O mundo do entretenimento é muito estranho. Como eu já disse uma vez, às vezes obras de arte são enterradas em um buraco bem fundo, enquanto notórias porcarias ganham posição de destaque. Não que eu tenha autoridade para dizer o que seria uma obra de arte, sou internacionalmente conhecido por gostar de tosqueiras, mas tenho certeza de que meu post de hoje vai encontrar eco em muita gente por aí.
Portanto, comecemos logo por uma pergunta: Por onde anda o desenho dos Transformers? Thundercats e Silver Hawks ainda passam de vez em quando no SBT, He-Man chegou a passar há algum tempo na TV Globinho aos sábados, e a Caverna do Dragão vai acabar fazendo um buraco na fita - isso sem falar de outros menos cotados na época, que de vez em quando eu acho passando por aí. Mas os Transformers foram relegados ao oblívio. Alguém se digna a me dizer o porquê?
A história dos Transformers começa em 1983. Neste ano, a empresa japonesa Takara decidiu lançar nos EUA uma linha de brinquedos, robôs que se transformavam em veículos, conhecidos como Diakron e Kronoform. Era muito difícil para os japoneses distribuírem brinquedos nos EUA naquela época, então eles decidiram buscar um parceiro comercial. Naquele mesmo ano, executivos da Takara se encontraram com representantes da Hasbro em uma feira de brinquedos em Nova York, e ficou acertado que a Hasbro não simplesmente distribuiria os brinquedos da Takara, mas a ajudaria a criar uma linha completamente nova, adequada ao mercado americano. Takara e Hasbro, então, criaram os Transformers, toda uma linha de robôs que se transformavam em diversos veículos norte-americanos da época. Para ajudar no sucesso do brinquedo, a Hasbro decidiu procurar a Marvel Comics, buscando repetir o sucesso de seu último lançamento conjunto, os Comandos em Ação. Assim, a Marvel criou a história e a "personalidade" de cada robô, assim como o contexto no qual eles "viveriam suas aventuras", lançando uma revista em quadrinhos regular e, mais tarde, um desenho animado para a TV, em parceria com a produtora Sunbow.
Toda esta avalanche de merchandising - brinquedos, revistas em quadrinhos e desenhos animados - atingiu os lares americanos no ano de 1984. No Japão, os brinquedos e os desenhos animados chegaram com um ano de atraso, em 1985. Aqui no Brasil eu não lembro quando o desenho começou a passar, só sei que era aos domingos pela manhã, e não no Balão Mágico nem na Xuxa. Talvez o pessoal da Globo tenha achado que não era desenho para crianças. Os quadrinhos chegaram a ser publicados pela Rio Gráfica, que depois virou Editora Globo, mas tiveram vida curta - praticamente, tão logo o desenho parou de passar, a revista foi cancelada. Um dado que eu acho curioso é que muitos detalhes da história e alguns personagens da revista em quadrinhos são completamente diferentes do desenho animado, mas ambos são considerados oficiais pela Hasbro. Assim como não dá para comparar a revista com o desenho dos X-Men, por exemplo, também não dá para comparar os dos Transformers. Os brinquedos eram comercializados pela Estrela, mas haviam "Transformers genéricos" de todas as outras fabricantes (pessoalmente, eu gostava muito mais dos da Glasslite).
Mas qual era a história? De onde vieram estes robôs? Na verdade, além de robôs, eles são alienígenas. Os Transformers são nativos de um planeta chamado Cybertron, onde todas as formas de vida são metálicas. Cybertron está imerso há séculos em uma guerra entre dois exércitos, os Autobots e os Decepticons. Um dia, as reservas de energia de Cybertron começam a se esgotar, e uma expedição Autobot, a bordo de uma nave chamada Arca, liderada por Optimus Prime parte em busca de novas formas de energia. Durante a viagem, porém, eles são atacados por uma nave de guerra Decepticon, liderada pelo sanguinário Megatron. As duas naves acabam por cair na Terra, sendo que a Arca se choca contra um vulcão, e a nave Decepticon cai no mar. Com o choque, todos entram em animação suspensa. Quatro milhões de anos mais tarde, uma erupção vulcânica desperta os robôs, que, após alguns reparos, decidem se aventurar neste novo mundo. Tá, eu sei que não é um roteiro digno de Oscar, mas cumpre sua função social, que é trazer a guerra dos Autobots e Decepticons para a Terra.
Para passarem despercebidos entre os humanos (coisa meio difícil quando se é um robô de três ou quatro metros de altura), tanto Autobots quanto Decepticons decidem se adaptar para que, através de um comando mental, se "transformem" em veículos terrestres. Os pacíficos Autobots se transformam em carros e caminhões, enquanto os militarizados Decepticons preferem jatos de guerra. No decorrer da série, vários novos Transformers vão surgindo, que se transformam nas coisas mais variadas, como motocicletas, helicópteros, guindastes, tratores e até dinossauros (os infames Dinobots, só comparáveis aos ainda mais infames Insecticons).
O objetivo dos Autobots é aprender com os humanos e protegê-los dos Decepticons - se possível, capturando-os para levá-los de volta a Cybertron - enquanto buscam uma forma de consertar sua nave. Em contrapartida, os Decepticons planejam roubar todos os recursos naturais da Terra, transformando-os em Cubos de Energon (uma das coisas que eu mais gostava na série) para resolver o problema de falta de energia de seu mundo natal. Só não me perguntem como Cybertron sobreviveu quatro milhões de anos sem energia - e em guerra.
