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sábado, 19 de outubro de 2024

Família Dinossauros

Essa semana eu estava conversando com alguns amigos que praticamente todo filme ou série hoje tem algum personagem feito por computação gráfica, mas, quando eu era criança, as produtoras tinham de ser mais criativas, usando bonecos, fantoches e animatronics. Durante essa conversa, nos lembramos dos primeiros filmes das Tartarugas Ninja e de Família Dinossauros. E aí, evidentemente, me deu vontade de escrever um post, razão pela qual hoje é dia de Família Dinossauros no átomo!

Família Dinossauros (que, no original, se chama simplesmente Dinosaurs) é uma sitcom, com episódios de meia hora, que acompanha o dia a dia de uma típica família norte-americana, composta pelo pai, pela mãe, por um filho adolescente, uma filha pré-adolescente e um bebê, com ocasionais visitas da sogra e algumas cenas no ambiente de trabalho do pai, onde ele convive com seu melhor amigo, seus colegas de trabalho e seu chefe. Até aí tudo bem. O diferencial, como o próprio nome da série indica, é que ela não é ambientada na época atual, e sim na pré-história - mais precisamente, no ano 60 milhões e 1 antes de Cristo - e todos os principais personagens da série são dinossauros - que, ainda assim, vestem roupas, moram em casas, usam eletrodomésticos e convivem como se fossem pessoas.

O chefe da família é Dino da Silva Sauro (Earl Sneed Sinclair no original; o sobrenome Sinclair seria escolhido para a família por ser o nome de uma empresa exploradora de petróleo dos Estados Unidos cujo símbolo é um dinossauro), um megalossauro gorducho na casa dos 40 anos, que teve pouca educação formal e trabalha como empurrador de árvores para a empresa Isso é Assim (no original, Wesayso, algo mais próximo de "nós mandamos"), que limpa terrenos para construção de empreendimentos variados. Dino é casado com Fran, uma dona de casa totalmente devotada à família, que não trabalha fora e passa seus dias cozinhando, limpando a casa, lavando roupas e vendo TV, somente saindo de casa para alguma coisa relacionada a trabalhos domésticos, como ir ao mercado - ou seja, um típico casal aos moldes das sitcoms da Era de Ouro da televisão norte-americana. Fran é mais madura, centrada e esperta que Dino, e responsável por ser a voz da razão do casal, já que ele frequentemente se mostra teimoso e sugestionável.

O filho mais velho de Dino e Fran é Bobby (Robert Mark Sinclair, apelido Robbie, no original), que tem por volta de 15 anos e é o típico adolescente contestador, frequentemente entrando em conflito de gerações com o pai e questionando todas as tradições e costumes da sociedade dinossáurica. A segunda filha do casal se chama Charlene, tem por volta de 13 anos e também é a típica adolescente da TV norte-americana, mais preocupada com moda, fofocas e com ser popular do que com seu desempenho acadêmico ou sua vida familiar. No primeiro episódio da série, Fran coloca mais um ovo, do qual sai Baby, o personagem mais popular e mais odiado da série - apesar de ser um bebê, ele é extremamente inteligente, sarcástico, implicante, egoísta e está sempre arrumando confusão. Baby tem vários bordões famosos, como "precisa me amar" e "de novo", que usa toda vez que acontece com ele alguma coisa que deveria ser desagradável mas da qual ele gosta muito, e só chama Dino de "não é a mamãe" ao invés de "papai" - normalmente enquanto bate nele com uma panela.

Outros personagens de destaque são a sogra de Dino e mãe de Fran, Zilda (Ethyl Hinkleman Phillips, no original), que tem idade extremamente avançada, usa uma cadeira de rodas e visita a família ocasionalmente, mimando as crianças e destratando Dino com insultos e golpes de bengala; o melhor amigo de Dino, Roy Hess, um tiranossauro que também trabalha derrubando árvores para a Isso é Assim, que não é muito brilhante, mas tem bom coração (e chama Dino de "garotão", algo que também se tornou uma espécie de bordão da época); o chefe de Dino e Roy, B.P. Richfield, um triceratops (por alguma razão carnívoro) enorme, cruel, temperamental, invejoso e ganancioso, que está sempre buscando novas formas de ganhar dinheiro e humilhar seus empregados; a melhor amiga de Fran, Monica DeVertebrae, uma brontossauro pela qual Roy é apaixonado; a melhor amiga de Charlene, Mindy; e o melhor amigo de Bobby, o anquilossauro Carlão (Spike, em inglês), que é altamente irresponsável e vive o levando para situações de risco; além dos demais colegas de trabalho de Dino e Roy, chamados Ralph, Gus e Sid.

