E hoje finalmente terminarei de falar sobre todos os esportes do programa das Olimpíadas! Bom, pelo menos até estrearem o surfe e o skate. Mas, por enquanto, o único que faltava era o boxe.
O boxe é um dos esportes mais antigos que existem; foram encontrados registros, na forma de pinturas, de que dois oponentes trocarem socos para determinar qual era o superior era um esporte comum na Suméria, Mesopotâmia, Assíria e Babilônia, com as pinturas mais antigas datando de 3.000 anos a.C. Nessas pinturas, era comum os lutadores estarem com as mãos nuas, com os primeiros registros do uso de luvas datando do século XVI a.C., e pertencendo à civilização Minoica, da Ilha de Creta, Grécia. Na Grécia Antiga, aliás, o boxe era um esporte muito popular, fazendo parte, inclusive, das Olimpíadas da Antiguidade; nessa versão grega do boxe, porém, apenas a cabeça do oponente podia ser atingida pelos socos, e a luta durava até que um dos lutadores não pudesse mais continuar e se rendesse. Ao invés de luvas, os gregos usavam faixas de couro que envolviam não só as mãos, mas também os punhos, algumas chegando aos cotovelos, e que tinham como função não proteger as mãos do lutador, e sim causar ainda mais dano ao oponente.
Da Grécia, o boxe chegaria a Roma, onde logo também se tornaria bastante popular; mas, como o gosto dos romanos era mais sangrento, logo as faixas de couro seriam modificadas com fivelas e até mesmo setas, para causar ainda mais dano, e não era incomum que as lutas fossem até a morte. Com a ascensão dos gladiadores, que, ao invés de simplesmente trocarem socos, também usavam armas como espadas e lanças, o boxe cairia em declínio, até desaparecer totalmente durante o século IV d.C.
A partir do século XII, aconteceria o movimento contrário: devido justamente à sua letalidade, os esportes nos quais os lutadores usavam armas começariam a decair em popularidade, e aqueles nos quais os lutadores brigavam com as mãos nuas voltariam a se popularizar, especialmente na Itália e na Rússia. O maior surto de popularidade do boxe, entretanto, ocorreria na Inglaterra, no século XVI, com uma luta chamada prizefighting (algo como "luta por prêmios"). O primeiro registro do nome boxing para esse esporte ocorreria no jornal London Protestant Mercury em 6 de janeiro de 1681; imagina-se que as lutas teriam ganhado esse apelido porque os lutadores ficavam "enjaulados" (box, em inglês, significa "caixa") durante a luta - da mesma forma, o local onde ocorre a luta se chama ringue porque, originalmente, os lutadores deveriam permanecer dentro dos limites de um círculo traçado no chão (sendo ring a palavra em inglês para "anel"). O primeiro campeão de boxe da história seria James Figg, que conquistaria o título nacional da Inglaterra em 1719. Essa primeira versão do boxe, porém, era pouco mais que um Clube da Luta: não havia árbitro, a luta só se encerrava quando um dos lutadores comprovadamente não tinha condições de continuar lutando (sendo considerado "falta de masculinidade" desistir antes disso) e, além de socos em qualquer parte do corpo, também eram permitidas cabeçadas, cotoveladas e até mesmo arremessos - basicamente, só não valia atingir o oponente com as pernas.
A primeira iniciativa de se regular o boxe e fazê-lo mais seguro para os lutadores partiria do campeão Jack Broughton, que, em 1743, redigiria um conjunto de regras conhecidas como "regras de Broughton", segundo as quais eram permitidos apenas socos, apenas acima da linha da cintura, exceto no pescoço e nuca, e exigia uma terceira parte que tivesse conhecimento das regras presente para conferir se a luta estava ocorrendo de acordo com elas (essencialmente, um árbitro). Segundo as regras de Broughton, sempre que um lutador tocasse o chão com qualquer parte do corpo que não fosse a sola dos pés, o "árbitro" deveria começar uma contagem de 30 segundos; caso ele não conseguisse se colocar de pé antes de a contagem terminar, a luta estaria encerrada, com vitória de seu oponente - ainda não havia limite de tempo, mas, pelo menos, a luta não era mais quase até a morte. Essas regras permitiam uma espécie de "trapaça", já que o lutador poderia deliberadamente se ajoelhar para descansar durante alguns segundos, se levantando e continuando a lutar antes que a contagem se encerrasse (já que, pelas regras, ele não podia ser atingido se não estivesse de pé); isso não era bem visto pela maioria dos lutadores, porém, e, para evitar o "descanso", a maioria das lutas usava uma regra não-oficial segundo a qual, caso um lutador se ajoelhasse três vezes, a luta se encerraria sem a contagem na terceira vez.
