O que eu (acho que) nunca revelei até agora foi que, quando pensei em fazer o "Tênis (II)", separei sete esportes que usam raquetes para abordar nele. Nos posts que vieram a seguir, falei sobre seis deles. Ficou faltando um, o tênis de praia. O principal motivo pelo qual o tênis de praia jamais ganhou um post só dele foi porque não existe muita coisa para se falar sobre ele, de forma que o post sairia bem curtinho, e, não sei se vocês já repararam, eu não gosto de escrever posts curtinhos para o átomo. Até pensei em fazer com ele um post duplo, como quando eu falei sobre squash/raquetebol e sobre tênis de mesa/real, emparelhando o tênis de praia com o frescobol, já que ambos são disputados na praia. O problema é que eu não tinha muita vontade de falar sobre frescobol, e essa vontade diminuiu ainda mais quando, pesquisando sobre ele, descobri que existem uns seis milhões de esportes parecidos, e que, para chegar no frescobol, eu acabaria tendo de falar um pouquinho sobre todos. Também pensei em emparelhar o tênis de praia com o soft tennis, mas soft tennis é praticamente tênis com uma bola mole, então também não tinha muito assunto para ele.
Assim, o coitado do tênis de praia - sobre o qual eu realmente tinha vontade de falar, diferentemente do frescobol - acabou ficando sem um lugar ao sol - não, eu não resisto a um trocadilho - até o dia em que eu resolvi falar sobre o futebol paralímpico, quando eu tive uma ideia. A ideia de falar também sobre o tênis paralímpico. Finalmente o tênis de praia ganharia um parceiro, e a oportunidade de aparecer nesse post que vocês estão lendo hoje.
O tênis de praia possui não uma, mas duas origens. A primeira delas pode ser traçada até o matkot, esporte israelense que deu origem ao frescobol, no qual o objetivo é rebater uma bola de borracha com uma raquete de madeira não para forçar o adversário ao erro, mas para tentar mantê-la no ar o maior tempo possível. Na década de 1970, este esporte chegou à Itália, onde se tornou extremamente popular na região da Romagna, especialmente nas cidades de Ravenna e Rimini.
Em 1996, um jogador chamado Giandomenico Bellettini decidiu adaptar suas regras para transformar o esporte de cooperativo para competitivo. Se inspirando no tênis e no badminton, mas usando as raquetes e a bola do matkot, ele criaria um esporte que chamaria de tênis de praia, escrevendo um livro com suas regras oficiais. No ano seguinte, ele fundaria a Federação Italiana de Tênis de Praia, que começaria a organizar os primeiros torneios no país. O esporte acabaria chamando a atenção de turistas, e, em 1998, Bellettini receberia pedidos de jogadores de outros países para participar de seus torneios, decidindo criar o primeiro torneio internacional da modalidade e, para não perder tempo, fundar a Federação Internacional de Tênis de Praia (IFBT na sigla em inglês), que teve como primeiros membros 13 países europeus: Itália, Eslovênia, Portugal, Croácia, Holanda, Inglaterra, Suíça, Alemanha, Áustria, Polônia, Espanha, República Tcheca e San Marino.
Paralelamente a isso, aqui do outro lado do mundo, jogadores de tênis profissionais e amadores levavam suas raquetes e bolas para a praia e jogavam uma partidinha enquanto aproveitavam o sol e o mar. Como o que não falta no Caribe é sol e mar, e como jogadores profissionais costumam tirar férias no Caribe, por lá logo a prática do tênis na praia se tornaria uma febre, com muitas quadras demarcadas na areia - algumas até cobrando por hora dos interessados. Um dos lugares onde o tênis na praia mais se desenvolveu foi Aruba, para onde foi levado por turistas holandeses. Em 2003, o norte-americano Marc Altheim, de férias em Aruba, descobriu o passatempo, se interessou e, ao retornar para Nova Iorque, decidiu transformá-lo em esporte. Em 2005, Altheim e alguns amigos fundariam a Beach Tennis USA (BTUSA), organização devotada à prática e difusão do esporte que ele batizaria como tênis de praia nos Estados Unidos. O tênis de praia de Altheim, porém, era bem diferente do de Bellettini, já que usava as mesmas raquetes, bola e quadra do tênis, mas na areia.