Mindy, Ralph, Gus e Sid faziam parte de um grupo conhecido como "os unissauros", seis bonecos que podiam ser aproveitados em vários papéis, apenas mudando suas roupas e adicionando acessórios como óculos, perucas e algumas cores diferentes em suas peles - o boneco usado para Gus, por exemplo, também foi usado para um colega de escola que fazia bullying com Bobby, um professor de uma escola de dança e um técnico que consertava geladeiras, dentre outros. Isso evidentemente foi feito para cortar custos, já que alguns dos personagens "interpretados" pelos unissauros apareceriam apenas em um único episódio, e ficaria muito caro fazer bonecos diferentes para todos eles; ainda assim, conforme a popularidade da série aumentava, alguns personagens de um episódio só ganhariam bonecos próprios, para se tornarem mais marcantes, como a família Poupon, que recebe Charlene durante um programa de intercâmbio, composta pelo pai Henri, a mãe Simone e o filho François, todos os três da raça arqueoptérix.

Finalmente, existiam alguns personagens que apareciam por pouco tempo, mas em muitos episódios, e também tinham bonecos próprios, sendo o mais famoso o Sr. Lagarto, que apresentava um programa de televisão que Dino e Baby adoravam assistir, no qual ele e seu ajudante mirim, Timmy, faziam várias experiências científicas - que invariavelmente terminavam com a morte de Timmy, que nunca era mostrada, apenas sugerida, e após a qual o Sr. Lagarto olhava para a câmera e dizia "vamos precisar de um outro Timmy". Também faziam parte desse grupo Howard Handupme, apresentador do telejornal da ABC (Antediluvian Broadcasting Company, uma brincadeira com o fato de que o canal que exibia a série nos Estados Unidos era a ABC, cuja sigla significa American Broadcasting Company); o Sr. Pullman, professor da escola de Bobby e Charlene; o Monstro do Pântano, que devora dinossauros desavisados que cruzam seu território; e Blarney, uma paródia do Dinossauro Barney, astro de um famoso programa infantil. Alguns pequenos animais, principalmente usados como comida pelos dinossauros, também tinham bonecos próprios ou reaproveitados, e alguns episódios contavam com homens e mulheres das cavernas, interpretados por atores caracterizados.

Cada dinossauro precisava de mais de um operador - basicamente, os que são antropomórficos e andam por aí, como Dino, Fran, Bobby, Charlene e os unissauros, são creditados cada um a três pessoas: uma que vestia a roupa, uma que controlava remotamente os movimentos do rosto, e uma que dublava a voz. Baby era um fantoche, com um operador com as mãos dentro, para mexer os braços, um controlador para os movimentos de cabeça e da boca, e um operador somente para os movimentos dos olhos, que eram enormes e muito expressivos. Outros bonecos tinham outros esquemas, como o Sr. Richfield, que só aparece da cintura para cima, tinha uma pessoa dentro para mover os braços e as mãos, enquanto os movimentos de cabeça e rosto eram controlados por um operador; Roy tinha uma pessoa que vestia a roupa, mas, como era um tiranossauro, contava com dois operadores, um para os movimentos do rosto, outro para os movimentos dos bracinhos; e Monica tinha um operador para os movimentos do rosto, mas precisava de quatro pessoas para segurar e mover o pescoço e a cabeça. Zilda era o boneco mais automatizado de todos, totalmente controlada por operadores, com apenas um dos braços sendo movido como se fosse um fantoche, quando havia necessidade.

