terça-feira, 21 de outubro de 2008

Escrito por em 21.10.08 com 0 comentários

Gary Oldman

Eu nunca me interessei por ler Harry Potter. Depois de ver os filmes até achei tudo bem legal, mas nunca me animei para pegar um dos livros. Na verdade, eu nunca tinha me animado para assistir aos filmes também. Somente depois que O Prisioneiro de Azkaban tinha estreado nos cinemas é que eu resolvi alugar os outros dois para ver qual era a desse tal Harry Potter. E um dos motivos que me levaram a fazê-lo foi a presença de Gary Oldman no elenco.

Oldman é mais um dos meus atores favoritos, em uma lista que não é assim tão grande, mas é muito bem freqüentada. O primeiro filme que eu vi com ele foi Drácula de Bram Stoker, e confesso que, se fosse depender deste, ele acabaria sendo apenas mais um na multidão. Pouco tempo depois, felizmente, eu assisti a um filmaço, O Profissional, no qual Oldman, muito bem acompanhado por Jean Reno e Natalie Portman, dá um show. Daí em diante eu comecei a prestar mais atenção em suas interpretações, e não tive como deixar de incluí-lo em minha lista.

Gary Leonard Oldman nasceu em Londres, Inglaterra, em 21 de março de 1958, filho de uma dona-de-casa de origem irlandesa e de um ex-marinheiro que ganhava a vida como soldador, que se conheceram no País de Gales durante a Segunda Guerra Mundial. Quando tinha sete anos, seu pai, um alcóolatra que batia na esposa, decidiu sair de casa para viver com uma mulher mais jovem, o que fez com que Gary fosse criado apenas pela mãe e por duas irmãs bem mais velhas que ele. Muitas vezes, para fugir da triste realidade, Gary se refugiava em mundos de fantasia criados por sua imaginação, onde interpretava personagens que viviam incríveis aventuras.

Desde pequeno, Oldman se interssou por música, especialmente canto e piano. Escola, porém, não era para ele, que detestava regras, e ouvia freqüentemente de seus professores que não seria nada na vida. Aos 15 anos, ele deixou de estudar para trabalhar como vendedor em uma loja de esportes. Mais ou menos nesta época, veio a epifania que mudaria sua vida.

Um dia, Gary estava assistindo TV, quando se deparou com uma sessão dupla de filmes estrelados por Malcolm McDowell, If... e Muito Tarde para o Amanhã. Para Oldman, McDowell estava expressando seus próprios sentimentos de perda, raiva, alienação e impotência, mas transformando-os em algo positivo. Neste dia, ele decidiu que queria ser ator.

Começar na carreira, porém, era mais difícil do que ele imaginava. Oldman se inscreveu no curso de interpretação do Greenwich Young People's Theatre, onde não se adaptou. Encorajado por um professor, ele tentou entrar na Academia Real de Artes Dramáticas, mas foi rejeitado após um teste. Ao invés de desistir, ele treinou ainda mais, e acabou conseguindo uma bolsa no Rose Bruford College of Speech and Drama, na cidade de Kent, onde se formou em artes teatrais em 1979. Com o diploma embaixo do braço, ele saiu em busca de seu primeiro papel, que seria do gato Puss na peça Dick Whittington And His Wonderful Cat, encenada no Teatro Real de York em 1980. Mesmo enquanto a peça estava em cartaz, Oldman seguiu buscando novos papéis, e só em 1980 chegou a atuar em cinco peças de quatro teatros diferentes. Ele adorava interpretar o dia inteiro, viver no ambiente do teatro, e chamava a atenção dos colegas pela forma como se entregava aos papéis, não importando quais fossem. Mesmo assim, ele não abria mão de estudar diferentes gêneros teatrais, para que pudesse interpretar papéis cada vez mais variados.