Apesar de todos os esforços da BTUSA em organizar torneios e convidar ex-jogadores de tênis para ajudar a difundi-los, o tênis de praia ainda seria visto por muitos como apenas um passatempo até 2007, quando novos ventos soprariam a seu favor: naquele ano, ninguém menos que Andre Agassi e Steffi Graf decidiriam formar uma dupla para participar de um torneio em Miami, o que chamaria a atenção das emissoras de TV. Não das grandes, mas já era um começo: graças à presença dos ídolos, a BTUSA conseguiria um contrato com a SNY, canal de esportes regional baseado em Nova Iorque, onde também ficava a sede da BTUSA, e outro com o Tennis Channel, canal a cabo especializado em transmitir partidas de tênis e programas que versem sobre o esporte. O contrato com o Tennis Channel, aliás, previa a transmissão não somente do torneio de Miami, mas também de outros dois torneios organizados pela BTUSA naquele ano.
Com a nova exposição, a BTUSA descobriria que não era a única tentando regular o tênis de praia nos Estados Unidos. Duas outras organizações, a National Beach Tennis Association e a National Beach Paddle Ball Association, também tinham objetivos parecidos. O esporte da National Beach Paddle Ball Association, entretanto, era mais parecido com o frescobol, enquanto o da National Beach Tennis Association era o criado por Bellettini, já que o órgão era o representante dos Estados Unidos na IFBT.
Através do contato com as duas outras organizações, a BTUSA começaria a introduzir aos poucos mudanças em seu esporte, como a rede alta e o uso de raquetes de madeira, até que ambos os esportes ficassem parecidíssimos - praticamente a única diferença atualmente é a bola, já que um usa uma bola de frescobol e o outro uma bola de tênis com pressão menor. Essas mudanças tornariam os torneios da BTUSA extremamente populares nos Estados Unidos, ao ponto de, no final de 2008, a Federação Internacional de Tênis (ITF) entrar em um acordo com a BTUSA para praticamente assumir o esporte - hoje, a BTUSA só cuida da organização dos torneios em solo norte-americano. Sob o manto da ITF, o tênis de praia teve um crescimento assustador, chegando a todo o planeta rapidamente, e contando hoje com diversos campeonatos nacionais, regionais e mundiais.
Só quem não ficou satisfeito foi a IFBT, que ainda existe, hoje conta com 71 países membros (Brasil incluído) e continua organizando seus próprios torneios. Seu site, aliás, diz que ela é a "única federação mundial de tênis de praia", identifica Bellettini como o inventor de todas as regras, chama seu esporte de "o verdadeiro", e pede para que qualquer um que queira organizar um torneio ou saber qualquer coisa sobre o esporte entre em contato com eles. Parece que a história do futsal está se repetindo, já que de fato Bellettini inventou o esporte primeiro, mas agora vai ser difícil convencer os jogadores de alto nível a disputar os torneios da IFBT ao invés dos da ITF. Eu até acho isso injusto, mas as regras que vou apresentar são da versão da ITF, a que mais vem crescendo no mundo - se bem que, como eu falei, as da IFBT são praticamente idênticas.
O tênis de praia é jogado em uma quadra de 16 metros de comprimento por 8 de largura - não por acaso, mas para facilitar a prática desse esporte, é a mesma quadra usada no vôlei de praia. O piso deve ser, evidentemente, areia, mas, como outros esportes de praia, não é obrigatório que o tênis de praia seja jogado numa praia, podendo ser construída uma quadra "artificial" em um local qualquer. Como é meio difícil fazer marcações na areia, as únicas marcações da quadra são as linhas que a delimitam e uma linha que a divide ao meio; as linhas que delimitam a quadra no sentido do comprimento e no meio devem ter entre 2,5 e 5 cm de largura, enquanto as linhas que a delimitam no sentido da largura - as linhas de fundo - devem ter 10 cm de largura. Todas as linhas devem ser da mesma cor, e de uma cor que contraste com a areia. As linhas fazem parte da quadra, ou seja, bola que toque a linha é bola dentro.
No meio da quadra fica a rede, que deve ter 1,70 m de altura em seu ponto mais alto e no máximo 1 m de largura. A rede é presa a dois postes que ficam a 5 cm das laterais cada por uma corda ou cabo que deve ter no máximo 8 cm de diâmetro, deve ser feita de material sintético trançado de forma a ser impossível a bola passar por ela, e deve ter uma fita em sua parte superior.