As regras de Broughton foram oficiais na maioria das lutas inglesas até 1838, quando foram substituídas pelas London Prize Ring Rules, que buscavam unificar as regras em todo o Reino Unido - e, na verdade, mudavam muito pouca coisa em relação às de Broughton. As London Prize Ring Rules sofreriam uma revisão em 1853, e, 1867, seriam substituídas pelas Regras do Marquês de Queensberry, usadas até hoje. Criadas por John Chambers, baseadas nas regras usadas na época, e financiadas por John Douglas, na época o Marquês de Queensberry (por isso o nome), elas seriam um conjunto de 12 regras, que estipulavam, dentre outros detalhes, o tamanho do ringue, a duração da luta, e o tipo de luvas que os lutadores deveriam usar. As Regras do Marquês de Queensberry sofreriam pouquíssimas modificações ao longo dos anos, com as lutas hoje sendo disputadas quase da mesma forma como o eram em 1867.
No final do século XIX, o boxe começaria a se espelhar pela Europa, e chegaria até as Américas, onde se tornaria bastante popular nas colônias inglesas do Caribe. Nos Estados Unidos, entretanto, o boxe foi considerado um esporte violento demais, sendo banido em diversos estados; a maior parte das lutas nos Estados Unidos no final do século XIX e início do século XX ocorria de forma ilegal, e muitas delas envolviam grandes apostas em dinheiro. Como a popularidade do esporte não parava de crescer, um grupo de pessoas, conhecidos como promoters, começaria a lutar pelo fim da ilegalidade, realizando grandes eventos nos estados onde o boxe não era proibido, que sempre culminavam em uma luta entre dois lutadores de grande prestígio, para tentar convencer a sociedade de que o esporte não era violento e não deveria ser proibido. Graças aos esforços desses promoters, especialmente de Tex Rickard e de John L. Sullivan, que também era lutador, a proibição seria revogada em todo o país, e, na década de 1930, o boxe já seria o esporte mais popular dos Estados Unidos, superando até mesmo o beisebol. Essa popularidade se manteria pelo menos até o fim da Segunda Guerra Mundial, decaindo um pouco depois disso; ainda assim, contudo, o boxe estaria dentre os cinco esportes mais populares do país pelo menos até a década de 1980.
No início do século XX, ocorreria uma espécie de divisão, que daria origem a dois tipos diferentes de boxe, o profissional e o amador. O boxe profissional tem sua origem nas lutas realizadas pelos promoters, que envolviam apostas e rendiam gordos prêmios em dinheiro aos participantes, especialmente ao vencedor; já o amador surgiria quando o COI decidisse incluir o boxe no programa das Olimpíadas. Como se sabe, originalmente não era permitida a participação de atletas profissionais nos Jogos Olímpicos, de forma que os lutadores que participavam das lutas com prêmios em dinheiro não poderiam defender seus países em uma Olimpíada; como os boxeadores verdadeiramente amadores não tinham o mesmo vigor e resistência dos profissionais, o COI aproveitaria para fazer algumas modificações nas regras, privilegiando a técnica no lugar da força, o que levaria a menos nocautes e maior busca de pontos pelos lutadores. Hoje, o boxe amador e o profissional são praticamente idênticos, com diferenças apenas em relação à duração da luta, ao uniforme dos lutadores e à forma como os pontos são considerados pelos juízes - a maioria dos lutadores amadores até mesmo recebe ajuda financeira para praticar o esporte, o que faz com que eles não sejam tão amadores assim.
Essa divisão entre profissional e amador também seria responsável por uma característica curiosa do boxe: ele possui não uma, mas cinco federações internacionais, sendo que apenas uma delas regula o boxe amador, e é justamente essa a única reconhecida pelo COI. Diferentemente do que ocorre com outros esportes, as regras adotadas pelas quatro federações que regulam o boxe profissional são as mesmas, com a única diferença sendo os lutadores filiados a cada uma delas; não é incomum, porém, um mesmo lutador ser filiado a todas elas, e, quando ele se torna campeão de mais de uma durante o mesmo período, se diz que ele "unificou os cinturões".