Em 1983, Oldman já era um ator teatral de sucesso, o que lhe rendeu um convite para um papel de destaque no cinema. Mas ele, que já havia feito uma pequena participação em um filme feito para a TV no ano anterior, preferiu recusar e seguir em frente com mais peças, ganhando papéis de destaque em obras respeitadas como Entertaining Mr. Sloane, de Joe Orton, e Saved, de Edward Bond. Em uma das apresentações desta última peça, o diretor artístico do famosíssimo Royal Court Theatre estava na platéia, e ficou tão impressionado com a atuação de Oldman que o convidou para protagonizar em seu teatro outra peça de Bond, The Pope's Wedding. Este papel lhe garantiria um lugar entre os maiores atores de teatro da Inglaterra, e lhe renderia um convite para trabalhar com a Royal Shakespeare Company.

Em 1984 e 1985, Oldman participou de três filmes feitos para a TV, todos no papel de jovens desajustados. Estas interpretações, bem como seu incrível desempenho no teatro, lhe renderam um convite para o papel de Sid Vicious, líder da banda The Sex Pistols, no filme Sid and Nancy, de 1986. Para melhor interpretar o papel, Oldman perdeu mais de dez quilos, e passou alguns dias com a mãe de Sid, tentando descobrir tudo o que podia sobre o comportamento de seu personagem. A interpretação de Oldman foi elogiada pelos principais críticos da Europa, pelo ex-vocalista dos Sex Pistols, John Lydon, e entrou para a lista das 100 melhores interpretações de todos os tempos da Premiere Magazine, na posição 62.

Em 1987, Oldman receberia mais um convite para representar um personagem real no cinema, desta vez um que ele não poderia recusar: o dramaturgo Joe Orton, em O Amor não tem Sexo. Com mais uma atuação arrebatadora, Oldman começava a se tornar também uma estrela do cinema, mas não abandonou o teatro, onde continuou atuando. Naquele mesmo ano, seu grande amigo Alfred Molina, com quem contracenou em O Amor não tem Sexo e na peça Serious Money, o apresentaria àquela que viria a ser sua primeira esposa, Lesley Manville. Oldman e Manville se casariam em 1988, e teriam um filho, batizado Alfred em homenagem a Molina, mas a carreira de Oldman acabaria sendo um fardo para o casal. Cada vez mais solicitado para filmes, e sem querer abandonar o teatro, ele quase não tinha tempo para a família, o que acabou os levando à separação em 1990.

Antes da separação, porém, Oldman começaria sua carreira internacional. Em 1988, graças a mais uma atuação memorável no filme Passatempo Mortal, onde contracenava com Christopher Lloyd e Theresa Russell, ele receberia um convite para interpretar um advogado de Boston encarregado de defender um garoto rico acusado de homicídio, interpretado por Kevin Bacon, em Inocente ou Culpado, que estrearia naquele mesmo ano. Oldman chamaria mais uma vez a atenção dos críticos, desta vez por conseguir interpretar imitando o sotaque da Nova Inglaterra, algo considerado difícil para atores ingleses, que na época não conseguiam bons papéis por causa de seu sotaque britânico. O caminho de Oldman para a fama na América seria de certa forma aberto pela revista The Face, que o incluiria no chamado brit pack, um grupo de jovens atores britânicos talentosos que começavam suas carreiras em Hollywood, e que incluía, dentre outros, Daniel Day-Lewis e Tim Roth. De todos, porém, Gary era o único que estava ocupado demais com peças e filmagens na época da publicação da matéria para conseguir um tempo para responder a uma entrevista.

Se dedicando cada vez mais ao cinema, Oldman decidiria intercalar produções caras de Hollywood e pequenas produções britânicas, para não se afastar de suas origens. Ele começaria 1990 com Sobrevivente da Prisão, onde interpeetava um veterano da Guerra da Coréia enviado para uma prisão para mentalmente insanos após provocar um tiroteio com policiais para ser morto e deixar o seguro para sua esposa; em seguida, na Inglaterra, ele faria Rosencrantz e Guilderstern estão Mortos, onde ele e Tim Roth interpretavam os personagens-título, dois coadjuvantes de Hamlet buscando descobrir seu lugar no enredo da peça; de volta aos Estados Unidos, ele contracenaria com Sean Penn em Um Tiro de Misericórdia, no papel de um traficante do submundo novaiorquino. O excesso de trabalho, como já foi dito, levaria Oldman a se separar de Manville, mas a fila não demorou a andar: durante as filmagens de Um Tiro de Misericórdia, ele conheceria Uma Thurman, 12 anos mais jovem. Oldman e Thurman se apaixonaram praticamente à primeira vista; ela arrumou uma pequena participação para ele no filme em que estava atuando, Henry e June, e, no final daquele mesmo ano, eles se casariam. Este segundo casório, porém, não teria vida mais longa que o primeiro, com Oldman e Thurman se separando após apenas dois anos de união.

