terça-feira, 31 de agosto de 2010

Escrito por em 31.8.10 com 1 comentário

Coupling

Semana passada, eu fiz aqui um post sobre Friends, que me deixou com vontade de escrever um sobre Coupling. Antes que alguém estranhe, vale dizer que eu comecei a assistir Coupling justamente porque me disseram que se parecia com Friends. Acabei descobrindo que não se parecia tanto assim - praticamente a única semelhança entre ambas é o fato dos protagonistas serem seis amigos, três homens e três mulheres, sendo dois deles um casal problemático - mas também passei a gostar muito da série. E, por alguma razão, frequentemente, quando falam em um, eu associo com o outro.

cima: Jane, Patrick, Sally; baixo: Susan, Steve, Jeff


Coupling não é tão famoso quanto Friends - ok, poucas séries são, mas isso não vem ao caso agora. Trata-se de uma série de TV inglesa, produzida pela BBC e exibida no início dos anos 2000. A série foi criada por Steven Moffat, roteirista e produtor escocês que hoje deve ser conhecido dos fãs de Doctor Who, já que assumiu os roteiros da série em 2009. Moffat tirou a ideia da série de seu próprio relacionamento com Sue Vertue, que também foi produtora de Coupling, e antes havia sido de Mr. Bean. De fato, a vida amorosa de Moffat e Vertue era uma inspiração tão forte para os roteiros de Coupling que ele decidiu até batizar dois dos personagens com seus primeiros nomes, Steve e Susan. Moffat, inclusive, era recorrente nessa técnica, já que, em 1993, ele havia usado o fim de seu primeiro casamento como inspiração para criar a série Joking Apart.

Diferentemente de Friends, que era uma série sobre amizade, Coupling era uma série sobre sexo. Todos os personagens representam aspectos da vida sexual de um casal, como a confiança e a paranoia. Segundo Moffat, ele tentava não inserir piadas prontas no roteiro, preferindo que as próprias situações vividas pelos personagens dessem a tônica do humor. Ele também dizia que a série era bastante difícil de se escrever, como se ele estivesse escrevendo para um único personagem baseado em si mesmo seis vezes por episódio, mas que, surpreendentemente, o primeiro resultado normalmente era um roteiro pronto para ser filmado, precisando de muito poucas alterações. Segundo Vertue, Moffat escrevia os episódios no andar de cima da casa onde moravam, e ela os revisava no andar de baixo, o mais longe possível dele, para que ele não ouvisse as risadas.

Também diferentemente de Friends, Coupling não dá o mesmo peso a todos os seis personagens, sendo Steve e Susan claramente os protagonistas. Steve Taylor (Jack Davenport) é um escritor que se vê como politicamente correto, mas acaba passando por momentos de canalhice durante seus relacionamentos amorosos. No início da série, ele conhece Susan Walker (Sarah Alexander), uma economista de grande sucesso profissional, mas muito insegura em relacionamentos. Ao longo da série o relacionamento entre Steve e Susan passará por diversas fases, pontuadas por muitos problemas causados pelo fato de que eles raramente concordam sobre um mesmo assunto.

Antes de começar a namorar Susan, Steve namorava Jane Christie (Gina Bellman), moça extremamente possessiva, pouco esperta, que alega ser bissexual - embora nunca ninguém a tenha visto namorando outras mulheres - e adota uma postura agressiva diante dos homens, o que faz com que ela tenha alguns problemas em seus relacionamentos. Já o ex-namorado de Susan, Patrick Maitland (Ben Miles), é viciado em sexo, conquistador, mulherengo, e até bastante inteligente, mas que tem o péssimo hábito de falar sem pensar, o que o torna um tanto desagradável. Depois que Steve e Susan começam a namorar, Susan e Jane e Steve e Patrick se tornam amigos.

Completam o sexteto o melhor amigo de Steve, Jeff Murdock (Richard Coyle), um contador atrapalhado e totalmente inepto com as mulheres, principal apoio cômico da série; e a melhor amiga de Susan, Sally Harper (Kate Isitt), dona de um salão de beleza obcecada com sua aparência e extremamente preocupada com o fato de estar envelhecendo, o que acaba causando - adivinhem - problemas em seus relacionamentos amorosos. No decorrer da série, Sally e Patrick acabam se tornando namorados.

Assim como Friends, os episódios de Coupling eram filmados quase todos em estúdio, com pouquíssimas externas, e diante de uma plateia que fazia as vezes de claque, nos estúdios Teddington, em Londres. Um comediante contratado pela produção fazia um show de abertura para a plateia antes da gravação de cada episódio. Esse comediante também atualizava a plateia sobre o enredo da série até então, e a entretinha enquanto câmeras e cenários eram reposicionados. Algumas cenas com externas ou particularmente difíceis de serem filmadas eram gravadas com antecedência, sem a plateia, e depois exibidas em um telão durante a gravação principal. Em uma entrevista, Moffat confessou que não se sentia à vontade com a gravação diante de uma plateia, pois jamais sabia como ela iria reagir a cenas que ele considerasse especialmente engraçadas.

Coupling também fez uso de artifícios pouco comuns para sitcoms: grande parte do quinto episódio da primeira temporada, por exemplo, era falado em hebraico, pois a história girava em torno da atração de Jeff por uma garota israelense que não falava inglês. O primeiro episódio da terceira temporada, ambientado logo após a separação de Steve e Susan, tinha a tela dividida no meio, e mostrava simultaneamente o dia de Steve e o de Susan ao espectador. Já o primeiro episódio da quarta temporada não tinha uma única história de 30 minutos, mas uma mesma história de nove minutos e meio contada e recontada sob a perspectiva de três casais diferentes.

