segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Escrito por em 10.1.11 com 7 comentários

Jayce / Pole Position

Faz tempo que eu não falo de um desenho animado dos anos 80 aqui no átomo. Essa semana, eu achei que seria legal voltar ao assunto, e me pus a pensar em qual desenho que eu gostava sobre o qual eu ainda não falei. Sem querer, acabei chegando a um exemplar perfeito: Jayce.

Gillian, Flora, Jayce, Oon, HercEu já contei essa história aqui: às vezes eu acho que só eu me lembro de Jayce. Toda vez que eu comento sobre esse desenho com alguém, invariavelmente a pessoa não se lembra do nome. Então eu me ponho a explicar sobre o que era o desenho, e a pessoa continua não se lembrando. Um colega de faculdade chegou a me acusar de o estar inventando. E o mais incrível é que todo mundo se lembra de outros desenhos que passavam junto com ele, como MASK, Popples, A Nossa Turma e até mesmo Jem e os Hologramas. Até hoje, a única pessoa que eu conheço pessoalmente que se lembra de Jayce, e mesmo assim vagamente apenas dos vilões, é o Rod Ran, que escrevia comigo no BLOGuil.

Pelo menos a internet está aí para me assegurar de que eu não enlouqueci, de que esse desenho existiu mesmo. O que é uma coisa muito boa, porque era um dos meus desenhos favoritos - pelo que eu me lembro, dos que passavam no SBT, só perdia para os Silverhawks. Além de eu gostar muito, o episódio da amnésia coletiva, justamente por ser muito curioso, faz com que, volta e meia, eu me lembre dele - já falei sobre Jayce no BLOGuil, e já contei a história do parágrafo acima pelo menos uma outra vez aqui no átomo. Hoje, finalmente, Jayce terá feita justiça, e receberá um post só para ele.

Aqui no Brasil, Jayce foi exibido, com o nome completo de Jayce e os Guerreiros do Espaço, no SBT, mais precisamente no programa da Mara Maravilha, em uma época na qual o canal era uma espécie de versão brasileira do Cartoon Network, com mais de 12 horas diárias dedicadas a desenhos e programas infantis. Internacionalmente, ele foi produzido no ano de 1985, e, curiosamente, não fez sua estreia nos Estados Unidos, como era de se esperar, mas na Europa. Isso porque o desenho de Jayce é uma criação francesa.

Mais curiosamente ainda, o desenho é uma criação francesa, mas os veículos que nele apareciam eram uma criação norte-americana. Como muitos outros desenhos dos anos 80, o principal objetivo de Jayce era vender brinquedos - mais precisamente, uma linha de veículos da Mattel, chamada Wheeled Warriors ("guerreiros sobre rodas"). Essa linha colocava as forças do bem, representadas por humanos da Lightning League, que pilotavam incríveis máquinas de combate, contra veículos sencientes que se pareciam com plantas, os Monster Minds. A principal característica da linha era que as armas dos brinquedos podiam ser trocadas de um veículo para outro, o que permitia que as crianças os customizassem de certa forma.

Ao contrário de outros brinquedos da época, como He-Man e Comandos em Ação, os Wheeled Warriors não vinham com revistinhas ou fichas explicando a origem dos personagens, e os humanos que pilotavam os veículos da Lightning League eram apenas pilotos genéricos, sem qualquer tipo de história. Isso chamou a atenção do desenhista francês Jean Chalopin, fundador dos estúdios DIC - que produziam, dentre outros, o desenho MASK, e, no futuro, após abrir uma filial norte-americana, viriam a produzir os novos desenhos dos Comandos em Ação (a terceira temporada, produzida após o longa-metragem) e dos Caça-Fantasmas (aquele no qual Geléia é mais protagonista que os próprios Caça-Fantasmas).

Chalopin procurou a Mattel, e se ofereceu para criar um desenho que desse uma história à luta entre a Lightning League e os Monster Minds, com a condição de que ele pudesse criar a história que quisesse. A Mattel concordou, e assim surgiu Jayce et les Conquérants de la Lumière ("Jayce e os Conquistadores da Luz") - que, evidentemente, nos Estados Unidos, teve seu nome mudado para Jayce and the Wheeled Warriors, para deixar bem claro que o desenho era relacionado à série de brinquedos. Chalopin escreveu ele mesmo o roteiro de vários episódios, enquanto outros seriam escritos pelo também francês Haskell Barkin e pelo norte-americano J. Michael Straczynski, também produtor da série, que havia sido roteirista do He-Man e mais tarde criaria a série de TV de grande sucesso Babylon 5.