Cada vez mais longe do teatro e de sua Inglaterra natal, Oldman começaria 1991 no papel de Lee Harvey Oswald, suposto assassino do presidente Kennedy, em JFK, de Oliver Stone. No ano seguinte, ele faria o papel que o levaria definitivamente ao estrelato, o do vampiro mais famoso do mundo em Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola. Interpretando Drácula como um guerreiro medieval, um ancião decrépito, um jovem sedutor, e em várias formas monstruosas, Oldman ganhou o respeito da comunidade cinematográfica, a fama de não querer se misturar a seus colegas de elenco, e ficou marcado como um ótimo ator para interpretar vilões.

Assim, no ano de 1993 ele roubaria a cena mais uma vez no papel de um traficante em Amor à Queima Roupa, um papel bem pequeno em um filme que contava com Christopher Walken, Dennis Hopper, Brad Pitt, Christian Slater e Patricia Arquette, mas cuja interpretação mais comentada foi a dele. Em seguida, ele faria um poicial corrupto e infiel, que se envolve mais com a máfia do que gostaria, em O Sangue de Romeu. Mais um policial corrupto e mais uma atuação memorável estariam reservados para ele no início de 1994 em O Profissional, do francês Luc Besson. Oldman parecia fadado a interpretar psicóticos e desajustados quando surgiu um convite para um papel bastante improvável: o de Ludwig van Beethoven em Minha Amada Imortal.

Mais uma vez, Oldman se entregou ao papel de forma jamais vista, e muitos consideram um verdadeiro absurdo que nem ele nem o filme tenham sequer sido indicados ao Oscar. Durante as filmagens, Oldman também começou um relacionamento com a atriz Isabella Rossellini, seis anos mais velha que ele, mas os dois nunca se casaram, vivendo juntos durante dois anos. Amigos do casal diziam que um dos motivos da separação foi que Gary bebia muito - de fato, ele já havia sido preso por dirigir alcoolizado em 1992. Após se separar de Rossellini, Oldman se conscientizou de que poderia ter o mesmo destino do pai, e passou a freqüentar reuniões do AA. Em uma delas, acabou conhecendo sua terceira esposa, a ex-modelo Donya Fiorentino, com quem teve dois filhos, Gulliver Flynn e Charles John. Este seria seu casamento mais duradouro, com a cerimônia ocorrendo em fevereiro de 1997 e o divórcio em 2001.

Mas voltando ao cinema, em 1995 Oldman contracenaria mais uma vez com Kevin Bacon e Christian Slater, interpetando um carcereiro em Assassinato em Primeiro Grau. Em seguida, ele faria seu primeiro blockbuster, A Letra Escarlate, onde seu talento foi para alguns subaproveitado em nome da promoção da protagonista Demi Moore. No ano seguinte, Gary decidiria estrear como roteirista e diretor com Nil by Mouth, um filme quase auto-biográfico ambientado nos subúrbios de Londres, onde Ray Winstone interpreta um marido alcóolatra que espanca a mulher, incapaz de deixá-lo porque ainda o ama. Oldman começara a escrever o roteiro antes de seu relacionamento com Rossellini, mas jamais tinha tido o tempo e o dinheiro para realizá-lo. O primeiro ele conseguiu recusando alguns papéis, o segundo veio de seu grande amigo Luc Besson, que lhe emprestou 4,5 milhões de dólares - ainda assim, Oldman teve que pagar 1,4 milhões do próprio bolso para pode concluir a pós-produção.

