, que apanha em praticamente todas as ocasiões em que se encontra com Johnny e seus amigos do Cobra Kai. Um dia, ele está para ser linchado até a morte quando surge o zelador do conjunto em que Daniel mora, o Sr. Miyagi (Pat Morita). Aparentemente um velhinho calmo, humilde e inofensivo, Miyagi é um mestre do caratê, que derrota Johnny e seus quatro amigos sem muito esforço. Daniel implora para que o Sr. Miyagi o ensine caratê, mas ele se recusa, insistindo que as artes marciais devem ser usadas apenas para defesa, e imaginando que Daniel usará o caratê para se vingar de seus desafetos.

Com o tempo, porém, Miyagi percebe que os alunos do Cobra Kai não deixarão Daniel em paz tão cedo, e decide acompanhar o jovem até o dojo, para falar com o sensei de lá, o ex-militar veterano do Vietnã John Kreese (Martin Kove). Mas Kreese, infelizmente, acha que piedade é para os fracos, e que Daniel tem mais é que apanhar mesmo. Miyagi, então, tem uma idéia: diz que Daniel irá participar do próximo torneio de caratê da região, e propõe uma trégua até o dia do torneio, para que seu pupilo possa treinar em paz. Kreese concorda e ordena os alunos do Cobra Kai a deixar de bater diariamente em Daniel, mas avisa que, se Daniel não aparecer no dia do torneio, não somente ele, mas também o Sr. Miyagi serão massacrados.

Miyagi, então, começa a treinar Daniel, e o coloca para fazer várias tarefas domésticas, aparentemente como pagamento. Aos poucos, o adolescente aprende não somente caratê, mas também a ser uma pessoa melhor, e desenvolve uma relação de amizade com o Sr. Miyagi, como se ambos fossem pai e filho.

No dia do torneio, Daniel, já bem treinado, aparece para enfrentar os Cobra Kai. Como não é de bom tom contar o final do filme, eu paro meu resumo por aqui.

Inicialmente um projeto despretensioso, Karate Kid se tornou um enorme sucesso, principalmente por mostrar o lado disciplinado e "espiritual" das artes marciais, algo totalmente diferente do que os filmes da época faziam, sempre mostrando as lutas como desculpa para violência coreografada e gratuita. Graças a isso, o interesse dos jovens americanos por artes marciais, especialmente caratê, cresceu como há muito não se via. Ralph Macchio, até então um desconhecido, foi uma aposta do diretor, e acabou sendo muito elogiado, junto com Randee Heller, pelo fato de ambos retratarem uma família ítalo-americana de forma positiva, também diferentemente do que os filmes da época costumavam fazer. O filme fez deslanchar a carreira de Elizabeth Shue, e revitalizou a de Pat Morita, que até então só era conhecido do grande público por interpretar o dono de uma lanchonete no seriado televisivo Happy Days. Morita não foi a primeira opção dos produtores para o papel - seu preferido, Toshiro Mifune, de Os Sete Samurais, foi vetado pelo roteirista, e a segunda opção, Mako Iwamatsu, não pôde aceitar por já estar filmando Conan, o Destruidor - mas trabalhou tão bem que acabou indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, e ficou conhecido até o fim de sua vida como Sr. Miyagi. Um boato curioso quanto ao elenco dizia que Chuck Norris havia sido convidado para o papel de Kreese, mas recusara por não querer interpretar um personagem que passasse uma imagem negativa das artes marciais; anos mais tarde, o próprio Norris desmentiria este boato, dizendo que nem chegara a ser convidado para o papel.

Como acontece sempre, o enorme sucesso do filme levou a uma continuação. Esta não sairia, porém, até 1986, pois Avildsen só queria realizá-la se o roteiro fosse realmente bom. E parece que o diretor tinha razão: Karate Kid 2: A Hora da Verdade Continua (cujo nome original era mais simples e menos esquisito, The Karate Kid part II) foi ainda mais bem sucedido que seu antecessor, rendendo ainda mais nas bilheterias, e transformando sua música-tema, Glory of Love, em um hit mundial, sendo inclusive indicada ao Oscar de Melhor Canção. O filme ainda tem um detalhe curioso: as cenas ambientadas no Japão não foram filmadas naquele país, mas no Havaí, para reduzir os custos da produção.