A primeira federação internacional do boxe seria a Associação Mundial de Boxe (WBA, algumas vezes chamada em português de AMB), fundada em 1921, nos Estados Unidos, com o nome de Associação Nacional de Boxe (NBA, ora vejam só), pela união das federações estaduais de 13 estados norte-americanos, para tentar acabar com a influência que Comissão Atlética do Estado de Nova Iorque (NYSAC) exercia sobre o esporte em todo o território nacional; em 1962, reconhecendo a importância do boxe no restante do planeta, a NBA aceitaria vários países latino-americanos dentre seus membros, e mudaria de nome para WBA. Hoje, a WBA conta com 143 membros dos cinco continentes.
Em 1963, um ano depois da internacionalização da WBA, surgiria o Conselho Mundial de Boxe (WBC, ou CMB em português). O WBC seria criado pela união de 11 federações nacionais por iniciativa da Federação do México, que não se filiou à WBA no ano anterior; hoje, o WBC conta com 161 membros dos cinco continentes. Desde 2011, existem negociações para uma unificação da WBA e do WBC, o que faria com que ambos se tornassem uma só federação, mas as negociações esbarram em problemas burocráticos, e parecem ainda não estar perto de um desfecho.
Em 1983, o presidente da federação nacional dos Estados Unidos (USBA), insatisfeito com decisões recentes da WBA, decidiria fundar sua própria federação nacional, inicialmente chamada USBA-I (de "international"), mas no mesmo ano renomeada para Federação Internacional de Boxe (IBF, ou FIB em português), que hoje conta com 118 membros dos cinco continentes. Em 1988 aconteceria algo parecido, quando dirigentes de Porto Rico e República Dominicana, insatisfeitos com a WBA, sairiam e fundariam a Organização Mundial de Boxe (WBO, ou OMB em português), e que hoje conta com 121 membros dos cinco continentes. Todas as quatro federações que regulam o boxe profissional se reconhecem mutuamente, com WBA e WBO, inclusive, dando prêmios especiais aos lutadores que unifiquem os cinturões de todas as quatro. O Brasil é membro de todas as quatro, sendo, inclusive, membro fundador do WBC.
A única federação internacional que regula o boxe amador é a Associação Internacional de Boxe (AIBA, da sigla em francês), fundada em 1920 pela união das federações nacionais de Inglaterra, França, Bélgica, Holanda e Brasil, e que hoje conta com 201 membros dos cinco continentes. A AIBA é a única federação internacional do boxe reconhecida pelo COI (o que significa que apenas lutadores filiados à AIBA podem competir nas Olimpíadas), e a única que organiza torneios amadores e semi-profissionais; desde 2011, a AIBA também organiza torneios profissionais, mas seus campeões não são reconhecidos por WBA, WBC, WBO e IBF.
Seja amador ou profissional, o boxe é disputado em um espaço chamado ringue, um quadrado que deve ter entre 4,9 e 6,1 m de lado. Em cada um dos quatro cantos há um poste de 1,5 m de altura, e pelos quatro postes passam quatro cordas, às alturas de 46 cm, 76 cm, 1,07 m e 1,37 m, que devem ter entre 3 e 5 cm de diâmetro cada. Entre as cordas e o limite do ringue, deve haver um espaço de 61 cm. O ringue é elevado, devendo ficar entre 0,91 e 1,22 m do chão, e é feito de madeira revestida com material acolchoado e coberto com uma lona. Os cantos superior direito e inferior esquerdo são, cada um, relacionado a um dos lutadores; no início da luta e a cada intervalo, os lutadores devem se dirigir cada um a seu canto, onde poderão descansar, se hidratar, receber instruções de seu treinador, e até mesmo receber pequenos atendimentos médicos caso necessário. Os outros dois cantos são considerados neutros.