As raquetes podem ser feitas de madeira, grafite ou fibra de vidro. Diferentemente das do tênis, são sólidas, exceto por furos em sua parte mais larga, que podem ter de 9 a 13 mm de diâmetro. As regras não especificam um número máximo ou mínimo de furos - o mais comum é que sejam doze deles - apenas que eles devem ficar a mais de 4 cm das bordas da raquete. O intuito dos furos é facilitar a movimentação da raquete e melhorar o efeito quando ela bate na bola; furos feitos especificamente para dar vantagens aos jogadores ao bater na bola, entretanto, são proibidos, ficando essa avaliação a cargo dos árbitros da partida. As raquetes devem ter no máximo 50 cm de comprimento, com uma "cabeça" de no máximo 30 cm, 26 cm de largura em sua parte mais larga e 38 mm de espessura. A cabeça pode ser lisa ou áspera, dependendo do estilo do jogador. As bolas usadas são as mesmas do tênis, mas com a metade da pressão: enquanto uma bola de tênis tem pressão de 12 bar, uma bola de tênis de praia tem apenas 6 bar, o que faz com que ela quique menos e ganhe menos velocidade nos golpes.
A pontuação no tênis de praia é bastante parecida com a utilizada no tênis: o primeiro ponto vale 15, o segundo 30, o terceiro 40, e então se ganha um game. A principal diferença é que não há a vantagem: mesmo que ambos os jogadores estejam empatados em 40 a 40, o próximo a marcar um ponto ganha o game. O primeiro a ganhar seis games vence um set, sendo que a partida pode ser disputada em melhor de três sets (quem vencer dois primeiro ganha o jogo) ou em melhor de cinco (quem vencer três primeiro ganha o jogo). A ITF permite que dois critérios diferentes de pontuação para vencer o set sejam utilizados, o chamado Advantage Set - no qual é necessária uma vantagem de dois games para se vencer o set; em caso de 6-5 ou 6-6 o set continua até que alguém abra dois games - e o chamado Tie Break Set - no qual, em caso de 6-6, é jogado um tie break, no mesmo estilo do tênis, com o primeiro a fazer sete pontos ou mais com dois de vantagem sobre o oponente vencendo. A decisão sobre quantos sets são necessários para vencer o jogo e sobre qual critério será adotado ficam a cargo do organizador do torneio, com a obrigação de deixar o método escolhido bem claro aos participantes com a devida antecedência. É possível que um torneio use o Advantage Set apenas no set de desempate, usando o Tie Break Set nos demais.
Uma partida de tênis de praia se desenvolve praticamente da mesma forma que uma do tênis comum: um dos jogadores saca, o outro recebe e devolve a bola, e assim segue até um dos dois não conseguir devolvê-la ou mandá-la para fora. A principal diferença é que, como a bola não quica na areia, não é permitido deixar a bola quicar antes de rebatê-la, o que, aliado à rede alta, torna o jogo parecido com o badminton. A rede alta também faz com que o estilo preferido de saque dos jogadores seja "por baixo" - batendo na bola de baixo para cima - ao invés de "por cima" como no tênis. Outra diferença é que não existe o let - se a bola tocar a fita ou a rede após um saque, a jogada continua valendo. Assim como no tênis, apenas um árbitro, que fica sentado em uma cadeira alta ao lado da rede, é obrigatório, embora a maioria dos torneios use também um juiz de linha, que fica em pé do outro lado da rede.
Na versão da ITF, o tênis de praia é disputado apenas na categoria duplas - duplas masculinas, duplas femininas e duplas mistas - embora a IFBT também organize campeonatos de simples masculinas e simples femininas. Os principais torneios organizados pela ITF são o Campeonato Mundial, disputado anualmente nas duplas masculinas e femininas desde 2009; o ITF Beach Tennis Tour, disputado desde 2008 em dez etapas ao redor do mundo, somando pontos para os participantes, com as duplas masculinas, femininas e mistas com mais pontos ao final da última etapa sendo consagradas campeãs; e o Campeonato Mundial por Equipes, disputado pela primeira vez no ano passado, em um sistema no qual cada equipe, composta por quatro homens e quatro mulheres, disputa uma melhor de três jogos contra outra equipe - um jogo de duplas masculinas, um de femininas e um de mistas - avançando para a etapa seguinte a equipe que vencer dois desses jogos. O Brasil já possui alguns jogadores se aventurando nos torneios da ITF, e até mesmo conseguiu uma medalha de prata no Mundial por Equipes, com uma equipe composta por Vinicius Font, Guilherme Prata, Samantha Barijan e Joana Cortez.
