quinta-feira, 20 de março de 2003

Escrito por em 20.3.03 com 0 comentários

Insegurança (I)

Antes de começar este texto, deixem-me fazer um pequeno comentário: Sim, eu assisto à Casa das Sete Mulheres, que que tem? Isto posto, prossigamos.

No capítulo desta terça-feira, Sinhá Mariana decidiu se entregar ao Peão João Gutierrez. No diálogo que antecedeu tão belo momento, ela achava que ele duvidava de seu amor, e decidiu dar-lhe uma prova do mesmo. Enquanto ela desabotoava o vestido, iniciou-se um diálogo aqui em casa, pois minha mãe disse que "antigamente isso acontecia muito, do rapaz pedir uma prova de amor", o que foi contestado com o argumento de que hoje isto continua acontecendo, e completado pela minha irmã, que disse que "hoje em dia o rapaz nem precisa pedir, que a moça já vai dando".

Como sempre acontece por aqui, um assunto que pareceria fechado em um contexto pré-determinado se expandirá inacreditavelmente: Me impressiona como existem pessoas preocupadas com a opinião alheia nesse mundo. A mocinha que dá uma prova de amor ao namorado que a pede é um exemplo, pois, não tendo segurança em seu próprio relacionamento - que poderia desmoronar sem tal prova - e preocupada com o efeito que tal desmoronamento causaria em sua imagem perante suas amigas, família e outros garotos, ela aceita uma imposição, muitas vezes contra sua vontade. Obviamente, o exemplo da mocinha ávida por dar uma prova de amor antes mesmo do namorado pedir - Sinhá Mariana? - não se encaixa aqui, então deixa esse pra lá.

É claro que ninguém precisa chegar ao ponto de um George Bush, que ignorou milhões de pessoas que não queriam a guerra, mas algumas pessoas hoje em dia simplesmente não conseguem ter individualidade. A cada passo, a cada gesto, estão preocupadas com "o que os outros vão pensar de mim". Eu mesmo fui vítima deste mal ao tentar escrever este post: este aqui é a segunda tentativa, a primeira ficou meio ofensiva, e eu imaginei "nossa, o que vão pensar quando lerem isto?", o que só veio a reforçar o que eu mesmo estava escrevendo.

Meu caso particular, pelo menos, é algo mais brando, pois retrata uma preocupação que eu acho deveria existir em todos os que escrevem ao público, a de não ofender ninguém. Triste é quando uma pessoa compra roupas que não pode pagar, começa a fumar, ou abre mão de sua virgindade apenas para ser inserido em um meio social.

De quem seria culpa? Da televisão? Da falta de cultura? Do governo? Não sei. O que sei é que tudo isso, todos esses comportamentos, refletem apenas uma coisa: insegurança.

As pessoas hoje em dia estão incrivelmente inseguras. Não somente o paspalho que começa a fumar para ser aceito por seus amigos está inseguro, mas os amigos que estão todos fumando buscando uma identidade em comum também estão. É um raciocínio perverso, mas faz sentido: se eles conseguirem convencer outras pessoas a fumar, os que não fumam serão os "diferentes", mas se eles não conseguirem, os "diferentes" serão eles, que fumam, e isso lhes causa pavor. Os grupos sociais fecharam-se de uma forma que todo mundo tem medo de ficar de fora, e faz praticamente qualquer coisa para entrar - mas as próprias pessoas que fecharam esses grupos só o fizeram por medo de serem absorvidos por outros grupos mais fechados que os deles.

Não estou aqui para dar uma lição de moral do tipo "temos que dar um basta", e tampouco tenho solução para isso. Porém, na minha sincera opinião, seria preciso que as pessoas tivessem mais coragem e auto-confiança. Retornando ao diálogo que tivemos durante a minissérie, quando Sinhá Mariana terminou de desabotoar o vestido, minha mãe disse "agora ele tinha que dizer: 'não precisa de prova, Sinhá, eu acredito no seu amor'".

Seria a coisa certa, mas, se fosse hoje em dia, ele ficaria taxado de boiola. Talvez por outros que nunca na vida tiveram a oportunidade que ele teve, de estar frente a frente com uma Sinhá Mariana seminua, e que nem sabem se aceitariam ou se recusariam; neste caso se igualando àquele que condenaram, se recusassem por convicção, ou até ficando pior que ele nos padrões de seu grupo fechado, se recusassem por insegurança, por falta de confiança.

Todos inseguros.

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