O objetivo do boxe é atingir o oponente com socos, que devem ser obrigatoriamente desferidos com a parte da frente das mãos fechadas, e só podem atingir a parte frontal do oponente, acima da linha da cintura e exceto no pescoço, sendo válidos, portanto, socos no rosto, peito, barriga e braços do oponente, mas não nas costas, nuca ou qualquer parte abaixo da cintura. Para demarcar a cintura, e não haver dúvidas quanto a se um golpe foi válido ou não, os lutadores usam um calção cujo elástico é bem largo e de cor diferente do restante do uniforme.
No boxe amador, o uniforme consiste de calção, camiseta, sapatilhas especiais, meias, protetor de gengiva e as famosas luvas de boxe; no feminino, as mulheres devem usar um top por baixo da camiseta, e é obrigatório um capacete acolchoado de proteção, que deixa apenas o rosto, o topo da cabeça e as orelhas à mostra. Um dos lutadores sempre usa uniforme azul (incluindo as luvas), enquanto o outro sempre usa uniforme vermelho; em ambos os casos, detalhes do uniforme, como a faixa da cintura, devem sempre ser de cor branca - alguns torneios exigem que as luvas tenham um quadrado branco na área correspondente à frente da mão, para facilitar aos juízes determinar se o soco foi válido. No boxe profissional, os homens lutam apenas de calção, luvas, protetor de gengiva, sapatilhas e meias, sem camisa, com as mulheres podendo usar camiseta ou top; no boxe profissional feminino o capacete não é obrigatório, e, para ambos os gêneros, a escolha da cor do uniforme é livre, com a maioria dos lutadores usando calções estampados como motivos como a bandeira de seu país ou animais mitológicos.
As luvas, talvez o elemento mais característico do boxe, são usadas por três motivos: proteger as mãos do lutador, diminuir o número de cortes no rosto do oponente, e aumentar a potência dos socos, já que a área que entra em contato com o oponente é maior que a área da mão do lutador - muitos alegam, porém, que o uso de luvas aumenta a probabilidade de concussões, já existindo um grupo que defende que o boxe deveria ser disputado sem luvas. As luvas são feitas de material emborrachado sintético combinado a espuma, látex e PVC, que atuam como acolchoamento e amortecedores de impacto; algumas usam, ainda, crina de cavalo, embora esse material seja raro em lutas profissionais. Existem luvas que pesam 226 g (conhecidas como luvas de 8 onças), 284 g (10 onças) e 340 g (12 onças) cada, com o peso da luva sendo determinado pela categoria de peso do lutador. Elas se ajustam no punho dos lutadores através de um cordão no qual deve ser dado um laço, ou com um velcro; em ambos os casos, é necessária a ajuda de um assistente para que o lutador consiga colocar a luva adequadamente. As luvas devem ser calçadas na presença de um delegado da partida, que atesta que elas estão dentro dos parâmetros exigidos pela organização, e que não contam com elementos que possam colocar a saúde do oponente em risco ou se traduzir em vantagem para o lutador (como a famosa ferradura dentro da luva que costuma aparecer em alguns desenhos animados); no boxe profissional, o delegado "lacra" as luvas envolvendo sua empunhadura e o pulso do lutador com uma fita adesiva que depois é assinada por ele, sendo essa fita checada após o final da luta para comprovar se o lacre está intacto. Por baixo das luvas, os lutadores enfaixam as mãos com ataduras para protegê-las; uma faixa de ataduras usada no boxe tem entre 3 e 4,3 m de comprimento e é feita de algodão, sendo usada uma faixa inteira em cada mão.
Uma luta de boxe amador dura três rounds (ou "assaltos") de três minutos cada no masculino, ou quatro rounds de dois minutos cada no feminino, em ambos os casos com intervalo de um minuto entre um round e outro. No boxe profissional, os rounds também duram três minutos e há intervalo de um minuto entre um round e outro, mas a luta pode durar de dois a doze rounds, com o número exato sendo escolhido pelo realizador da luta - e as lutas principais, como a disputa pelo título, durando o máximo de doze rounds. Até 1982, o máximo eram quinze rounds, mas, após o boxeador sul-coreano morrer em decorrência de um hematoma subdural cerebral obtido em uma luta contra o norte-americano Ray Mancini, na qual foi nocauteado no 14o round, o WBC decidiu limitar o número de rounds em suas lutas a doze, sendo seguido por WBA e WBO em 1988 e pela IBF em 1989.