O dublador de Dino era Stuart Pankin, com Bill Barretta vestindo a roupa, e Dave Goelz (nas duas primeiras temporadas) e Mark Wilson (nas duas últimas) sendo os operadores. Fran era dublada por Jessica Walter, com Mitchell Young Evans (nas duas primeiras temporadas) e Tony Sabin Prince (nas duas últimas) vestindo a roupa e Allan Trautman sendo o operador. Bobby tinha voz de Jason Willinger, com Leif Tilden vestindo a roupa, Steve Whitmire operando os movimentos do rosto e da crista, e Julianne Buescher os dos olhos. Charlene era dublada por Sally Struthers, com Michelan Sisti vestindo a roupa e Bruce Lanoli operando. Baby tinha voz de Kevin Clash, que também era o operador da cabeça e boca, com John Kennedy operando os olhos e Terri Hardin sendo responsável pelos movimentos dos braços. Zilda, nas duas primeiras temporadas, era operada por Brian Henson, com Rickey Boyd assumindo o papel nas duas últimas, e a voz sendo de Florence Stanley. Roy era dublado por Sam McMurray, com Pons Maar vestindo a roupa, Buescher controlando os braços e David Greenway operando o rosto. O Sr. Richfield era dublado por Sherman Hemsley, com Tilden controlando os braços e Whitmire operando os movimentos do rosto. E Monica tinha voz de Suzie Plakson, com Buescher operando os movimentos do rosto. Outros dubladores que trabalhariam na série seriam Christopher Meloni e Jessica Lundy; assim como os unissauros, alguns operadores, intérpretes (quem vestia a roupa) e dubladores se revezariam em vários papéis, dependendo da necessidade dos episódios.

A ideia de Família Dinossauros partiria de Jim Henson, o criador dos Muppets e da Vila Sésamo. Em 1986, ele estaria trabalhando com William Stout, um famoso ilustrador de fantasia, em um projeto de um filme sobre dinossauros que usaria animatronics; com o título provisório de The Natural History Project, o filme traria dinossauros realísticos, criados pela equipe de Henson obedecendo ao que se sabia sobre dinossauros na época, incluindo, dentre outros, um parassaurolofo idoso e rabugento que seria mentor e professor de um jovem e inconsequente coritossauro, um par de paquicefalossauros pouco inteligentes, um trio de velociraptors vilões que serviria como alívio cômico, e um tiranossauro cruel que seria o grande vilão do filme. A Warner aprovaria o roteiro, escrito pelo próprio Henson, e o filme entraria em pré-produção, mas, quando o estúdio soubesse que a Universal estava produzindo a animação Em Busca do Vale Encantado, que tinha Steven Spielberg e George Lucas como produtores, Don Bluth na direção, e também era estrelado por dinossauros, interromperia a produção, não querendo que os dois filmes concorressem diretamente. O filme de Henson acabaria cancelado, para desgosto de Stout, que diria que o roteiro era o melhor que ele já tinha visto na vida.

Henson ficaria com os dinossauros na cabeça, entretanto, e, em 1988 (o ano de lançamento de Em Busca do Vale Encantado), apresentaria à sua equipe um novo projeto: uma sitcom, produzida nos moldes tradicionais, mas voltada para o público infanto-juvenil, e na qual os personagens seriam dinossauros, que viveriam em uma "sociedade tóxica", quase um espelho distópico dos Estados Unidos no final dos anos 1980. Alex Rockwell, vice-presidente da Jim Henson Company, o convenceria de que essa era uma ideia maluca, que ninguém levaria isso a sério, e que uma série usando animatronics seria caríssima. Henson acabaria não apresentando o projeto a nenhum canal de TV, mas, segundo Rockwell, trabalharia nele até o fim de sua vida.

No final de 1989, Henson começaria a negociar a venda da Jim Henson Company, da Jim Henson's Creature Shop, que produzia os bonecos, e de todos personagens criados por ele, exceto os da Vila Sésamo, que, por contrato, pertenciam à Children's Television Workshop, para a Disney, planejando passar a usar seu tempo livre apenas para criar, sem ter de se preocupar com a parte dos negócios. Junto com os Muppets e outras criações, todos os projetos da sitcom dos dinossauros iriam para a Disney, caindo nas mãos de Michael Jacobs, que adoraria a ideia. Infelizmente, Henson faleceria de pneumonia, aos 53 anos, em maio de 1990, e jamais veria sua ideia sair do papel.

Após a morte de Henson, Jacobs começaria a trabalhar com o famoso produtor de TV Bob Young no desenvolvimento da série, que apresentaria à Disney. Entre 1988 e 1990, algo havia acontecido na televisão norte-americana que havia mudado o panorama, tornando-o favorável ao lançamento de uma sitcom estrelada por uma família de dinossauros: Os Simpsons, que estreariam na Fox em dezembro de 1989, quebrariam recordes de audiência e mostrariam que uma sitcom voltada ao público infanto-juvenil carregada de situações inverossímeis não era uma ideia tão cretina assim. Além disso, no início dos anos 1990, novas tecnologias barateariam (mas não muito) a produção de animatronics, que passariam a ser usados em maior escala até mesmo no cinema - pelo menos até serem substituídos pela computação gráfica, uns dois ou três anos depois.