O desenho é ambientado em um sistema solar chamado Epsolon 9, no qual vive um cientista de nome Audric, cujo sonho é acabar com a fome no universo. Em nome de seu objetivo, Audric faz várias experiências com plantas. Em uma delas, ele conseguiu criar uma planta que, ao florescer, se transformou em uma bela menina com poderes telepáticos, a qual ele chamou de Flora. Em outra, ele criou uma semente que germinaria sob quaisquer condições, dando origem a uma planta muito nutritiva.

Audric imaginou que, com essa semente, seu objetivo estaria cumprido. Uma súbita explosão solar, entretanto, mostrou que nem tudo havia saído como o esperado: afetada pela radiação, a semente sofreu uma mutação, se tornando também um híbrido entre planta e humano, chamado Saw Boss. Diferentemente de Flora, porém, Saw Boss é maligno e cruel, e planeja usar as plantas criadas por Audric para dominar todo o universo, transformando algumas em seus soldados, e usando enormes trepadeiras para viajar pelo espaço, enredando planetas inteiros em suas videiras. Saw Boss chamou suas criações de Monstroides (Monster Minds, no original), se apoderou do laboratório de Audric, o qual passou a usar como base, e ordenou a morte do cientista, a quem considerava o único que poderia detê-lo.

Saw Boss tinha razão em temer Audric: rapidamente, o cientista criou uma nova planta, uma raiz, capaz de destruir a ele e a todos os Monstroides. Como foi jurado de morte antes de conseguir colocar seu plano em prática, Audric dividiu a raiz em duas partes, escondendo-as dentro de dois medalhões. Um dos medalhões ele guardou consigo, o outro ele deu a seu fiel servo Oon, um robozinho meio medroso que se parece com um cavaleiro medieval. Ordenando que Oon desse o medalhão para seu filho Jayce, Audric fugiu para não ser morto pelos Monstroides. Somente quando Jayce encontrá-lo ambos poderão unir seus medalhões, restaurando a raiz mágica e destruindo Saw Boss de uma vez por todas.

A missão de Jayce é um tanto ingrata, graças aos poderes dos Monstroides: em primeiro lugar, eles podem se mover pelo universo não somente através de sua rede de videiras, mas também através de portais de teletransporte que usam um elemento conhecido como Luz Negra. Em segundo lugar, Saw Boss esté permanentemente ligado por telepatia a Audric, seu criador, o que faz com que o cientista tenha de se manter em deslocamento constante para não ser encontrado. Em terceiro lugar, todos os Monstroides, além de ter uma forma humanoide, podem se transformar em uma espécie de veículo. E, como se isso não fosse o bastante, usando o poder da semente criada por Audric, Saw Boss pode criar clones infinitos dos Monstroides em sua versão veículo, o que significa que ele tem um verdadeiro exército à sua disposição.

Os MonstroidesOs clones dos Monstroides em versão veículo, evidentemente, eram os Monster Minds da linha de brinquedos. De início, eles eram cinco: Terror Tank, que lembra uma escavadeira, com uma planta carnívora no lugar da pá; Gun Grinner, que tem três canhões entre os dentes e três bolas espinhentas na ponta de um cipó; KO Crusher, que usa como arma uma bola de demolição; Beast Walker, um quadrúpede gigantesco, poucas vezes usado por demandar uma quantidade imensa de energia; e os clones do próprio Saw Boss, que, em sua forma de veículo, tem dentes protuberantes e uma grande serra como arma. Conforme novos brinquedos iam sendo lançados, novos Monstroides também apareciam no desenho, como o Snapdragon, que tinha uma grande flor com um laser dentro.

Para encontrar seu pai e derrotar os Monstroides, portanto, Jayce precisará de valorosos aliados. O principal é Gillian, um mago e cientista de centenas de anos de idade, mentor do rapaz e amigo de longa data de Audric, co-criador de Flora e dos veículos que os guerreiros do bem usarão para derrotar as plantas do mal. Além de Gillian acompanham Jayce, evidentemente, Oon e Flora, que ainda levou junto seus bichinhos de estimação, Brock, uma mini-baleia voadora que ela usa como montaria, e os Zoggies, três lagartos biomecânicos que disparam lasers. Mas, por mais veículos que tenham, um rapaz órfão, um mago centenário, um cavaleiro robô anão e uma menininha montada em uma baleia voadora não são páreo para as forças do mal. Eles precisam de uma nave. E de um piloto escolado, tipo um ex-combatente que se tornou mercenário e contrabandista. É assim que entra para o grupo Herc Stormsailor, piloto da Orgulho dos Céus. Embora lute com bravura e lealdade, Herc diz que só está com o grupo pelo pagamento que Gillian lhe prometeu, e não perde uma chance de implicar com Jayce, Flora e Oon.