A luta de boxe é oficiada por um árbitro, que acompanha os lutadores de dentro do ringue, com a função de zelar pelo bom andamento da luta, advertindo os lutadores caso eles não estejam seguindo as regras, e interferindo caso necessário. Ao redor do ringue, ficam posicionados de três a cinco juízes, dependendo do torneio, que têm a função de registrar os pontos conseguidos por cada lutador. No boxe amador, todo soco que atinge o oponente em uma área válida com a potência adequada vale um ponto, mas no boxe profissional a pontuação obedece a critérios mais subjetivos, como o impacto do soco, se o momento no qual o oponente foi atingido ele estava com a guarda baixa ou não, dentre outros; por esse motivo, não é incomum lutas profissionais terminarem com acusações de favorecimento dos juízes para um ou outro lutador.
Independentemente dos critérios usados, o resultado é o mesmo: o lutador que terminar a luta com mais pontos será o vencedor. Diferentemente do que ocorre em outras lutas, entretanto, a pontuação dada a cada lutador por cada juiz não é somada; ao invés disso, cada juiz soma seus pontos e determina qual dos dois lutadores venceu a luta em sua opinião, sendo declarado o vencedor aquele que for assim considerado por pelo menos dois dos três juízes. No boxe amador, é comum, a cada round, ser divulgado qual lutador venceu aquele round na opinião de cada juiz. É raríssimo, mas uma luta de boxe pode determinar empatada, já que um ou mais juízes podem considerar que não houve vencedor claro e dar a mesma pontuação para os dois. No boxe amador, caso isso ocorra, é disputado mais um round após um intervalo de dois minutos (o que não ocorre desde 1946); no profissional, a luta termina empatada mesmo, e, caso seja a disputa pelo título, o atual campeão o mantém.
Além de por pontos, um lutador pode ganhar a luta por nocaute, situação que ocorre quando o oponente cai e não tem condições de continuar. Toda vez que um lutador toca o chão com qualquer parte do corpo que não seja os pés em decorrência de um golpe do adversário (ou seja, não vale se ele escorregar e cair sozinho), o árbitro deve iniciar uma contagem de dez segundos; se essa contagem se encerrar sem que o lutador tenha condições de ficar de pé e continuar lutando, o árbitro declara o nocaute, dando a vitória automaticamente para o oponente. Toda vez que um lutador cai em decorrência de um golpe do oponente, o oponente deve parar de lutar imediatamente, se dirigir ao canto neutro mais próximo, e aguardar lá até a decisão do árbitro de encerrar ou reiniciar a luta, não podendo receber instruções, hidratação ou atendimento enquanto isso.
Um lutador também pode ganhar a luta por "nocaute técnico", o que pode ocorrer em três situações. A mais comum é caso o oponente seja derrubado com abertura de contagem três vezes (sendo que não é necessário abrir a contagem na terceira vez). O árbitro também pode determinar o nocaute técnico sem a contagem, em qualquer vez em que o lutador caia, se achar que a saúde do lutador derrubado corre risco caso ele continue lutando. Finalmente, Da mesma forma, a qualquer momento, a equipe de um lutador pode concluir que ele não tem condições de continuar lutando e "jogar a toalha" (literalmente arremessando uma toalha branca dentro do ringue), gesto que dá automaticamente a vitória por nocaute técnico para seu oponente. Alguns torneios também possuem a regra da "contagem em pé": caso o árbitro note que a saúde de um dos lutadores está debilitada, ele pode interromper a luta e contar até oito; caso, no fim da contagem, ele conclua que o lutador não tem condições de prosseguir, a luta é imediatamente encerrada com nocaute técnico para o oponente. Independentemente do motivo pelo qual foi conferido, um nocaute técnico conta como nocaute para a carreira do lutador.
O árbitro também pode interromper a luta caso ache que os lutadores não estão se comportando propriamente; o caso mais comum para isso acontecer é o clinch, movimento com o qual um dos lutadores "abraça" o outro para descansar e ganhar tempo. O árbitro pode ele mesmo separar o clinch (interrompendo a luta), ou dar um comando para que os lutadores se soltem (sem interromper a luta), advertindo o lutador que começou o clinch caso ele não o faça imediatamente. Lutadores também podem ser advertidos por empurrar o oponente, fazê-lo tropeçar, se agachar abaixo da linha da cintura do opoente, ou por atingir o oponente em áreas inválidas; um lutador que seja atingido nas partes íntimas tem direito a até cinco minutos de luta interrompida, sem contagem de tempo e com o oponente permanecendo em um canto neutro, para se recuperar. Um lutador que seja seguidamente advertido pode ser desclassificado a critério do árbitro, com a vitória indo automaticamente para o oponente.