Jacobs chamaria o filho de Henson, Brian, para ser co-produtor da série, e co-escreveria o piloto com Young. Esse piloto seria oferecido ao canal CBS, que aprovaria a série para estreia já em setembro de 1990; Jacobs e Young escreveriam mais um episódio, e começariam a contratar os roteiristas para a produção de uma temporada de 13 episódios. Atrasos nas gravações e mudanças na grade da CBS, entretanto, fariam com que o canal voltasse atrás e desistisse de exibir a série, com a Disney, então, negociando com a ABC, que hoje é do grupo Disney, mas na época ainda não era (tendo sido comprada apenas em 1996). No início de 1991, a ABC aceitaria comprar a série, mas tinha um problema: só poderia começar a exibi-la em setembro, mais de um ano após a gravação do piloto. Isso não agradou a Jacobs, que já estava tendo um grande prejuízo com as filmagens - já que, na prática, a série era uma produção da Michael Jacobs Productions em parceria com a Jim Henson Television, essa segunda pertencente à Disney - e queria ter logo algum retorno antes de gravar mais episódios. A ABC, então, se ofereceria para exibir cinco episódios num buraco que teria na grade de programação em abril e maio, quando as temporadas tradicionalmente já estavam acabando.

Esses cinco episódios, só cinco, seriam a primeira temporada de Família Dinossauros - e curiosamente, nem seriam os cinco primeiros produzidos, e sim o primeiro, segundo, terceiro, quinto e sexto. Exibida entre 26 de abril e 24 de maio de 1991, a primeira temporada seria um gigantesco sucesso de público e crítica, e indicada a dois Emmys, ganhando o de Melhor Direção de Arte para uma Série e concorrendo também a Melhor Edição para uma Série de Única Câmera. Isso mais do que agradaria a Jacobs, que recuperaria a maior parte do dinheiro investido, à Disney, que emplacaria mais um sucesso, e à ABC, que já tinha uma segunda temporada garantida para estrear no mesmo ano, com o público já cheio de expectativa - o que hoje costuma se chamar de hype.

A segunda temporada seria composta pelos oito episódios gravados mas ainda não exibidos da primeira, mais 16 gravados ao longo de 1991, para um total de 24, exibidos pela ABC entre 18 de setembro de 1991 e 8 de maio de 1992 - curiosamente, fora da ordem de produção, começando pelo décimo, então o décimo-primeiro, e aí o nono, o sétimo, o oitavo, só aí o quarto, e os demais mantendo essa ordem confusa e embaralhada. O décimo-terceiro episódio gravado, previsto para ser o último da primeira temporada, seria o décimo-sexto exibido na segunda temporada, vigésimo-primeiro no total, e seria um clip show, aqueles episódios compostos por cenas de vários dos episódios anteriores, ligados por cenas novas gravadas especialmente para ele, no caso, as de um paleontólogo, Sir David Tushingham, interpretado por Paxton Whitehead, tentando explicar, em tom de documentário, como era a vida dos dinossauros. A segunda temporada também teria um episódio especial em duas partes, que seria uma paródia da Guerra do Golfo, no qual dinossauros bípedes e quadrúpedes entram em guerra pelo controle de reservas de pistache, e duas participações especiais de atores famosos da época: Hannah Cutrona como uma garota das cavernas adotada por Bobby como um animal de estimação, e Buddy Hackett como a voz de Louie, marido de Zilda e pai de Fran, que aparece para Zilda em um sonho.

O grande sucesso das duas primeiras temporadas garantiria a renovação para a terceira, que teria 22 episódios, exibidos entre 18 de setembro de 1992 e 2 de julho de 1993, começando por um dirigido por Brian Henson - e mais uma vez com a ABC exibindo tudo fora da ordem de produção, seguindo algum critério que só ela parecia saber qual era. A terceira temporada teria a participação especial do famoso ator Tim Curry como a voz de Henri Poupon, e terminaria com mais um clip show, esse imitando um infomercial, aqueles comerciais super longos que buscavam vender alguma coisa pelo telefone, que foram moda nos anos 1990; com testemunhos de clientes satisfeitos e fun facts sobre dinossauros - representados pelas cenas dos episódios já exibidos - Sir David Tushingham tentava vender um curso de paleontologia para que os espectadores pudessem entrar para esse glamouroso mundo estudando em casa.