Em agradecimento a Besson, Oldman, embora ainda envolvido com a pós-produção de seu filme, aceitou interpretar mais um vilão deslocado e megalomaníaco, desta vez o traficante de armas Jean-Baptiste Emanuel Zorg do filme O Quinto Elemento, produção de Besson com Bruce Willis e Milla Jovovich, considerado o mais caro filme feito fora de Hollywood até então. Enquanto Nil by Mouth era finalizado, Oldman voava para os Estados Unidos para mais um papel, o de um terrorista russo que seqüestra o avião presidencial norte-americano em Força Aére Um, de Wolfgang Petersen, onde contracenou com Harrison Ford. No ano seguinte, motivado mais pelo dinheiro, do qual estava precisando, do que pelo papel, Oldman interpretaria o Dr. Smith na adaptação cinematográfica de Perdidos no Espaço. Desanimado com o rumo de sua carreira, por não ter gostado de seus últimos papéis, Oldman decidiu fazer uma pausa de um ano, só interrompida para interpretar Pôncio Pilatos em um filme sobre a vida de Jesus Cristo feito para a TV.

Oldman retornaria aos cinemas, agora mais seletivo, em 2000, interpretando um deputado de valores duvidosos em A Conspiração. Mas mais impressionante ainda seria seu papel em Hannibal, de 2001: um pedófilo convencido pelo Hannibal Lecter de Anthony Hopkins a cortar fora a pele de seu próprio rosto, o que o deixou sem pálpebras ou lábios, e agora planeja usar a personagem de Julianne Moore como isca para atrair o canibal e esquartejá-lo. O velho Gary estava de volta.

Fugindo dos blockbusters, Oldman acabaria atuando em quatro filmes que sairiam direto em DVD, sem jamais estrear em uma tela de cinema, as comédias Dois Picaretas e um Bebê (2001) e Viagem sem Destino (2002), o policial Pecados do Passado, e o drama Na Ponta dos Pés (ambos de 2003), sendo que neste último ele interpreta um anão. Infelizmente, estas produções pagavam pouco, e seu processo de divórcio com Fiorentino acabou se arrastando por quase um ano e consumindo muito dinheiro, pois ela pediu uma gorda pensão e o acusou de beber, usar drogas, contratar prostitutas e espancar a ela e as crianças; tudo felizmente desmentido no final. Cheio de dívidas, Oldman teve mais uma vez de aceitar se sujeitar aos blockbusters, mas prometeu a si mesmo só se envolver com uma produção na qual acreditasse, recusando dublar o General Grievous em Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith, bem como o papel de um presidiário, que acabaria com Burt Reynolds, no filme Golpe Baixo, de Adam Sandler.

O primeiro blockbuster a realmente agradar Oldman foi Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, de 2004, onde foi a ele oferecido interpretar o padrinho de Potter, Sirius Black, aparentemente mais um psicopata responsável por uma série de assassinatos, que escapa da cadeia para matar Harry, mas que na verdade é inocente, e foi preso injustamente. Mais confortável financeiramente, Oldman decidiu participar de mais uma pequena produção, Dead Fish, onde interpretava um assassino profissional. Pouco antes disso, ele iniciou um relacionamento com a atriz Alisa Marshall, que durou três anos.

Em 2005, Gary faria dois blockbusters, interpretando Sirius Black mais uma vez em Harry Potter e o Cálice de Fogo, e o Tenente James Gordon em Batman Begins. No ano seguinte seria a vez de mais um projeto mais pessoal, Bosque de Sombras. Em 2007 ele faria seu terceiro Harry Potter, Harry Potter e a Ordem da Fênix, e em 2008 voltaria ao Batman, desta vez com Gordon já promovido a Comissãrio em O Cavaleiro das Trevas. Atualmente, Oldman está envolvido em quatro projetos, todos programados para chegar aos cinemas em 2009: uma nova versão de Um Conto de Natal (aquele dos fantasmas do Natal Passado, Natal Presente e Natal Futuro), o suspense sobrenatural The Unborn, o policial Rain Fall, e a animação Planet 51, onde dublará um alienígena.

Mesmo já tendo ganhado importantes prêmios como o BAFTA e o Saturn, Oldman jamais sequer foi indicado ao Oscar. Tudo bem, todos sabemos que muitas vezes estas premiações têm mais a ver com a opinião pessoal dos jurados do que com a real qualidade do trabalho julgado. Com ou sem Oscar, é inegável que Oldman é um dos mais talentosos atores de sua geração - ou até, quem sabe, de todos os tempos.

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