Nos EUA, o desenho teve quatro temporadas, entre 1984 e 1987. No final da segunda temporada, foi produzido um longa-metragem, conhecido como Transformers: O Filme, que mudou drasticamente a história: muitos dos personagens principais morreram (inclusive Optimus Prime e Starscream, o melhor Decepticon que tinha) e foram substituídos (Megatron não morreu, mas foi "remodelado" e virou Galvatron), as viagens a Cybertron se tornaram freqüentes, e toda uma nova raça alienígena, os Nebulons, passou a interagir com os humanos e Transformers regularmente. Na verdade, humanos e Transformers começaram a interagir regularmente, com o governo norte-americano apoiando os Autobots e combatendo os Decepticons. Não é surpresa que muitos dos fãs mais fervorosos não suportam as duas últimas temporadas. No final da última temporada, caso alguém esteja querendo saber, a Terra ajuda os Autobots a utilizar a energia do Sol para revitalizar Cybertron e ganhar a guerra. E todos vivem felizes para sempre.
Surpreendentemente, no Japão, a quarta temporada e o filme foram solenemente ignorados, mas a terceira não. Para explicar o que aconteceu entre a segunda e a terceira temporadas, foi produzido um especial de uma hora, onde Megatron realmente se transforma em Galvatron, mas Optimus Prime não morre, ficando seriamente ferido e em reparos durante toda a terceira temporada (não sei se alguém chega a falar isso durante as dublagens da terceira temporada, ou se Optimus foi solenemente ignorado). Mais surpreendentemente ainda, no Japão existe uma quarta temporada exclusiva, que foi ao ar em 1987, paralelamente à quarta temporada "oficial". Nesta quarta temporada "alternativa", Optimus volta a liderar os Autobots, mas acaba morrendo no final, se sacrificando para salvar a Terra. Além disso, surge uma terceira facção, os Headmasters, Transformers que viviam como prisioneiros em um planeta distante, e são salvos pelos Autobots. Mas o mais surpreendente é o final: Cybertron é destruído (!!!), todos os Decepticons da Terra são mortos, e os Autobots que sobraram por aqui (mais os Headmasters) se tornam os únicos Transformers do universo! Eu, hein!
Não satisfeitos com esta bagunça toda, os japoneses ainda fizeram várias outras séries alternativas, sempre no estilo japonês, com começo, meio e fim, e depois a próxima sem nada ou com muito pouco a ver com a anterior. Tais séries ficaram conhecidas como Super God Masterforce (1988), Transformers Victory (1989), Transformers Zone (1990), Battlestars (1991), Operation Combination (1992) e Car Robots (2000), que chegou a passar aqui na Fox Kids com o nome de Transformers: A Nova Geração. De todas estas séries, apenas Car Robots foi exibida nos EUA, com o nome de Transformers: Robots in Disguise. Transformers: O Filme foi exibido no Japão em 1990 (quatro anos depois de seu lançamento original), mas a quarta temporada da série clássica, pelo que se sabe, é inédita até hoje.
Os EUA também produziram uma série alternativa de Transformers, relativamente bem sucedida, chamada Beast Wars, totalmente produzida por computador, onde os Transformers se transformam em animais ao invés de veículos. A história de Beast Wars se passa oficialmente no futuro da série clássica. Beast Wars também teve quatro temporadas, sendo exibido nos EUA e Japão entre 1996 e 1999, e por aqui a partir de 1997. Beast Wars gerou uma subsérie, Beast Machines, de 1999.
Recentemente, assim como todos os heróis da Hasbro (Thundercats, Comandos em Ação e He-Man, por exemplo), os Transformers voltaram reformulados com a série Transformers: Armada, de 2002. Esta série é produzida pela Hasbro em parceria com a Takara, e ignora os eventos da série clássica (assim como todas as novas séries da Hasbro, diga-se de passagem), sendo ambientada na época atual, com uma história mais complexa, visual futurista para os robôs e os infames Minicons, que viram carrinhos de brinquedo. Neste ano de 2004, Armada não acabou, mas "evoluiu" para Transformers: Energon, que é a série atual. Armada e Energon também possuem versões em quadrinhos, publicadas pela Dreamweave Comics nos EUA e pela Panini Comics aqui no Brasil (por enquanto, por aqui, só Armada). Antes do lançamento da revista de Armada, a Dreamweave lançou uma minissérie em seis partes "adaptando" a série clássica para a época atual. Curiosamente, quando a Armada virou Energon, não voltou para o número 1, prosseguindo de onde estava.
Infelizmente, a magia da série clássica (especialmente das duas primeiras temporadas) não conseguiu se manter nas demais séries. Existem muitos rumores sobre um novo filme dos Transformers, desta vez com atores de carne-e-osso, mas muito se especula e pouco se fala. Lá fora estão a venda os DVDs das quatro primeiras temporadas, mas aqui nem sinal. Enquanto isso, só nos resta a perguntar: Onde a Globo escondeu essas fitas?
Me faço a mesma pergunta, a g1 é a melhor de todas o resto é porcaria.
ResponderExcluirSimplesmente encantada com este blog.
ResponderExcluir10/08/2022