Família Dinossauros ainda seria renovada para uma quarta temporada, que também começaria com um episódio dirigido por Brian Henson, mas, sofrendo de graves problemas financeiros, que culminariam em sua venda para a Disney, a ABC primeiro adiaria a data de estreia, depois exibiria apenas sete episódios, entre 1 de junho e 20 de julho de 1994. Ainda havia, entretanto, sete outros episódios gravados, que permaneceriam inéditos até a série entrar em syndication - ou seja, ser vendida para vários canais dos Estados Unidos, ao invés de passar apenas nas afiliadas da ABC. Esses episódios seriam exibidos pela primeira vez entre 6 de setembro e 10 de novembro de 1995, e, como a ABC mais uma vez exibiu os sete episódios que levou ao ar fora da ordem de produção, são ambientados antes do efetivo último episódio, que dá o encerramento à série. Todos esses 14 episódios são considerados parte da quarta temporada, que conta com participações especiais de Tim Curry, Michael McKean, Glenn Shadix, John Glover, Joe Flaherty e Ed Asner em vários papéis; caso a série não tivesse sido cancelada, Jacobs planejava usar sua popularidade para convidar cada vez mais astros da TV e cinema para essas participações, aumentando ainda mais seu valor.

Apesar de ser oficialmente um programa infantil apropriado para toda a família, Família Dinossauros tocava em temas espinhentos, sempre usando alegorias - em um dos episódios, por exemplo, Bobby não quis mais ser carnívoro e foi levado por um amigo a um "bar de herbívoros", em uma clara alusão a um adolescente descobrindo sua homossexualidade, e, em outro, Charlene estava revoltada porque as caudas de todas as suas amigas já haviam crescido e a dela não, uma referência às mudanças que ocorrem no corpo das meninas durante a puberdade. Alguns dos temas abordados em um ou mais episódios incluem ecologia, ambientalismo, preservação de espécies ameaçadas de extinção, feminismo e direitos das mulheres, direitos da comunidade LGBT+, abuso sexual, objetificação da mulher, censura, direitos civis, autoimagem, uso de anabolizantes, uso de drogas, masturbação, racismo, efeito manada, direitos das comunidades nativas e até mesmo os males do capitalismo. Segundo os produtores, eles só conseguiram fazer tudo isso graças à grande popularidade de Baby, que mantinha a audiência alta e o dinheiro entrando, não importando quais fossem os temas dos episódios - segundo Jacobs, "enquanto Baby estivesse batendo na cabeça de Dino com uma panela, nós poderíamos usar qualquer assunto".

A série também se tornaria famosa por ser uma das primeiras a fazer uma sátira da própria televisão: todos os programas de TV assistidos pela família ou mostrados ao longo dos episódios são exageradamente violentos, sensacionalistas, estimulam o consumo desenfreado e fazem troça de quem assiste muita televisão, mostrado como facilmente manipulável ou incapaz de pensar por conta própria. A série também seria uma das primeiras a "quebrar a quarta parede", com Baby frequentemente olhando para a câmera e usando frases que poderiam ser dirigidas a quem estava assistindo, embora também pudessem ser interpretadas como ele simplesmente falando em voz alta. Um dos episódios mais memoráveis foi o especial de Natal da segunda temporada, no qual os dinossauros comemoravam o Dia da Geladeira, em homenagem à invenção que permitiu que eles deixassem de ser nômades e se estabelecessem em cidades.

Por outro lado, um dos episódios mais controversos seria justamente o último ao ir ao ar na ABC: ao perceber que a série seria cancelada, os produtores criaram um último episódio no qual as ações dos próprios dinossauros estragaram o planeta de forma irreversível, trazendo uma Era Glacial que levaria à sua própria extinção - em uma clara crítica ao que os humanos estavam fazendo, já que o início dos anos 1990 foi justamente a época na qual a ecologia e a preservação do meio ambiente começaram a ganhar mais destaque, e as previsões mais tenebrosas de que o planeta não iria resistir caso o modo de vida da humanidade não fosse alterado começaram a ser feitas. Ao contrário de todo o restante da série, cheio de comédia e momentos felizes em família, o último episódio termina de forma triste e sombria - e bizarramente atual, já que estamos vivendo a época das mudanças climáticas e dos apelos para que a exploração desenfreada do planeta seja interrompida antes que nós mesmos estejamos em risco.

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