Os improváveis heróis se autodenominam Liga Relâmpago (Lightning League), e partem na Orgulho dos Céus, que parece uma caravela, em busca de Audric, sempre tendo que combater os Monstroides, que os atacam a todo momento. Além dos veículos, a principal arma de Jayce é o Anel da Luz, capaz de disparar, uma vez por episódio, um raio que repele os Monstroides. Os veículos do desenho, evidentemente, eram os veículos usados pela Lightning League na linha de brinquedos. De início, eles incluíam a escavadeira Armed Force, usada por Jayce; a perfuradeira Drill Sargeant, de Flora; Quick Draw, usado por Gillian, que tem uma espécie de roda espinhenta ligada a um braço; Spike Trike, o mais veloz, com um rolo compressor na frente, pilotado por Herc; e Trail Blazer, um veículo gigantesco que carrega os demais, equivalente da Liga Relâmpago ao Beast Walker dos Monstroides, e tão pouco usado quanto. Assim como ocorria com os Monstroides, conforme novos brinquedos eram lançados, Gillian construía novos veículos para a Liga Relâmpago. Assim como os brinquedos, os veículos da Liga podiam trocar as armas entre si, possibilitando que fossem muito mais versáteis que os Monstroides.

Como já foi dito, Jayce estreou primeiro na Europa, mais precisamente no Reino Unido, no dia 8 de setembro de 1985, no Channel 4. No dia seguinte, estreou na França, no TF1, e apenas uma semana depois estrearia nos Estados Unidos, direto em regime de syndication, ou seja, oferecido a várias emissoras, ao invés de estrear em apenas uma para depois ser comprado pelas demais.

Infelizmente, o desenho não fez muito sucesso, e acabou tendo apenas uma única temporada, de 65 episódios. A DIC ainda tentou emplacar uma segunda temporada, mas a decisão da Mattel de não renovar a linha de brinquedos acabou fazendo com que eles desistissem, deixando o desenho sem final: Jayce jamais encontrou seu pai, e os Monstroides jamais foram derrotados. Straczynski ainda tentou convencer o estúdio a fazer um longa-metragem, ao estilo do dos Transformers e dos Comandos em Ação, no qual Jayce finalmente encontraria Auric e eles usariam a raiz para derrotar Saw Boss, encerrando a série, mas não teve jeito.

Esse post seria originalmente encerrado pelo parágrafo acima, mas antes disso, eu gostaria de falar de um outro desenho dos anos 80 produzido pela DIC, Pole Position. Na verdade, quando decidi que faria mais um post sobre desenhos dos anos 80, Pole Position foi o primeiro que me veio à mente, e não Jayce. Só que, quando fui reunir informações sobre ele, percebi que talvez ele não desse um post satisfatório. Foi só após reler alguns posts antigos que a ideia de falar sobre Jayce me ocorreu. Enquanto escrevia o post, decidi que o melhor seria não descartar Pole Position, mas falar sobre ambos. Então vamos lá.

Pole Position também é uma criação de Chalopin, que, desta vez, decidiu basear-se não em uma linha de brinquedos, mas em um game que alcançou certa popularidade na época, também chamado Pole Position, lançado em 1992 pela Namco para arcades e mais tarde adaptado para Atari 2600, Atari 5200, Intellivision e para vários computadores da década de 1980, como o Commodore 64 e o ZX Spectrum. No jogo, o jogador assumia o papel de um piloto de Fórmula 1, correndo no circuito de Fuji, no Japão. Primeiro, ele deveria fazer a volta o mais rápido possível, e então, dependendo de seu tempo, disputava a corrida em si, contra outros carros controlados pelo computador.

Pole PositionChalopin poderia ter simplesmente chamado seu desenho de Pole Position para pegar carona na popularidade do jogo, mas ele preferiu fazer a coisa da forma oficial, obtendo um licenciamento da Namco para produzir um desenho baseado no jogo. O problema é que Chalopin era um tanto criativo demais, e o desenho acabou sem ter absolutamente nada a ver com o jogo, ao ponto de a única coisa em comum entre ambos ser o nome.