Visto o tênis de praia, vamos passar para o tênis paralímpico, conhecido oficialmente como tênis em cadeira de rodas, que também é regulado pela ITF. A criação do tênis em cadeira de rodas é atribuída ao norte-americano Brad Parks, que, originalmente, não praticava o tênis, mas o esqui. Durante um campeonato de esqui estilo livre para amadores em 1975, Parks, então com 18 anos, sofreu uma queda que o deixou paraplégico. Não querendo deixar de praticar esportes, ele tentaria o tênis, e se surpreenderia ao descobrir que ainda não existia material apropriado para cadeirantes nesse esporte - basicamente, quem quisesse jogar tênis em cadeira de rodas tinha de usar uma quadra comum, raquetes comuns, bolas comuns e uma cadeira comum.
A parte da quadra, da raquete e das bolas não incomodava os jogadores de então, mas jogar com a cadeira comum era bastante complicado. Parks e o tenista cadeirante Jeff Minnenbraker, então, desenvolveriam uma cadeira própria, mais leve, com rodas levemente inclinadas e com aquela parte onde ficam os pés móvel e giratória, que facilitaria bastante o trabalho dos tenistas cadeirantes, que podiam manobrá-la com menos esforço. Para apresentar sua cadeira ao mundo, Parks e Minnenbraker entraram em contato com alguns colegas tenistas cadeirantes e organizaram o primeiro torneio da modalidade - até então, tenistas cadeirantes só jogavam por recreação - em Orange County, na Califórnia, em 1977.
O torneio foi um grande sucesso, e logo o tênis em cadeira de rodas começou a se popularizar e se espalhar pelos Estados Unidos, com a cadeira de Parks se tornando cada vez mais o padrão entre os praticantes. O sucesso motivaria Parks a fundar, em 1980, a primeira federação do esporte, a National Foundation of Wheelchair Tennis (NFWT), que cuidaria da codificação das regras e da organização de torneios em todos os Estados Unidos. Naquele mesmo ano, a NFWT criaria um circuito de dez torneios ao redor dos Estados Unidos, incluindo o primeiro US Open em Cadeira de Rodas, disputado em Irvine, Califórnia, com a participação de 70 tenistas e o título sendo conquistado por Parks.
Ao final de 1980, a NFWT estimaria em mais de 300 o número de jogadores de tênis em cadeira de rodas nos Estados Unidos. Parks sabia que era só uma questão de tempo até outras entidades começarem a organizar campeonatos, e, para proteger os direitos dos atletas, ele fundaria também a Associação de Tenistas Profissionais em Cadeira de Rodas (WTPA na sigla em inglês), em 1981.
Nesse mesmo ano, o francês Jean-Pierre Limborg se tornaria o primeiro estrangeiro a competir no US Open da NFWT. Ao voltar à Europa, ele começaria a se dedicar à difusão e popularização do esporte por lá, fundando o primeiro clube exclusivamente voltado à prática do tênis em cadeira de rodas na cidade de Garches, França. Enquanto isso, em Sydney, Austrália, outro tenista cadeirante, Graeme Watts, após assistir a palestras de Parks e do tenista Jim Worth, decidiria criar por lá também um clube para tenistas em cadeiras de rodas. Em 1984, o esporte chegaria ao Japão, levado pro Masahiro Sato.
Em 1985, a NFWT atualizaria suas regras para permitir a participação em seus torneios de atletas tetraplégicos, conhecidos como quads. Como possuem ainda menos mobilidade que os paraplégicos, os quads possuem regras especiais; eles podem, por exemplo, usar cadeiras motorizadas, e podem prender as raquetes a seus braços usando uma fita especial, para que ela não caia durante a partida. Atletas quads não são divididos nas categorias masculina e feminina, participando todos juntos, tanto nas simples quanto nas duplas, que podem ter duplas masculinas, femininas ou mistas em um mesmo torneio.