Karate Kid 2 começa imediatamente de onde o primeiro filme terminou - tão imediatamente que muita gente achava que seu início era um final previamente descartado, embora ele na verdade tenha sido filmado junto com o resto do filme 2. Neste filme, Daniel-San e o Sr. Miyagi vão para o Japão, após o sensei receber uma carta dizendo que seu pai está muito doente. Lá, Miyagi reencontra um antigo desafeto, Sato (Danny Kamekona), hoje um rico industrial. Miyagi revela a Daniel que ele e Sato foram amigos, ambos tendo aprendido caratê com o pai de Miyagi, mas se tornaram inimigos ao se apaixonarem pela mesma mulher, Yukie (Nobu McCarthy), e que ele decidiu ir para os Estados Unidos para não ter de lutar em um combate até a morte contra Sato.

Kumiko e DanielAtravés de Yukie e sua sobrinha Kumiko (Tamlyn Tomita), Miyagi e Daniel ficam sabendo que Sato e seu sobrinho Chozen (Yuji Okumoto) agora praticamente controlam a cidade, explorando sua população, o primeiro impedindo que eles vivam da pesca ao utilizar enormes barcos para pescar com arrastão, o segundo comprando sua produção agrícola por menos do que ela vale.

Antes de morrer, o pai do Sr. Miyagi pede que ele e Sato façam as pazes, mas Sato não está muito a fim. Miyagi volta a se envolver com Yukie, enquanto Daniel se envolve com Kumiko, e é importunado por Chozen e seus amigos. Assim como os eventos do primeiro filme fizeram Daniel crescer como pessoa, mais uma vez ele terá importantes lições, nem todas relacionadas ao caratê.

Karate Kid ainda ganharia mais uma continuação em 1989, Karate Kid 3: O Desafio Final (The Karate Kid part III no original), também dirigida por Avildsen e estrelada por Macchio e Morita, embora esta não tenha sido tão bem sucedida, rendendo menos da metade do filme original e um terço do que rendeu a parte 2. Neste terceiro filme, o Cobra Kai entra em decadência após a derrota de Johnny para Daniel no final do torneio do primeiro filme, e o papelão que Kreese paga no início do filme 2. Sem muita saída, Kreese procura Terry Silver (Thomas Ian Griffith), seu antigo colega de batalhão no Vietnã, dono do Cobra Kai e rico industrial, cuja empresa costuma poluir o meio-ambiente com produtos químicos. Silver promete que se vingará de Daniel e Miyagi pela humilhação que eles fizeram seu dojo sofrer.

Assim, quando Miyagi e Daniel retornam do Japão, eles descobrem que o prédio onde Miyagi trabalhava foi vendido, e ele agora está desempregado. Daniel tenta convencê-lo a abrir uma loja de bonsai, mas ele não acha que seja uma boa idéia. Mesmo assim, Daniel decide abrir a loja, e enquanto compra alguns vasos, conhece um novo futuro interesse amoroso, Jessica Andrews (Robyn Lively). Paralelamente a isso, Silver contrata um lutador de caratê famoso por sua deslealdade, Mike Barnes (Sean Kanan), para colocar seu plano em prática, e Daniel recebe um convite para defender seu título na nova edição do torneio que vencera no ano anterior, mas decide não participar.

Silver, porém, quer que Daniel participe, para implementar sua vingança. Então, ele não somente se aproxima de Daniel e Miyagi se fazendo de bonzinho, como também manda Barnes "convencer" Daniel a se inscrever, utilizando quaisquer métodos que julgar necessários. Por fim, Daniel decide ceder à pressão e lutar, mas, como ele fez algumas burradas antes disso, Miyagi se recusa a treiná-lo. Aí Silver se oferece, algo que, na verdade e evidentemente, faz parte de sua vingança. Durante o treinamento, Daniel não somente se contunde como passa a tratar mal Miyagi, que, sem saber do treinamento secreto, se entristece com seu amigo. Para reconquistar sua dignidade, Daniel terá mais uma vez que crescer como pessoa, e aprender valiosas lições.