Falando em temporadas, as séries de TV inglesas não costumam ter temporadas longas como as norte-americanas; nesse aspecto, elas se parecem mais com as brasileiras, com temporadas curtas, de poucos episódios - e lá, eles não se referem a elas como "temporadas", mas como "séries", tipo "primeira série", "segunda série" etc. Por causa disso, Coupling teve quatro temporadas (ou séries), mas apenas 28 episódios.

A primeira temporada, que estreou em 12 de maio de 2000 na BBC Two, segundo canal aberto da Rede BBC, teve 6 episódios. Ela começa com Steve se separando de Jane e Susan se separando de Patrick, e então Susan e Steve se conhecem. Depois, Sally é apresentada a Patrick, e Jeff dá em cima de várias mulheres aleatórias. Curiosamente, Jill (Elizabeth Marmur), a terapeuta de Jane, seria uma personagem recorrente, mas ela acabou aparecendo apenas em um episódio, voltando para uma participação especial em um episódio da quarta temporada.

A história continua mais ou menos a mesma na segunda temporada, de 9 episódios, que estreou em 3 de setembro de 2001, também na BBC Two, e cujos pontos altos foram uma festa à qual Jane decidiu ir vestida apenas com um casaco, e um encontro entre Steve e a jornalista da vida real Mariella Frostrup. A segunda temporada também introduz uma personagem recorrente, Julia Davis (Lou Gish), que seria namorada de Jeff até o final da terceira temporada.

Na terceira temporada, de mais 7 episódios, que estreou em 23 de setembro de 2002, ainda na BBC Two, Steve e Susan se separam, mas no último episódio ela se descobre grávida. Além de Julia, James (Lloyd Owen), o apresentador de um programa de rádio religioso por quem Jane se apaixona, é um personagem recorrente nessa temporada.

Após a terceira temporada a série teve um hiato, durante o qual foi produzida uma versão norte-americana, que a NBC planejava exibir como o sucessor de Friends. O planejamento inicial era que a versão, com atores norte-americanos e ambientada nos Estados Unidos, fosse uma regravação literal da original, com apenas alguns cortes, já que cada episódio da original tinha por volta de 29 minutos, e um episódio de uma série norte-americana de meia hora tem por volta de 24 minutos (os outros 6 sendo dedicados a comerciais, coisa que a BBC, acreditem ou não, não tem).

Apesar de uma campanha maciça de marketing, a versão norte-americana de Coupling, que estreou em 25 de setembro de 2003, foi um imenso fracasso. Um dos motivos foi que, desde a estreia, crítica e público se apressaram em dizer que a série era uma cópia malfeita da original - a BBC America, aliás, chegou a "ameaçar" exibir cada episódios original logo após cada episódio da versão ser exibido na NBC, apenas para provar aos telespectadores que o original era muito superior. Outro motivo foi que a série foi considerada "indecente" e "inapropriada" para a TV aberta norte-americana, com várias afiliadas da NBC se recusando a exibi-la. O resultado foi que, dos 11 episódios gravados, apenas 4 foram ao ar antes do cancelamento da série.

Após o fiasco da versão norte-americana, a BBC entrou em negociações com Moffat para uma quarta temporada. Richard Coyle não aceitou renovar para interpretar Jeff mais uma vez, e a saída foi criar um novo personagem, Oliver Morris (Richard Mylan), dono de uma loja de livros e memorabilia de ficção científica igualmente inepto com as mulheres, mas que se vê como um grande conquistador, e acaba tendo um relacionamento com Jane. Tamsin (Olivia Caffrey), a namorada irlandesa de Oliver, também é uma personagem recorrente na quarta temporada, se tornando amiga de Susan.

A quarta temporada estreou em 10 de maio de 2004 na BBC Three, principal canal a cabo da Rede BBC, e teve 6 episódios, focados na gravidez de Susan e nos namoros de Patrick com Sally e de Jane com Oliver. Mesmo com a quarta temporada não tendo uma boa audiência - sendo um dos motivos mais citados pelos fãs a ausência de Jeff - a BBC estava disposta a tentar emplacar uma quinta, e chegou a entrar em negociações com Moffat para que as gravações começassem em 2005. Mas a impossibilidade de se renovar com o elenco, a essa altura já envolvido com outros projetos, acabou levando ao cancelamento definitivo da série.

Em 2007, a emissora grega ANT1 também tentou fazer uma versão da série, com elenco grego e ambientada em Atenas, que estreou em 15 de novembro daquele ano. Assim como a versão norte-americana, ela seria uma regravação literal da série inglesa. Também como a norte-americana, ela acabou sendo um fracasso, e teve apenas 10 episódios gravados - mas pelo menos todos foram exibidos antes do cancelamento.

No geral Coupling foi um grande sucesso, e é até hoje considerado uma das melhores sitcoms da BBC, tendo sido lançado em DVD em diversos países - infelizmente, aqui no Brasil, ninguém ainda se habilitou a lançar, embora eu tenha esperanças de que um dia isso aconteça. Falando nisso, aqui no Brasil a série podia ser assistida no Eurochannel, que era onde eu assistia, mas não sei se ainda pode, pois já não tenho esse canal há um bom tempo. Se você tem, e é fã de sitcoms, vale a pena ver se ainda passa, assim como vale a pena dar uma chance à série. É bem provável que você goste.

Um comentário:

  1. Essa série é muito boa mesmo. Uma das minhas preferidas. Assitia sempre no Eurochannel. Mas como vc, eu não tenho mais esse canal.

    ResponderExcluir