O esporte se tornaria definitivamente internacional também em 1985, quando seria organizada nos Estados Unidos a World Team Cup, competição no mesmo estilo da Copa Davis, que contaria com equipes de Estados Unidos, França, Austrália, Japão, Israel e Canadá. Em 1986 seria disputado o primeiro Aberto da França, em Antony, Paris, e a World Team Cup, já contando também com equipes de Grã-Bretanha e Holanda, teria também um torneio feminino. Em 1987, o tênis em cadeira de rodas seria incluído no programa dos Wheelchair Games de Stoke Mandeville, Inglaterra, um dos torneios para cadeirantes de maior prestígio no mundo.
Com o crescimento cada vez maior - então, só nos Estados Unidos, já eram mais de 2.000 filiados à WTPA - e o tênis em cadeira de rodas chegando a cada vez mais países, Park recorreria à ITF para ajuda na criação de um órgão internacional que regulasse o esporte e cuidasse para que as mesmas regras de competição, participação e segurança fossem adotadas no mundo inteiro. Com a ajuda da ITF, ele fundaria, em 1988, a IWTF, a Federação Internacional do Tênis em Cadeira de Rodas, que seria o órgão máximo do esporte até 1998, quando a própria ITF assumiria o esporte. Graças aos esforços da IWTF, o tênis em cadeira de rodas seria incluído como esporte de demonstração no programa das Paralimpíadas de 1988, o que contribuiria ainda mais para seu crescimento e popularização.
Outros avanços importantes ocorreriam nos quatro anos seguintes: em 1989, seria disputado o primeiro Aberto da Austrália, em Flinders Park, Melbourne. Em 1990, ocorreria a primeira participação de tenistas andantes e cadeirantes no mesmo torneio (mas, evidentemente, em competições separadas, e não uns enfrentando aos outros), o Lipton Players Championships de Key Biscayne, Flórida, Estados Unidos. Em 1991, seria a vez de o US Open distribuir prêmios em dinheiro para os tenistas mais bem colocados, o que marcaria a profissionalização definitiva do esporte. E, em 1992, o tênis em cadeira de rodas seria incluído no programa principal das Paralimpíadas, de onde não mais sairia.
Dez anos depois, em 2002, o Aberto da Austrália para tenistas andantes incluiria em seu programa, pela primeira vez, um torneio para cadeirantes. Wimbledon - que se tornaria o primeiro torneio de tênis em cadeira de rodas disputado na grama - e o US Open fariam o mesmo em 2005, e Roland Garros se uniria a eles em 2007, quando todos os Grand Slams permitiriam a participação de cadeirantes.
Hoje, o tênis em cadeira de rodas é um dos esportes para deficientes mais desenvolvidos e bem estruturados do planeta, graças, principalmente, à ITF, que foi a primeira federação internacional de um esporte para atletas sem deficiência a regular também um esporte para deficientes. Assim como no tênis para andantes, os torneios do tênis para cadeirantes, conhecidos coletivamente como ITF Wheelchair Tennis Tour, são divididos em seis categorias, de acordo com sua importância, valor de seus prêmios e número de pontos conferidos para o ranking mundial. O nível mais alto é chamado ITF Masters Series, e reúne os quatro Grand Slams disputados paralelamente aos dos andantes (Aberto da Austrália em Melbourne, Wimbledon, Roland Garros e US Open em Flushing Meadows) mais o Wheelchair Tennis Masters, torneio disputado desde 1994 que reúne, no final de cada ano, os oito primeiros tenistas do ranking no masculino e as oito primeiras do feminino.
O segundo nível é o chamado ITF Super Series, e conta atualmente com seis torneios: o Sydney International Wheelchair Open, na Austrália; o Florida Open, disputado na cidade de Boca Raton, Estados Unidos; o Aberto do Japão, disputado em Fukuoka; o Aberto da França, em Antony, Paris; o British Open, disputado na cidade de Nottingham, Inglaterra; e o USTA Wheelchair Tennis Championships, dispuado em St. Louis, Missouri, Estados Unidos. Os níveis subsequentes são chamados simplesmente de ITF 1, com 9 torneios, ITF 2, com 11 torneios, e ITF 3, com 40 torneios anuais. O último nível é o ITF Futures, que conta com nada menos que 534 torneios anuais, dedicados a jogadores jovens ou iniciantes.