O desenho é estrelado por três jovens irmãos, sendo dois deles dublês profissionais. Sem que eles soubessem, seus pais eram agentes secretos, combatendo o crime com carros de alta tecnologia, disfarçados como a Equipe de Acrobacias Pole Position. Um dia, os pais morrem em um misterioso acidente automobilístico, e o Dr. Zachary Darrett, chefe da operação, engenheiro que projetou os carros e tio dos jovens, decide convocá-los para assumir seu lugar. Cada um dos dois jovens mais velhos, então, recebe um dos carros da equipe, e, acompanhdos pela irmã mais nova e por um estranho bichinho de estimação, se tornam a nova equipe Pole Position.

A líder da equipe é a irmã mais velha, Tess, que dirige Wheels, um Ford Mustang 1965 adaptado, na cor vermelha. O irmão do meio, Dan, dirigirá Rodão (Roadie no original; curiosamente, wheels é que significa "rodas", enquanto roadie seria algo como "estradinha"), um carro esporte de aparência futurista, na cor azul. Cada carro conta com um módulo de controle computadorizado, altamente inteligente, que se parece com um monitor com dois olhos, um nariz e uma boca desenhados na tela. O módulo controla todas as funções do carro, cabendo aos irmãos apenas dirigir, faz comentários sobre a missão e sobre a vida particular dos motoristas, e ainda tem sua própria personalidade, com Wheels sendo cauteloso e frequentemente reclamando que "está velho demais para isso", enquanto Rodão é jovial e um tanto irresponsável, apesar de bastante esperto. Os módulos podem ser desconectados dos carros e carregados como maletas, e, sem eles, os carros se tornam veículos comuns. Cada carro também tem dois "modos alternativos", o anfíbio, no qual as rodas são substituídas por esquis, e o hovercraft, no qual as rodas ficam na horizontal e duas pequenas asas se abrem no teto, o que dá ao carro uma certa capacidade de voo. Além de Tess, Dan e dos carros, fazem parte da equipe, informalmente, a irmã mais nova, Daisy, uma pré-adolescente muito esperta e, como de costume, propensa a se envolver em problemas; e Faísca (Kuma no original), o bichinho de estimação de Daisy, um produto da engenharia genética que parece uma cruza de macaco e guaxinim, e aparenta ter uma certa inteligência - embora, felizmente, não fale.

A Equipe Pole Position não possui inimigos fixos - em outras palavras, o desenho não tinha uma equipe de vilões - atuando como agentes secretos em missões estabelecidas pelo Dr. Darrett. A maioria delas, evidentemente, envolvia corridas, perseguições automobilísticas ou longas viagens, talvez para que os carros pudessem compensar o grande investimento feito.

Pole Position é um ano mais velho que Jayce, tendo estreado em 1984 no canal CBS. Infelizmente, o desenho não fez nenhum sucesso, sendo cancelado após apenas 13 episódios, exibidos entre 15 de setembro e 8 de dezembro daquele ano. Eu achei muito curioso que tenham sido produzidos apenas 13 episódios, porque, quando eu o assistia quando criança, podia jurar que eram mais de cem. Talvez fossem as reprises, ou talvez eu não prestasse muita atenção - o que também é muito curioso, porque eu me lembro que adorava o desenho, principalmente a música da abertura.

7 comentários:

  1. Putz, não acredito que finalmente alguem sabe desse desenho.(Jayce).. Tentava explicar pros meus amigos de um desenho de monstros-planta com carros que saiam de plantas gigantes que germinavam de repente e lógico que nínguem sabia! VALEU MESMO!!! (o carro com "pelotas de mamona giratória) em cima era meu favorito!!!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu assistia Jayce, a trilha sonora, a abertura do desenho, aquilo sim era infância. Agora fiquei decepcionado por não ter final.

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  4. A triste verdade é que quase nenhum desses desenhos dos anos 80 tem final. Quando paravam de fazer sucesso, eles eram cancelados e pronto.

    Até por isso, nunca entendi a fixação em se inventar um final para Caverna do Dragão.

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  5. Como eu assisti Jayce, e sei como vice passou ao explicar sobre esse desenho e ninguém se lembrar. Época boa com desenhos e animes fantástico tempos bons do Sbt

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  6. Como eu assisti Jayce, e sei como vice passou ao explicar sobre esse desenho e ninguém se lembrar. Época boa com desenhos e animes fantástico tempos bons do Sbt

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  7. O que mais gosto no seu blog é que ele é muito rico em detalhes , personagens heróis e viloes e a leitura fica gostosa é a gente vai relembrando como era o desenho é ao mesmo tempo se divertindo.
    Parabéns.

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