Lutadores de boxe são classificados em categorias de peso, para que as lutas fiquem mais justas. No boxe profissional, a pesagem é feita no dia anterior ao da luta; caso um lutador esteja acima do peso máximo permitido para sua categoria, ele ganha uma nova chance em uma pesagem na manhã do dia da luta; caso novamente ele esteja acima do peso, a luta é remarcada - por outro lado, a luta ocorre normalmente caso um lutador esteja abaixo do peso mínimo de sua categoria, azar o dele. A pesagem, no boxe profissional, costuma ser um grande evento, com a presença de celebridades, os lutadores se provocando, posando para fotos e dando entrevistas. As categorias de peso no boxe profissional têm apelidos como "peso pena", "peso leve" e "peso pesado", e são as mesmas para o masculino e para o feminino: até 46,27 kg, até 47,63 kg, até 48,99 kg, até 50,8 kg, até 52,16 kg, até 53,52 kg, até 55,34 kg, até 57,15 kg, até 58,97 kg, até 61,23 kg, até 63,5 kg, até 66,68 kg, até 69,85 kg, até 72,57 kg, até 76,2 kg, até 79,38 kg, até 90,72 kg e acima de 90,72 kg - os pesos em kg são "quebrados" porque, originalmente, eram em libras (com a categoria de menor peso sendo até 100 lb e a de maior sendo acima de 200 lb). WBA, WBC, WBO e IBF usam todas as mesmas categorias de peso.
Já no boxe amador é feita uma pesagem geral no primeiro dia do torneio, e uma pesagem de todos os lutadores que vão lutar naquele dia a cada dia de competição; um lutador que esteja acima do peso máximo ou abaixo do peso mínimo permitidos para a sua categoria é desclassificado, embora, se isso ocorrer (exceto nas Olimpíadas) em uma das pesagens que acontecer de ele lutar sua primeira luta (na geral ou na do primeiro dia em que ele vai competir), ele possa entrar com recurso para ser "encaixado" na categoria imediatamente superior ou inferior. A pesagem no boxe amador é realizada em particular, sem a presença da imprensa ou de plateia. As categorias de peso da AIBA para o masculino são até 49 kg, até 52 kg, até 56 kg, até 60 kg, até 64 kg, até 69 kg, até 75 kg, até 81 kg, até 91 kg e acima de 91 kg; para o feminino são até 48 kg, até 51 kg, até 54 kg, até 57 kg, até 60 kg, até 64 kg, até 69 kg, até 75 kg, até 81 kg e acima de 81 kg.
Torneios de boxe amador são disputados no sistema de mata-mata, com os lutadores sendo emparelhados dois a dois, os vencedores avançando e os perdedores sendo eliminados; dependendo do número de lutadores em um torneio, os mais bem ranqueados podem começar direto na segunda ou na terceira rodada. Caso o torneio confira medalhas (como as Olimpíadas), não há disputa pelo bronze, com ambos os eliminados nas semifinais ganhando uma Medalha de Bronze cada - o que é feito para não submeter os lutadores em questão ao desgaste de uma luta extra.
O boxe profissional, a rigor, não possui torneios - embora existam alguns poucos, a maioria regionais ou destinados a lutadores iniciantes. Para determinar o campeão mundial de cada categoria, o boxe profissional usa um sistema de desafios: os lutadores vão desafiando uns aos outros, com o oponente podendo aceitar o desafio ou não, e fazendo uma "carreira", até que, quando ele tem vitórias e fama suficientes, pode desafiar o campeão em uma luta pelo título. Na prática, as lutas são organizadas pelos empresários dos dois lutadores em questão, que se reúnem, acertam a luta e comunicam a federação, que por sua vez consegue patrocinadores, um local e então anuncia o evento - por esse motivo, é raro um lutador iniciante conseguir desafiar o campeão. Lutas de grande importância, como as lutas pelo título ou o retorno de um lutador de renome que passou algum tempo afastado dos ringues, costumam ser grandes eventos, rendendo milhões de dólares a todos os envolvidos. Em teoria, um lutador só pode enfrentar outro que seja filiado à mesma federação que ele, mas a maioria acaba se filiando a todas as quatro, o que torna possível a já citada "unificação do cinturão", quando um mesmo lutador se torna o atual campeão mundial de sua categoria pela WBA, WBC, WBO e IBF.