Apesar de não ser um filme tão ruim, Karate Kid 3 é bastante criticado, principalmente por ser considerado uma continuação desnecessária, que queria faturar em cima da popularidade dos personagens - tanto que trouxeram Kreese e o Cobra Kai de volta. Muitos criticam o fato de Daniel ser tão ou mais ingênuo e petulante do que antes de conhecer o Sr. Miyagi, um comportamento que não seria condizente com um personagem que passou por tudo o que ele passou nos dois primeiros filmes. O fato de Barnes dominar a luta final contra Daniel, que só vence após um golpe inusitado no final, justamente como no primeiro filme, também é alvo de muitas críticas, já que, após tanto treinamento e tantas lutas importantes, ele não deveria ser tão facilmente anulado por um oponente desonesto. Além disso, Karate Kid 3 se passa mais ou menos um ano e meio após o primeiro Karate Kid, mas Daniel parece muito mais velho em relação aos dois outros filmes, já que, na vida real, se passaram cinco anos antre o primeiro e o terceiro - de fato, Ralph Macchio, já com 28 anos, pensou em recusar o papel por achar que não ficava bem ele interpretar um adolescente; e para piorar a situação, Griffith, cujo personagem é um veterano do Vietnã e dono de um dojo, é na verdade mais jovem do que Macchio. O torneio final também é alvo de muitos protestos, já que Daniel, o atual campeão, aparentemente começa direto na final, e Barnes consegue se safar mesmo após aplicar inúmeros golpes desleais, quando na verdade deveria ter sido desclassificado. A forma física de Daniel e o fato de que ele e Jessica nem iniciam um relacionamento amoroso - ela até some do filme antes do torneio final - também costumam ser citados como pontos negativos por muitos fãs.

O famoso Golpe da Garça, ou seja lá qual for o nome em português


No geral, Karate Kid 3 pode ser considerado mais um exemplo de terceiro filme equivocado em uma trilogia, mas felizmente ele não matou a mística da franquia, que no mesmo ano de 1989 ganharia uma série animada, produzida pela DiC e exibida na NBC nas manhãs de domingo. O desenho mostrava Daniel, o Sr. Miyagi e uma adolescente japonesa de nome Taki correndo o mundo atrás de um artefato japonês com poderes de cura que foi roubado de seu santuário no Japão. Em cada episódio, o Sr. Miyagi encontrava uma pista sobre o paradeiro do objeto, Daniel e Taki enfrentavam alguns vilões que queriam utilizá-lo para seus próprios propósitos malignos, e então, quando estavam a um milímetro de recuperar o objeto, algo acontecia que o levava para longe, garantindo mais um episódio. O desenho até que não era ruim, mas, como foi lançado após o terceiro filme, quando a popularidade da série já não estava lá essas coisas, não fez muito sucesso, e foi cancelado após apenas 12 episódios. Caso alguém aí esteja se perguntando, não, o desenho não contava com as vozes originais de Macchio e Morita.

A série de Karate Kid ainda teria mais um "filho temporão", Karate Kid 4: A Nova Aventura (The Next Karate Kid, no original), lançado em 1994, dez anos após o filme original, e dirigido por Christopher Cain. Desta vez a história se passava em Boston, e o "karate kid" não era Daniel-San, mas Julie Pierce (Hilary Swank, aos 19 anos), neta de um amigo de Miyagi. Julie é uma adolescente problemática e violenta, que não consegue aceitar a morte trágica dos pais em um acidente de carro. Miyagi decide então ensiná-la caratê, para acalmar seu espírito e transformá-la em uma pessoa melhor. Karate Kid 4 foi o menos sucedido da série - rendeu 10% do que rendeu a parte 2 - e muitos fãs nem o consideram como sendo parte dela, já que a única coisa que ele tem em comum com os demais é o Sr. Miyagi.

Por enquanto, Karate Kid 4 ainda é o último, mas já se fala em um novo filme para a série, que alguns estão tratando como uma continuação, outros como um remake, outros com um filme que em comum só vai ter o título. O certo é que ele será estrelado por Jaden Smith, filho de Will Smith, e terá uma história bastante parecida com a do Karate Kid original, com um adolescente freqüentemente importunado pelos valentões da escola crescendo como pessoa ao aprender caratê com um mentor oriental. Seja continuação, remake ou spin-off, algo me diz que não vai ser lá essas coisas, e que a série podia ficar sem essa.

Mas Karate Kid não é a primeira nem será a última série de filmes que começou bem e terminou mal. O que realmente devemos guardar é a importância dos dois primeiros filmes para uma época, o sucesso que eles fizeram, e as lições que eles nos trazem. E, quando eu digo guardar, quero dizer, preferencialmente, em DVD. Bem, quem sabe quando o novo filme estrear não decidem relançar os antigos, como fizeram com o Indiana Jones?

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