Os dois principais torneios fora do ITF Wheelchair Tennis Tour são as Paralimpíadas, nas quais as categorias simples masculinas, duplas masculinas, simples femininas e duplas femininas fazem parte do programa desde 1992 (tendo sido disputadas com esporte de demonstração em 1988) e as simples quads e duplas quads desde 2004; e a World Team Cup, que ainda é disputada anualmente, atualmente nas categorias masculina, feminina, quads e jovens, e hoje já conta com a participação de 26 países em duas divisões, sendo que outros 29 disputam as classificatórias para a segunda divisão. O Brasil participa da World Team Cup, estando, atualmente, na segunda divisão, e já tendo sediado o evento em 2006, quando foi campeã da segunda divisão (que, por sua vez, foi criada em 2004). O Brasil disputou a primeira divisão de 1993 a 2005, em 2007, 2008, 2010 e 2011, e teve como melhor resultado um nono lugar em 2010.
Uma coisa importante a se dizer sobre o tênis em cadeira de rodas é que as regras são as mesmíssimas do tênis para andantes, com apenas uma diferença: a bola pode quicar duas vezes, inclusive se a segunda vez for fora da quadra, antes de o jogador rebatê-la - se ele quiser rebater depois da primeira quicada também vale, mas se a primeira quicada for fora, a bola é fora. Como a quadra é do mesmo tamanho, eu só tenho a elogiar a superação e a força de vontade desses atletas, pois, se jogar tênis tendo de correr para lá e para cá já é complicado o suficiente, imaginem tendo que usar os braços para girar e parar as rodas da cadeira.
Para terminar esse post, cabe dizer que o tênis em cadeira de rodas possui a atleta com a maior série invicta dentre todos os esportes, para deficientes ou não: a holandesa Esther Vergeer não perde um jogo de simples, acreditem ou não, desde janeiro de 2003. Isso mesmo, já são dez anos, ou 470 partidas seguidas sem derrotas. 470 vitórias seguidas, incluindo oito Abertos da Austrália, oito Roland Garros, sete US Open (no total ela tem 26 títulos de Grand Slams, já que também ganhou esses três torneios em 2002; vale dizer que em alguns anos ela optou por não participar de um desses três torneios, e nunca participou de Wimbledon nas simples), nove Wheelchair Tennis Masters (14 no total) e quatro Medalhas de Ouro Paralímpicas. Esther também tem em seu plantel 27 títulos de Grand Slams, 9 da Wheelchair Tennis Masters e três ouros e uma prata Paralímpicos na categoria duplas, além de vários títulos da Super Series e de torneios menores - no total, ela tem 162 títulos de simples e 134 de duplas apenas em torneios internacionais. Ela é a primeira do ranking desde 6 de abril de 1999, e, nas simples, possui um total de 687 vitórias e apenas 25 derrotas - nas duplas, embora tenha perdido com mais frequência, os números também são impressionantes, 440 vitórias e 35 derrotas. Com ela no time, a Holanda ganhou nada menos que 14 World Team Cups. E, só para terminar de cair o queixo, vale citar que, nas simples, desde março de 2001, ela só perdeu uma única partida, e entre agosto de 2004 e outubro de 2006 ela venceu 250 sets seguidos - isso mesmo, dois anos inteiros sem perder um set.
Apesar desse retrospecto, Vergeer, que tem 31 anos e perdeu os movimentos das pernas aos oito durante uma cirurgia de alto risco para estancar um sangramento na coluna que poderia levar à sua morte, não dá mole para o favoritismo, se preparando para cada torneio como se nunca tivesse ganhado nada. Ela diz que, embora na maior parte do tempo confie em suas habilidades, às vezes sente a pressão para manter a série invicta, mas que está preparada para quando a derrota finalmente vier - afinal, ela tem consciência de que não é imbatível, e de que há uma maneira de derrotá-la, embora ela não vá dizer qual é. E a cereja do bolo é que, além de quase imbatível, de ter boa cabeça e bom humor, Vergeer também é linda: é dela a foto que eu usei para ilustrar essa segunda metade do post.
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