O cinturão, falando nisso, é o equivalente ao troféu no boxe profissional, um cinto de couro enorme (o do WBC é tão grande que traz as bandeiras de todos os seus 161 membros) decorado com prata banhada a ouro, que fica de posse do campeão até ele perder seu título para outro lutador; cinturões são "renovados" de tempos em tempos, com os antigos sendo expostos na sede da federação, vendidos a colecionadores ou ofertados a grandes campeões; também é comum que um campeão receba da federação uma réplica do cinturão após perdê-lo para outro lutador. Eu ainda não falei aqui, mas é óbvio: caso o atual campeão vença a luta pelo título, ele mantém o título e o cinturão até ser desafiado novamente.
Não é comum, mas pode ocorrer de um campeão se aposentar (ou morrer) enquanto ainda estava de posse do título; nesse caso, o título é declarado "vago", e a federação escolherá os dois lutadores de melhor carreira, maior fama, ou ambos, para disputá-lo. Também pode ocorrer de um campeão se contundir e ter de passar um longo tempo sem poder defender seu título; nesse caso, a federação também pode escolher dois lutadores para uma luta pelo "título interino", e, assim que o campeão puder retornar, o campeão e o campeão interino disputarão o título um contra o outro. Vale citar também que alguns lutadores fazem carreiras vitoriosas no boxe amador, chegando até mesmo a disputar medalhas olímpicas, e depois se transferem para o profissional; nesse caso, suas carreiras no boxe amador podem ser consideradas, e eles terão chances de lutar pelo título mais cedo que o normal.
Em teoria, não há um limite de tempo dentro do qual um lutador tem de participar de uma nova luta após sua última; lutadores iniciantes lutam com bastante frequência (já que precisam do dinheiro), enquanto os mais famosos, como os grandes campeões, lutam apenas uma ou duas vezes por ano, o que faz com que suas lutas sejam eventos ainda maiores. Na prática, porém, as federações fazem pressão para que os lutadores mais famosos não fiquem muito tempo fora dos ringues, pois sua presença atrai espectadores e patrocínio, o que reverte em dinheiro e prestígio para a própria federação.
Tirando as Olimpíadas, o principal torneio do boxe amador é o Campeonato Mundial de Boxe, organizado pela AIBA no masculino desde 1974 e no feminino desde 2001 - no início, o torneio masculino era realizado a cada quatro anos, mas, após um intervalo de apenas três anos entre 1986 e 1989, passou a ser disputado a cada dois anos; já o feminino foi disputado em 2001, 2002, 2005 e a cada dois anos desde 2006. Outro torneio de prestígio realizado pela AIBA é a World Series of Boxing, disputada anualmente, apenas no masculino, desde 2010; na WSB os lutadores não competem individualmente, mas em times (podendo haver mais de um time de cada país, embora até agora isso não tenha acontecido), com cada time sendo composto por dez lutadores, um para cada categoria de peso. A cada fase, os dez lutadores de um time enfrentam os dez do outro, e o time que ganhar mais lutas é declarado o vencedor e avança.
O boxe estreou nas Olimpíadas em 1904, em Saint Louis, Estados Unidos. Após aparecer também em 1908, ficou de fora em 1912, em Estocolmo, porque era proibido na Suécia na época. Voltaria em 1920 para não mais sair do programa olímpico. O boxe foi um dos últimos esportes das Olimpíadas a deixar de ser disputado somente no masculino, com o feminino estreando apenas em 2012. Atualmente, todas as 10 categorias de peso do masculino estão presentes nas Olimpíadas, mas são disputadas apenas três categorias no feminino (até 51 kg, até 60 kg e até 75 kg); a AIBA planeja aumentar esse número para cinco em 2020.
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